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Após excomunhão, padre reúne 500 pessoas em missa alternativa em Bauru (SP)

Cerca de 500 pessoas acompanham missa alternativa celebrada em Bauru - Wagner Carvalho/UOL
Cerca de 500 pessoas acompanham missa alternativa celebrada em Bauru Imagem: Wagner Carvalho/UOL

Wagner Carvalho

Do UOL, em Bauru

26/01/2015 11h18Atualizada em 26/01/2015 15h51

Após ter de cancelar a realização da primeira missa alternativa em Bauru (340 km de São Paulo) --depois que o proprietário do local escolhido desistir de alugar o salão para o evento--, enfim Roberto Francisco Daniel, o padre Beto, pôde novamente realizar uma celebração neste domingo (26).

Uma hora antes do começo do evento, padre Beto não escondia seu nervosismo e medo de que o salão ficasse vazio durante na sua volta ao altar para celebrar uma missa.

Improvisado, o local escolhido --o salão de um clube recreativo-- ficou tomado por cerca de 500 pessoas, entre jovens, adultos e idosos de diversas religiões e localidades. “Eu vou aonde você for”, disse uma mulher ao ser recebido por ele na porta do salão minutos antes do início da missa.

Padre Beto se envolveu, em abril de 2013, em uma polêmica com a Igreja Católica após declarações registradas em um vídeo publicado no YouTube chegarem ao conhecimento da Diocese de Bauru.

Na gravação, o religioso questiona dogmas da Igreja e fala com aceitação sobre assuntos como bissexualidade e homossexualidade, além de segunda união entre casais.

Com a repercussão, o bispo Dom Caetano Ferrari, da Diocese de Bauru, exigiu que padre Beto se retratasse publicamente, mas ele preferiu se desligar da Igreja, que, mesmo com o seu afastamento, decidiu por excomungá-lo.

A missa alternativa seguiu os ritos da celebração tradicional da Igreja Católica --como a realização de primeira e segunda leitura, a consagração e distribuição da hóstia--, mas deixou de fora alguns ritos que só existem na celebração católica: a leitura do salmo responsorial e a profissão de fé, por exemplo.

Quatro músicos deixaram de lado as canções tradicionais religiosas e entoaram músicas populares como “Tempos Modernos” e “Toda Forma de Amor”, de Lulu Santos; “A Paz”, de Zizi Possi; e “Eu quero apenas”, de Roberto Carlos. A comunhão foi ao som de “Imagine”, de John Lennon.

Uma das pessoas mais emocionadas durante a celebração era a vendedora ambulante Maria Inês Faneco. “Estávamos pedindo todos os dias pra Deus que o padre Beto voltasse a fazer missas. Essa semana ele estava tenso, preocupado se as pessoas viriam. Mas olha isso aqui. Estou emocionada”, contou ao final da celebração.

O músico Leandro da Silva, 36, foi um dos voluntários na missa. Ele emprestou equipamentos de som e instrumentos musicais. Além dele, outros três músicos participaram voluntariamente. “Como o padre Beto bem diz: ‘Deus não exclui ninguém’. E eu enxergo Deus através da fala dele. Ele já me ajudou muito, em momentos muitos difíceis da minha vida. Não só a mim como muita gente. É uma pessoa de bem”, elogiou.

Ao final da celebração, padre Beto fez questão de deixar claro que não pretende fundar uma nova religião ou algo parecido, mas reafirmou que irá continuar a realizar as missas alternativas aos domingos.

“Não sei se teremos problemas, juridicamente falando, mas, se tivermos, vamos lá e abrimos uma igreja para deixar tudo regularizado. Mas nossa intenção aqui é fazer desses encontros momentos de oração, de encontro com Deus”, afirmou.

Padre Beto agradeceu ao carinho de todos e afirmou que, caso seja necessário, se o público nas missas continuar grande, nada impedirá de que sejam realizadas duas celebrações, uma seguida da outra aos domingos.

“Faço questão de frisar que nem os músicos nem eu receberemos algum tipo de salário; sobrevivo da sala de aula”, afirmou Beto, para evitar comentários sobre o dinheiro arrecadado com a oferta dos fiéis. “Pagamos R$ 500 pelo aluguel do salão e temos outros gastos com aquisição das hóstias”, explicou.

Após se despedir de praticamente um a um dos fiéis que estiveram na celebração, o padre Beto disse estar bastante emocionado. “Meu coração está explodindo de alegria. É uma satisfação que não tem como expressar em palavras. Só sente. Perguntado se teria forças para continuar ele foi rápido: Nada me para. Ainda mais com todo esse povo aqui.”

Procurada pela reportagem do UOL, a diocese do Divino Espirito Santo de Bauru informou que, depois que padre Beto foi excomungado, o assunto saiu do âmbito diocesano, restringindo-se à Santa Sé. “Não tem o que dizer, não tem que criar polêmica”, informou a assessora.

Na página oficial da diocese na internet, foi republicado nesta segunda-feira o comunicado que anunciou a excomunhão do religioso. Na decisão, o padre Tiago Wenceslau, juiz instrutor para as “matérias reservadas à Sé Apostólica”, orienta os católicos que “não participem de possíveis ‘atos de culto’ que forem celebrados pelo referido padre”.