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Procura-se uma praia: praticantes de nudismo buscam espaço no litoral paulista

A praia de nudismo mais próxima de São Paulo é Abricó, que fica na Praia de Grumari, no Rio de Janeiro - Divulgação
A praia de nudismo mais próxima de São Paulo é Abricó, que fica na Praia de Grumari, no Rio de Janeiro Imagem: Divulgação

Geiza Martins

Do UOL, em São Paulo

27/12/2013 07h00

A FBrN (Federação Brasileira de Naturismo) está em busca de um lugar no litoral paulista para virar a 9ª praia de nudismo no Brasil. Até hoje existem legalmente oito lugares à beira mar em que a nudez é permitida. Nenhum deles fica dentro de São Paulo --o Estado mais populoso do país, com 43,6 milhões de habitantes, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), e com a maior concentração de naturistas: cerca de 2.000 pessoas certificadas pela FBrN.

A praia de nudismo mais próxima, Abricó, fica no Rio de Janeiro. "Viajar até lá para praticar o naturismo não é muito prático e nem viável financeiramente", afirma Renata Freire, presidente do Conselho Maior FBrN e membro da entidade responsável por acompanhar o projeto Praia Naturista Região Sudeste. Moradora de Campinas (93 km de São Paulo), Renata afirma que seu grupo costuma se reunir mensalmente durante o final de semana em chácaras.

A necessidade de uma praia vem da própria definição de naturismo: um modo de vida em harmonia com a natureza, caracterizado pela prática da nudez social. Ou seja, sem apelo sexual. “Não há nada de sexo. Somos respeitosos com as pessoas e entre nós, gostamos de praticar esportes e curtimos a praia como todos gostam de curtir”, diz Renata. Entretanto, não existe uma lei federal que assegure os direitos dos naturistas, eles são regidos por leis municipais. Geralmente, o pedido para transformar uma praia em naturista é feito às prefeituras. Depois disso, ela debate com a população e pode aprovar ou rejeitar.

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Praia Brava: negociações interrompidas

A procura por uma praia se dá após um projeto frustrado de transformar em naturista a Praia Brava, em São Sebastião, litoral norte de São Paulo. Localizada ao lado da praia de Boiçucanga, trata-se de um espaço de ondas fortes, pouco frequentada principalmente por causa ao difícil acesso. Lá só se chega por uma trilha de 2 km, com subidas e descidas íngremes, ou de barco. Há quase quatro anos, grupos praticantes tentavam se introduzir na comunidade local e divulgar os princípios do naturismo. Entretanto, depois de um início próspero e de diálogos abertos, moradores se demonstraram contrários à ideia.

“Tivemos um bom início de contato com reunião com a associação e apresentação de vídeo mostrando nossa prática. Também visitamos a praia ao lado de um guia oferecido pelos próprios moradores que, inclusive carregaram lanches e bebidas para comprarmos na praia e fazermos um piquenique”, diz. Entretanto, após a visita, os moradores locais não concordaram em dividir o lugar. Em dezembro deste ano, um grupo naturista de 24 pessoas, entre elas crianças, foi convidado a se retirar da Praia Brava.

Eliane Bortoluzzi, moradora de Boiçucanga, local próximo à Praia Brava, é uma das pessoas que são contra o nudismo na região. "Moro muito perto e frequento a Praia Brava com a minha filha adolescente. Também há muitos jovens que visitam e até passeios de escola, com crianças. Não sou a favor de se transformar em praia naturista", diz. Uma outra moradora, que prefere não se identificar, aponta outro motivo: "Esse é um parque estadual, uma reserva. A lei não permite nenhum tipo de atividade que não preserve o parque. Isso não pode mudar. Sou contra qualquer tipo de movimentação. As poucas pessoas que frequentam a trilha já deixam lixo.”

Contudo, os naturistas encontram simpatizantes entre alguns moradores, principalmente os que trabalham com serviços de turismo, como Mauro Moreira, morador de Boiçucanga e proprietário do Porangaba Camping. “Acho que atrairia mais turistas, principalmente um público segmentado. Não é muita gente que frequenta a Praia Brava, pois não é fácil de chegar nela”, afirma. O morador José Benedito dos Santos, que faz passeios de barco para o lugar, também apoia a causa. “Não acho que os naturistas prejudicariam. Frequentar a praia sem roupas, para mim, está tudo bem. Seria maravilhoso ver gente bonita numa praia linda”, afirma.

A Prefeitura de São Sebastião se mantém imparcial. “A posição do município não está formada”, afirma Marianita Bueno, secretária de Cultura e Turismo de São Sebastião. Segundo Marianita, isso acontece por causa da falta de uma lei estadual --a praia pertence à área de proteção ambiental do Parque Estadual Serra do Mar. “Uma praia de naturismo exige a aprovação de uma lei numa Câmara Municipal e audiências públicas para debater com a população. Isso não aconteceu em São Sebastião”, diz a secretária.

Questionada sobre a possibilidade do naturismo fomentar o turismo na região, Marianita se mostrou cética. “Queria ver uma pesquisa de outras praias de naturismo para saber o quanto aumentou o número de turistas. Nós recebemos 1,5 milhão de visitantes por ano em São Sebastião. Não sei se faria muita diferença um grupo pequeno de 20 frequentadores a mais”, afirma. Diante do debate, a FBrN preferiu recuar e pausar as negociações. “Não desistimos, mas precisamos de um tempo em silêncio para podermos avaliar outros espaços que possam nos atender”, diz Renata.

A praia perfeita

Orla tranquila, areia deserta, com poucos moradores e número pequeno de frequentadores. Se estiver cercada por costões, encostas de morros ou por árvores e mato alto, ainda melhor. O acesso um pouco mais difícil também é um quesito importante. “Geralmente, os frequentadores de lugares menos acessíveis não se incomodam com a nudez. Alguns são até adeptos de tomar sol de corpo inteiro”, afirma Renata.

Antes de efetuar um pedido de legalização de nudismo a uma prefeitura, os grupos naturistas costumam frequentar as praias e conscientizar a população local sobre a prática do nudismo. “Visitamos e observamos a frequência da área e perfil dos usuários. Vamos entrando em contato e experimentando a nudez para verificar a aceitação”, explica Renata. Somente com a aceitação dos moradores é feito o pedido à prefeitura.

“Também devemos ter um grupo de naturistas por perto que possa estar sempre pela praia. Se não marcarmos presença, os moradores que não aceitam a nudez acabam ocupando o espaço”, diz Renata Freire. Por isso mesmo, ela está dando mais um passo em direção à primeira praia de nudismo de São Paulo. Ela está estruturando um grupo em São José dos Campos, cidade que fica mais próxima do litoral.