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Marília usa bebidas apreendidas pela Receita Federal para fazer álcool gel

Alunos da Universidade de Marília participam de processo de transformação de bebidas alcoólicas ilegais apreendidas pela Receita Federal em álcool gel - Divulgação/Universidade de Marília
Alunos da Universidade de Marília participam de processo de transformação de bebidas alcoólicas ilegais apreendidas pela Receita Federal em álcool gel Imagem: Divulgação/Universidade de Marília

Wagner Carvalho

Do UOL, em Bauru

24/10/2014 06h00

Bebidas apreendidas pela Receita Federal de Marília (440 km de São Paulo) -- em sua maioria vindas do exterior, muitas delas falsificadas--, agora são transformadas em álcool gel, material que é doado para empresas da cidade do interior paulista.

A ideia de transformar bebidas ilegais em um produto utilizável pela sociedade nasceu de uma conversa entre um professor da Unimar (Universidade de Marília) e um delegado da Receita Federal de Marília.

“Perguntei para o professor se algo de bom poderia ser feito com toda a bebida falsificada apreendida no nosso depósito”, lembra o delegado da Receita Federal Ivan Silveira Malheiros.

A conversa entre o delegado e Vitor José Miranda das Neves, professor de Química e Biotecnologia da Unimar, aconteceu em 2009, e dois anos mais tarde, os alunos da universidade usaram pela primeira vez o álcool presente nas bebidas ilegais para fabricar álcool gel de grau 70, que pode ser utilizado em processos de assepsia.

Professor da Unimar diz que projeto pode ser replicado pelo Brasil

O projeto recebeu o nome de “Transformando o crime em cidadania” e de acordo com o professor responsável pode e deve ser levado para todo o Brasil.

“Não tem segredo, a Unimar está de portas abertas para dividir esse conhecimento com outras universidades, e assim ampliar esse trabalho social. É possível colocá-lo em funcionamento em qualquer lugar do país", afirma Miranda das Neves.

De acordo com Malheiros, a Receita Federal de Marília apreende --em parceria com as policiais rodoviárias estadual e federal na região--, em média, 4 mil litros de bebida alcoólicas falsificadas e contrabandeadas nos 56 municípios abrangidos pela sua jurisdição.

“Até o final deste ano, mais de 1,5 mil litros de bebidas serão levados para que os alunos da universidade possam fazer o processo de transformação, mas nos estoques da Receita Federal temos mais de 10 mil litros ocupando espaço, e que terão a mesma destinação”, afirma o delegado.

Produto é doado para empresas da região

O álcool gel produzido pelo projeto não é comercializado, e sim doado para empresas e entidades na região, que são feitas a partir de um cadastro mantido pela Receita Federal de Marília.

“Como o álcool retirado do processo não poderia ser utilizado em todos os procedimentos, principalmente nas unidades de saúde, os estudos continuaram e, nesta semana, nossos alunos chegaram à fabricação de um tipo de desinfetante que pode ser utilizado para a limpeza do piso em unidades de saúde”, explica o professor Neves.

De acordo com o professor, os alunos dos cursos de biomedicina e farmácia da universidade participam ativamente do processo de transformação nos laboratórios da instituição. Miranda das Neves acredita que o processo é "uma oportunidade rara de colocar em prática os conhecimentos adquiridos em sala de aula".

“Tudo no processo se aproveita: de cada 100 litros de bebidas, se retiram cerca de 25 a 40 litros de álcool, que é utilizado na produção do álcool gel e desinfetantes", explica o professor da Unimar. "O que sobra ao fim do processo, a chamada borra, é utilizado como fertilizante pela própria universidade, nas lavouras que são mantidas pelo curso de Agronomia”.

Miranda das Neves explica que hoje são destilados, em média, 30 litros de bebida por dia, mas a universidade já iniciou um processo de modernização e ampliação em seus laboratórios que pode levar a capacidade a 100 litros diários.