Guardas civis e usuários de crack entram em confronto em 'favelinha' da Luz
Guardas civis metropolitanos e moradores da "favelinha" da cracolândia, como ficou conhecido o conjunto de barracas dos usuários de crack da região da Luz, centro da cidade, entraram em confronto por volta das 14h desta quarta-feira (29). A confusão começou depois que as barracas começaram a ser desmontadas.
A conflito começou após o barulho de um forte estrondo, que assustou usuários de drogas e provocou correria.
Os homens da GCM (Guarda Civil Metropolitana) avançaram contra as pessoas, mas sofreram resistência. Houve tumulto e corre-corre. Durante a confusão, policiais militares chegaram em carros e motos para reforçar o policiamento.
Houve, então, novos barulhos de estouro e o local em que os usuários estavam acabou tomado por uma fumaça com mais de um metro de altura. Pelo menos duas pessoas ficaram feridas. Ainda não há informações de detidos.
Durante a manhã, havia sido realizada uma ação de limpeza com agentes da Subprefeitura da Sé. Os guardas civis se posicionaram no entorno da praça na frente da Estação Júlio Prestes, local onde ocorre o "fluxo" --como é conhecida a concentração de usuários de drogas.
Com a retirada das barracas, os frequentadores da cracolândia passaram a se concentrar na Alameda Dino Bueno, levando carrinhos de supermercado, cobertores e carroças.
Os secretários municipais de Assistência Social e de Diretos Humanos, Luciana Temer e Eduardo Suplicy, foram para o local.
"Ficou acordado que eles iriam sair voluntariamente e as tendas foram desmontadas sem nenhum conflito", disse Suplicy.
O secretário estadual Segurança Pública, Alexandre de Moraes, também foi até a cracolândia e criticou a ação. Segundo ele, a medida foi antecipada e a SSP não foi informada sobre o trabalho.
"O que tinha sido acertado, em um primeiro momento, é que a prefeitura faria o cadastramento e a inclusão, e nós montaríamos, em conjunto, uma operação para recolher as barracas e as lonas depois. Hoje, a prefeitura começou a fazer a inclusão e antecipou essa segunda parte e nós não fomos avisados."
Mesmo assim, Moraes diz que o trabalho não foi prejudicado pela operação.
"Até agora não houve necessidade da polícia. Estamos aqui para garantir a ordem. Houve uma conversa do prefeito com uma das lideranças, que se comprometeu a entregar as barracas." O secretário diz que há investigações em andamento para coibir o tráfico na região.
Programa De Braços Abertos
O objetivo da prefeitura é retirar os dependentes químicos da área e incluí-los no Programa De Braços Abertos, de recuperação e redução de danos, que tem cerca de 583 beneficiados cadastrados. O prefeito Fernando Haddad (PT) anunciou nesta quarta a criação de mais 150 novas vagas em hotéis credenciados pelo programa para a inclusão dos usuários retirados da "favelinha".
Segundo Haddad, a presença do tráfico na região prejudica o trabalho do programa.
"Não conseguimos trabalhar com assistência, trabalho e saúde na presença de um traficante armado." A estimativa da Prefeitura é de que 30% das barracas da "favelinha" sirvam ao tráfico. De acordo com o prefeito, os traficantes costumam estar armados com revólver e faca, que "a todo momento são retiradas" pela polícia.
"A prefeitura não tem meios para combater o tráfico de drogas, por isso a presença da polícia no local. O congelamento da área depende de uma ação da Polícia Militar e da Polícia Civil, que vão impedir que o traficante se instale na região." Questionado sobre a solução para o combate ao tráfico na região, Haddad disse: "Traficante é preso. A todo momento há prisões na cracolândia. O que nós não podemos permitir é a instalação de barracas que sirvam ao tráfico".
Remoção em 2014
Em junho do ano passado, os barracos foram desmontados após intervenção da GCM. A Prefeitura afirmou que a GCM orientou os donos das barracas a retirarem o material, o que teria sido feito "sem incidentes" pelos usuários.
Na ocasião, dependentes químicos que não participavam do programa começaram a montagem das novas barracas na "favelinha", inicialmente erguidas para que se protegessem do frio e da chuva.
Com o passar dos dias, no entanto, as barracas passaram a ser usadas também para o consumo de crack e chegaram a ser alugadas por R$ 10 a hora para usuários que não tinham a estrutura e queriam fumar a pedra ou fazer sexo.
* Com informações do Estadão Conteúdo
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