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Sem convocar atos há 70 dias, MPL diz agora organizar debates em bairros

Manifestantes participam de protesto contra o aumento da tarifa de ônibus em São Paulo, em 9 de janeiro - Reinaldo Canato/UOL
Manifestantes participam de protesto contra o aumento da tarifa de ônibus em São Paulo, em 9 de janeiro Imagem: Reinaldo Canato/UOL

Márcio Padrão

Do UOL, em São Paulo

17/04/2015 06h00

O início do ano de 2015 foi marcado por sete protestos organizados pelo MPL (Movimento Passe Livre) contra os aumentos nas tarifas do transporte público em São Paulo e outras capitais brasileiras. Setenta dias depois do último grande ato, em 6 de fevereiro, o movimento optou por reduzir sua ação e diz agora fazer trabalhos de base em bairros da capital paulista.

Atualmente, as redes sociais do movimento promovem principalmente debates e aulas públicas nas comunidades sobre os problemas no transporte em cada região da cidade --as discussões mais comuns são sobre falta de linhas de ônibus e a má qualidade dos atuais veículos.

A última ação pública apoiada pelo movimento ocorreu na zona sul de São Paulo, em 3 de março, onde cem moradores dos bairros de Marsilac, Barragem e Bosque do Sol/Jusa foram à subprefeitura de Parelheiros para exigir a criação de linhas de ônibus e a melhoria das vias.

Surgido há dez anos no Rio Grande do Sul, o MPL tem como bandeira a gratuidade no uso dos ônibus e metrôs. O grupo liderou os protestos de junho de 2013, quando foi anunciado em São Paulo um aumento na passagem de R$ 3 para R$ 3,20.

Em seu auge, chegou a levar mais de 1 milhão de pessoas às ruas no Brasil. Após a pressão popular, a Prefeitura de São Paulo recuou do aumento, sendo seguida por outras cidades que pretendiam elevar o valor das passagens.

Em 6 de janeiro de 2015, a passagem em São Paulo aumentou de R$ 3 para R$ 3,50. Embora um dos protestos de janeiro tenha tido uma participação relevante --3.000 pessoas nas contas da Polícia Militar e 20 mil, segundo o MPL--, o aumento não foi revertido e o público das manifestações acabou minguando.

Na avaliação de representantes do MPL-SP, o momento dos grandes atos passou sem que se tenha chegado ao resultado do recuo do aumento nas passagens, mas mesmo assim trouxe frutos positivos.

"A gente considera que foi uma boa jornada enquanto durou, que ajudou a aproximar as pessoas. Mas depois decidimos nos dedicar a essas pequenas mobilizações em vez dos atos no centro, que demandavam muita organização", diz Luize Tavares, uma das representantes. "Também deixamos claro que nunca foi a intenção do MPL fazer um novo junho [de 2013] em janeiro."

Outra representante, Letícia Cardoso, concorda com a colega. "A conjuntura [em 2015] era outra, as pessoas estavam mais com medo do policiamento ostensivo, além da implementação da própria tarifa ser um fator limitador. O movimento tem dez anos e a gente só ganhou uma vez [em 2013]. Não é fácil tocar uma luta contra o aumento, isso é um processo desgastante."

Luize diz que MPL não é "dono" da bandeira pela melhoria no transporte público. "As pessoas têm de se apropriar, deixávamos claro que não precisam depender da gente para lutar."

Black blocs

Sobre o fato de os black blocs serem presença constante nos atos do MPL, mas não terem aparecido nas recentes manifestações pró e antigoverno, Luize diz acreditar que os adeptos da tática de depredação do patrimônio se identificavam mais com a causa do movimento, mas não sabe dizer os motivos disso.

"Não estávamos escolhendo as pessoas que iam aos nossos atos. O movimento não vai cumprir a função de incriminar pessoas, que é da polícia", diz.