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MP investiga prefeito por compra de espada e cachaça com dinheiro de diária

Rayder Bragon

Do UOL, em Belo Horizonte

11/02/2015 16h16

O prefeito de Coração de Jesus (475 km de Belo Horizonte), Pedro Magalhães Araújo Neto (PSC), é alvo de uma ação por improbidade administrativa movida pelo MP (Ministério Público), que questiona os gastos feitos pelo gestor do município, localizado no norte de Minas Gerais, utilizando diárias de viagens pagas com dinheiro público.

Segundo o órgão, em um ano e meio, compreendendo todo o ano de 2013 e metade de 2014, Neto teria feito uso de pouco mais de R$ 160 mil em viagens representando a localidade, o que daria uma média de R$ 10 mil por mês. Além do valor considerado alto, um dos promotores afirmou ao UOL notas que teriam sido apresentadas pelo prefeito para justificar os gastos e nas quais, segundo ele, constam a compra de uma espada, 20 litros de cachaça e jogos para computadores.

“Os valores que foram pagos a ele a título de diárias foram mais altos do que se paga a deputados e senadores”, afirmou o promotor Daniel Castro e Melo. Segundo ele, a ação já foi remetida à Justiça, e as investigações foram iniciadas após denúncia feita por vereador da localidade.

O órgão pede a cassação do prefeito, aplicação de multa, ressarcimento dos valores e a inelegibilidade por oito anos.

“Antes mesmo de ser citado, ele (prefeito) juntou ao processo notas fiscais para tentar comprovar os gastos com as diárias. Tem coisas absurdas como o pagamento de uma espada 'ninja', cigarro, bebidas alcoólicas e jogos de computador”, afirmou o promotor.

Conforme Melo, em uma das notas anexadas haveria até a discriminação da compra de cachaça. “Em uma das notas, apesar de ela estar rasurada, consta nela o pagamento de 20 litros de pinga”, afirmou.

Segundo ele, as viagens, em sua maioria, tiveram como destino as cidades de Belo Horizonte e Brasília.

“Em um suposto café da manhã, foram contabilizados mais de trinta e sete itens, totalizando mais de R$ 100. É complicado para uma pessoa só consumir tudo isso. Em outro documento, ele atesta ter doado R$ 10 para a igreja, ou seja, ele pegou dinheiro público e doou para a igreja”, declarou.

Outro lado

O assessor de comunicação da prefeitura, Ricardo César de Jesus, questionou as acusações feitas pelo MP e disse enxergar uma "perseguição política" contra o prefeito. Jesus afirmou que ao menos 20 cidades do norte de Minas Gerais são investigadas.

“Existem outras 20 cidades da região sendo investigadas. O que causa estranheza é o promotor ficar visando Coração de Jesus. Existem outras cidades, do porte de Coração de Jesus, onde teve [sic] gastos de R$ 700 mil. Ele só fala da nossa cidade”, afirmou.

Ele afirmou que o prefeito viajou bastante no ano de 2013, mas para tentar recursos financeiros a serem aplicados na cidade e ainda desbloquear ativos que estariam travados em contas do município.

Questionado sobre a compra da espada ninja e dos demais itens citados pelo promotor, o assessor afirmou que não tinha ainda conhecimento das notas. “Eu não sei como essas notas foram anexadas, mas seria muita ingenuidade de um advogado, porque o prefeito é advogado, pegar essas despesas e lançar as notas. Ele poderia muito bem não lançar porque são valores insignificantes. (...) Alguém agiu de má-fé anexando essas notas”, avaliou.

Ainda segundo Jesus, a espada citada pelo promotor, na verdade, seria um abridor de cartas para ser usado pelo prefeito no seu gabinete. Em relação ao café da manhã com vários itens consumidos, o assessor afirmou que Pedro Neto viajou algumas vezes acompanhado de vereadores da cidade e teria pagado o lanche de todos.