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Com atraso em obras, desabrigados de 2010 vivem em área de risco em AL e PE

Carlos Madeiro

Do UOL, em Barreiros (PE)

19/06/2015 06h00

Cinco anos após viverem a maior enchente do século na região, muitos moradores que foram vítimas das cheias em Pernambuco e Alagoas ainda esperam por casas em conjuntos habitacionais. A situação foi verificada em pelo menos três cidades.

No município Barreiros (PE), existem mais de 1.500 unidades ainda em construção. Em Palmares (PE) casas prontas, mas que não foram entregues. Em Rio Largo (AL), um conjunto para vítimas da enchente foi construído, mas acabou invadido há dois anos e serve a pessoas que não sofreram com a tragédia de 2010.

O UOL visitou o conjunto Santa Clara, em Barreiros, que ainda está parte em obras, parte parado. As ruas do local ainda sequer foram calçadas, embora as residências aparentem estar em fase final de acabamento.

Além do atraso, há também dificuldade de acesso ao conjunto Santa Clara, que fica sob um morro, a uma distância de 2 km do ponto urbano mais próximo. O acesso viário construído, porém, é por outro lado e tem 6 km até a BR-101.

O local escolhido para a construção é alvo de críticas. O casal Zaqueu José da Silva, 56, e Maria Lúcia da Silva, 55, diz que prefere ficar na casa que alagou em 2010 do que se mudar para o local. “Não sei como fazem um conjunto no 'fim do mundo' como aquele. Ninguém quer ir pra lá”, disse.

Já em Palmares, o conjunto Quilombo 2 foi parcialmente entregue. No local há 273 casas prontas, mas que ainda não têm donos e foram completamente depredadas.

Para evitar novos ataques e invasões, quatro seguranças particulares contratados pela Caixa tomam conta das casas. “Elas hoje servem para uso de drogas e prostituição, estão aí há mais de dois anos”, conta uma moradora do bairro.

Enquanto as casas estão abandonadas, vítimas da cheia pagam aluguel à espera da entrega. “Foram na minha casa na época, fotografam ela destruída e não me deram nada. Hoje ganho salário mínimo, pago R$ 300 reais de aluguel e ainda sofro de um câncer no fêmur “, conta Maria das Graças Passos, 55.

A espera por casa é similar em Rio Largo, onde vítimas também estão em casas de parente, em residências alugadas ou mesmo continuam vivendo em áreas de risco.

O UOL visitou o conjunto Edson Novaes, que tem mais de mil casas invadidas e ocupadas irregularmente. No local, os moradores temem falar. “Eu morava em Maceió, pagava aluguel, mas as pessoas começaram a vir, eu vim também. Não ia era pedir esmola, pois sabia que iam demolir minha casa”, afirmou uma moradora, que não quis revelar o nome e está no local há dois anos.

Esperando por um lar

Já a espera das vítimas da cheia continua. O casal Bonifácio Joaquim dos Santos, 84, e sua esposa Carmelita Maria da Conceição, 78, conta que já passou por dois cadastros, mas ainda espera pela nova casa. Enquanto isso, vivem na rua Pereira Leite, na mesma casa onde perderam tudo com a cheia do rio Mundaú em junho de 2010.

“Minha esposa perdeu a visão, só faz chorar. A casa aqui tem escoras, e a madeira que segura as telhas está podre. Já viram a situação, mas mesmo assim não nos entregam uma casa”, conta Bonifácio.

A moradora Eliana Maria dos Santos, 25, também reclama das promessas que perdeu tudo na cheia, mas não foi transferida para um novo conjunto.

“A cada dois anos fazem um novo cadastro, já vou no terceiro e não saiu a casa ainda. É triste porque invasores que não perderam nada estão nas casas”, disse.

Outro lado

A Caixa Econômica Federal informou à reportagem que negocia com uma construtora a finalização das obras no conjunto Quilombo 2, em Palmares --que está com 94% de obras executadas.

Em relação a Barreiros, a Caixa diz que o local escolhido é “viável tecnicamente e as obras de acesso estarão prontas juntamente com o término do empreendimento”.

Sobre o atraso, o banco diz que as obras foram abandonadas pela construtora e houve a recontratação para o empreendimento Santa Clara 1, com 635 unidades habitacionais. A previsão é que o conjunto seja entregue em novembro.

Já o Santa Clara 2, com 958 unidades, a Caixa ainda está em fase final de análise de proposta para retomada de obras.

Com relação ao município de Rio Largo, a Caixa disse que recebeu autorização do Ministério das Cidades para desvinculação de unidades, possibilitando a regularização da moradia das famílias que ocupam os empreendimentos e os atingidos pelas enchentes de 2010.

“Foram contratados seis empreendimentos em Rio Largo com 2.994 unidades habitacionais, dos quais já foram entregues 1.934 unidades”, finalizou o banco.