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Protesto marca um mês do desaparecimento de Amarildo no Rio; relembre o caso

Reynaldo Vasconcelos/Futura Press
Imagem: Reynaldo Vasconcelos/Futura Press

Gustavo Maia

Do UOL, no Rio

14/08/2013 09h10

O desaparecimento do ajudante de pedreiro Amarildo Dias de Souza, 43, completou nesta quarta-feira (14) um mês sem qualquer avanço na investigação ou informação oficial sobre seu paradeiro. Desde o dia 14 de julho, quando foi visto pela última vez, seu nome virou um símbolo da violência no Rio de Janeiro e provocou uma série de manifestações pelo Brasil e pelo mundo. Hoje, mais uma vez, familiares e moradores da Rocinha organizam a partir das 18h um protesto na comunidade para chamar a atenção para o caso.

Segundo a mulher dele, Elizabete Gomes, Amarildo foi levado por PMs da porta da casa onde o casal mora com os seis filhos até a base da UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) da Rocinha, favela da zona sul ocupada em novembro do ano passado, "para averiguação".

De acordo com o comandante da unidade, major Edson dos Santos, ele foi liberado em seguida, quando se constatou que ele havia sido confundido com outra pessoa, e deixou o local caminhando. O pedreiro nunca mais foi visto. 

As duas câmeras de monitoramento da base da UPP, que poderiam confirmar a versão do oficial, não estavam funcionando naquela noite. Os equipamentos de GPS (Sistema de Posicionamento Global, por satélites) dos carros da unidade que levaram Amarildo até a base também estavam desligados. Não foi possível saber, portanto, o trajeto percorrido.

Elio Gaspari: O capitão Nascimento e Amarildo

O que aconteceu a Amarildo? As câmeras da UPP da Rocinha tiveram uma pane e não registraram sua saída do prédio onde estivera detido. Tudo bem, Rubens Paiva fugiu da escolta do DOI e, depois de outubro de 1973, cerca de quarenta guerrilheiros foram resgatados no Araguaia por um disco voador albanês.

A Divisão de Homicídios da Polícia Civil trabalha com a hipótese de assassinato, cometido por policiais militares da UPP ou por traficantes de drogas da região.

A repercussão do sumiço acabou arranhando a imagem da UPP da Rocinha e coincidiu com o momento de mais baixa popularidade do governador Sérgio Cabral (PMDB), que tem sido alvo de protestos quase diários.

A Polícia Militar também entrou na mira das manifestações. Em diversos atos, manifestantes provocaram PMs gritando "Cadê o Amarildo?". O nome do ajudante de pedreiro se proliferou em cartazes e muros da cidade.

No dia 18 de julho, quatro policiais militares da UPP da Rocinha foram afastados de suas funções operacionais. Nas últimas semanas, houve troca de comando na corporação. Saiu o coronel Erir Costa Filho, exonerado, e entrou o coronel José Luís Castro Menezes.

O novo comandante da PM informou que o sumiço de Amarildo gerou investigação interna, mas disse ao UOL que não há motivo para punir policiais que levaram Amarildo.

Investigações

Inicialmente sob o comando do delegado Orlando Zaccone, titular da delegacia da Gávea (15ª DP), as investigações do desaparecimento de Amarildo foram repassadas no último dia 31 para a Divisão de Homicídios, liderada pelo delegado Rivaldo Barbosa.

CÂMERAS NÃO FUNCIONARAM

  • Alessandro Buzas/Futura Press

    A ONG Rio de Paz colocou manequins na praia de Copacabana, na zona sul, em protesto contra o desaparecimento de Amarildo

  • As câmeras da UPP da Rocinha pararam de funcionar no mesmo dia em que Amarildo foi levado para lá por policiais "para averiguação". O relatório da empresa Emive mostra que, das 80 câmeras instaladas na favela, apenas as 2 da sede da UPP apresentaram problemas. MAIS

Na semana passada, o ex-delegado adjunto da 15ª DP, Ruchester Marreiros, pediu a prisão preventiva da mulher de Amarildo. Nas suas investigações, ele indicava o envolvimento do casal com o tráfico na comunidade. O relatório foi desconsiderado pelo delegado Zaccone.

Elizabete negou as acusações e disse que elas têm como objetivo desviar o foco de atenção das investigações sobre o desaparecimento do marido.

Reconhecimento da morte

A mulher de Amarildo já afirmou ter certeza de que não voltará a ver o marido com vida. "Já procuramos em tudo o que é lugar e não tivemos resposta de nada. Tenho certeza de que meu marido está morto", declarou no dia 24 de julho, quando foi recebida pelo governador Sérgio Cabral.

No último dia 5, a família pediu ao Tribunal de Justiça do Estado do Rio o reconhecimento da morte presumida de Amarildo para lavrar a certidão de óbito e para que os familiares entrem com um pedido de pensão junto ao governo do Estado.

A polícia também já demonstrou não acreditar que ele esteja vivo. Nos últimos dias 7 e 8, foram realizadas buscas pelo corpo de Amarildo em uma mata próxima à sede da UPP da Rocinha e no aterro sanitário de Seropédica, na região metropolitana do Rio.

"PIOR DIA DA VIDA"

Segundo a sobrinha de Amarildo, Michele Lacerda, a família teve o "pior dia da vida" na noite desta terça-feira (30), com a notícia de que o corpo encontrado por policiais militares em um valão na comunidade não era de Amarildo, mas, sim, de uma mulher

Ameaças

Com medo de sofrerem represálias, familiares chegaram a aceitar a inclusão da família no programa de proteção a testemunhas do governo do Estado, mas recusaram dias depois, já que teriam que deixar a favela onde sempre moraram. Eles chegaram a passar um período fora da comunidade, mas voltaram no último sábado (10).

Nesta terça (13), uma irmã de Amarildo disse, em depoimento na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, que PMs da UPP da Rocinha intimidam os familiares que buscam respostas sobre o sumiço.

Reações

O caso também gerou reações de artistas como o ator Wagner Moura e o cantor Caetano Veloso. No sábado (10), ao receber um prêmio no Festival de Cinema de Gramado (RS), Moura cobrou esclarecimentos sobre o paradeiro de Amarildo.

No dia seguinte, Caetano mencionou o caso em sua coluna no jornal “O Globo”. No texto, o baiano classificou o sumiço do morador da Rocinha como “o acontecimento mais impactante nesse período de eventos marcantes na cidade".

Também no domingo (11), quando se comemorou o Dia dos Pais, a Anistia Internacional promoveu na Rocinha um ato de solidariedade à família do pedreiro, com a presença da mulher e dos seis filhos dele.