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Comandante da UPP da Rocinha combinou com PMs versão sobre sumiço de Amarildo, diz rádio

Do UOL, em São Paulo

07/10/2013 17h08

Escutas telefônicas feitas pela Divisão de Homicídios do Rio de Janeiro revelaram que o major Edson dos Santos, ex-comandante da UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) da Rocinha, na zona sul da capital fluminense, marcou um encontro de emergência com policiais envolvidos no desaparecimento do pedreiro Amarildo de Souza, 47, para discutir o que seria dito aos investigadores do caso. Foi o que apontou a rádio CBN, que teve acesso aos materiais da investigação.

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"A coragem que tempera o inquérito do caso Amarildo é inversamente proporcional ao destaque diminuto que as conclusões policiais receberam nos meios de comunicação: parece que se trata apenas de mais uma peça produzida pela Polícia Civil do Rio"

Depois de prestar depoimento por 12 horas na Polícia Civil, o major, como apontou a reportagem, ligou para o policial Douglas Vital e pediu para que reunisse a equipe no batalhão para o que chamou de "festa de despedida". Mas, de acordo com as investigações, a ideia era reunir todos para combinar o mesmo relato. E, após o encontro, todos os PMs apresentaram a mesma versão do caso.

As mais de mil horas de conversas telefônicas gravadas também comprovaram que os policiais teriam assediado e ameaçado testemunhas para que deixassem a comunidade. "O major tinha falado para mim, caso o bagulho demorasse a sair, ele mesmo ia ver uma parada para mim", disse um morador a um policial não identificado sobre uma suposta casa que o major Edson dos Santos teria prometido arranjar.

A Divisão de Homicídios ouviu ao todo 133 testemunhas, reuniu 16 horas de filmagens e monitorou 20 pessoas através de escutas telefônicas. A Justiça do Rio já decretou a prisão preventiva do major Edson Santos e de outros nove policiais, acusados de tortura seguida de morte e ocultação de cadáver de Amarildo. 

Diálogos comprovam envolvimento de PMS

O diálogo entre um policial militar e sua namorada é uma das confirmações, segundo a polícia, de que os dez PMs indiciados no caso usaram todos os meios necessários para não deixar provas concretas do homicídio do morador da Rocinha.

Segundo consta no inquérito de 2.000 páginas, o PM Marlon Campos Reis disse à namorada, depois de depoimento, que "eles já sabem tudo o que aconteceu, só não têm provas". O delegado Rivaldo Barbosa, titular da Delegacia de Homicídios do Rio de Janeiro, diz não ter dúvidas de que os agentes são os responsáveis pelo sumiço, tortura e morte do pedreiro.