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Amarildo é eleito patrono de turma de arquitetura em formatura na UFF

Do UOL, no Rio

02/12/2013 15h58

Formandos do curso de Arquitetura e Urbanismo da UFF (Universidade Federal Fluminense) elegeram como patrono da turma o pedreiro Amarildo de Souza, que desapareceu na favela da Rocinha, na zona sul do Rio de Janeiro, em julho deste ano, após ser abordado por policiais militares. A cerimônia de colação de grau ocorreu na última sexta-feira (29).

Nas redes sociais, a iniciativa dos arquitetos e urbanistas recém-formados recebeu vários elogios. Por meio do Facebook, os jovens divulgaram um texto no qual justificam a escolha por Amarildo, que, segundo investigação da DH (Divisão de Homicídios), teria sido torturado e morto por PMs da UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) da Rocinha.

POLÍTICA HIGIENISTA

Saber da prisão, tortura e morte de Amarildo implica em ter o dever de saber da política pública de segurança higienista, da violência policial injustificada e injustificável. Do projeto de segurança e de cidade que extermina a juventude pobre, negra e favelada. Amarildo não foi o primeiro

Texto da turma de formandos de Arquitetura e Urbanismo da UFF (Universidade Federal Fluminense)

"(...) Pensar no pedreiro Amarildo é pensar no trabalho alienante (no escritório e no canteiro), na divisão social do trabalho, na mão-de-obra executora, afastada do conhecimento. Em uma realidade que reserva a nós, arquitetos, um diploma em mãos, e a ele sacos de cimento nos ombros", diz o texto.

"Mas é também pensar na potência da autoconstrução, do conhecimento encarnado de quem todos os dias experimenta, improvisa, se desdobra e constrói um saber arquitetônico que a academia não ensina", completa.

Segundo o universitário Bruno Amadei Machado, que escreveu a carta em parceria com a colega de turma Luana Fonseca, nomes importantes da arquitetura e do urbanismo, como Oscar Niemeyer e Lúcio Costa, foram preteridos.

"Por um semestre, rejeitamos Niemeyer, Lúcio Costa, Paulo Mendes da Rocha ou Lina Bo Bardi. Nesse momento, escolher qualquer um que não fosse o Amarildo seria fechar o olho pra tudo que acontece à nossa volta. Feliz com a decisão coletiva, espero que nossos olhos continuem abertos mirando a cidade", escreveu o jovem em sua página no Facebook.

CÂMERAS NÃO FUNCIONARAM

  • Alessandro Buzas/Futura Press

    A ONG Rio de Paz colocou manequins na praia de Copacabana, na zona sul, em protesto contra o desaparecimento de Amarildo

  • As câmeras da UPP da Rocinha pararam de funcionar no mesmo dia em que Amarildo foi levado para lá por policiais "para averiguação". O relatório da empresa Emive mostra que, das 80 câmeras instaladas na favela, apenas as 2 da sede da UPP apresentaram problemas. MAIS

Desaparecido desde 14 de julho

O pedreiro Amarildo de Souza está desaparecido desde o dia 14 de julho, quando foi levado de sua casa à sede da Unidade de Polícia Pacificadora da Rocinha "para averiguação".

Vinte e cinco PMs foram denunciados pelo Ministério Público do Rio por envolvimento no sumiço da vítima, entre os quais o major Edson Santos, então comandante da UPP, e o tenente Luiz Felipe de Medeiros, então subcomandante da unidade.

Na última semana, a Justiça do Estado negou habeas corpus em favor do major e do tenente. Com a decisão, eles continuarão presos no presídio Petrolino Werling de Oliveira, Bangu 8, no Complexo de Gericinó, zona oeste da cidade.

Inicialmente, eles foram levados para o Batalhão Especial Prisional (BEP) da PM, em Benfica, na zona norte da capital fluminense, com os demais denunciados, mas a pedido do Ministério Público estadual, a 35ª Vara Criminal da Capital, onde a ação penal tramita, que eles fossem removidos para Bangu 8.