Nordeste tem o maior percentual da geração 'nem-nem'
Região do país com maior percentual da geração “nem-nem”, o Nordeste tem 23,9% dos jovens entre e 15 e 29 anos que não estudam, nem trabalham. Os dados são do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) e foram divulgados nesta sexta-feira (29).
Os relatos de gente que se encaixa nesse perfil, geralmente mulheres (que respondem por 70% dos "nem-nem"), vão sempre na linha da falta de oportunidade ou a chegada de filhos.
Em Alagoas, a média registrada é a maior da região, com 27,4% do total de jovens integrantes da geração "nem-nem" --quase oito pontos percentuais a mais que a média nacional, que ficou em 19,6% do total de pessoas entre 15 e 29 anos.
Sonho de cursar psicologia
Aos 18 anos, Camilla Silva mora em Batalha, no sertão de Alagoas, e espera cursar psicologia no próximo ano. Para isso, terá de deixar a cidade e ir para Arapiraca, a 57 km, local mais próximo onde tem o curso.
Silva concluiu o ensino médio em 2012, tentou ingressar na Ufal (Universidade Federal de Alagoas), mas a nota no Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) não foi suficiente.
“Terceiro ano sabe como é, né? Não é o ano do estudo. Eu fiz [o Enem], mas não foi legal minha pontuação. Se eu tivesse realmente me esforçado mais, teria tido pontuação melhor. Agora estou esperando o resultado do Enem. Mas tenho fé que consigo a vaga este ano”, afirmou.
Para não ficar parada, ela conta que ajuda no empreendimento da família. “É só pra não ficar em casa sem fazer nada. Eu ajudo, como atendente, na loja de fardamentos. Não ganho salario, é loja da família. Vim para ter experiência também. Anoto os pedidos e passo para o dono. Teria oportunidade em lojas do centro aqui, mas quero muito estudar primeiro”, disse.
Sem chance de trabalho
A dona de casa Ana Paula Alves, 29, mora na periferia de Maceió, e não estuda, nem trabalha há pelo menos cinco anos.
Ela afirmou que concluiu o ensino médio, mas, depois que a primeira filha nasceu, em 2009, não conseguiu mais trabalhar. Com a chegada da segunda filha, as chances de Ana Paula trabalhar fora de casa diminuíram ainda mais.
“Se eu conseguir um emprego, não tenho com quem deixar as meninas. Se eu arrumar alguém para cuidar delas, não vai compensar, pois vou terminaria repassando o que ganhasse no emprego para a babá delas. Então a gente vai se virando com o dinheiro do Bolsa Família”, disse.
Com R$ 134 de renda, Ana Paula diz que consegue comprar comida, roupas, calçados e até algum brinquedo para as duas filhas, de dois e quatro anos.
“Todo mês compro comida e, com o que sobra, compro roupa. No outro mês compro o calçado e por aí vai. Não vivemos bem, mas não passamos fome. Conseguimos sobreviver”, disse a jovem, destacando que pretende trabalhar em 2014 quando colocar as duas filhas na escola.
“Estou sem trabalhar temporariamente, pois quando minha filha mais velha tiver com cinco anos eu consigo uma vaga na escola e a outra numa creche, assim vou poder trabalhar fora e ganhar meu dinheiro”.
Deixando a faculdade
A jovem Amanda Lima, 22, teve um dilema parecido e entrou nas estatísticas do nem-nem quando cursada o 7º período da faculdade de direito, em Maceió.
Em julho, quando seu filho nasceu, ela conta que largou o curso e não pôde mais retornar. “Quando terminou a licença-maternidade tentei retornar, deixando o bebê com minha irmã, mas ela não tinha muito jeito, não tinha as manhas de cuidar de criança. Mas pretendo voltar no próximo ano, para terminar a faculdade e fazer a prova da OAB [Ordem dos Advogados do Brasil]”, disse.
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