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"Tomara que os turistas também voltem", diz comerciante sobre bonde no Rio

Gustavo Maia

Do UOL, no Rio

27/07/2015 17h49

Os quase quatro anos sem um dos principais ícones do bairro entristeceram e causaram transtornos e prejuízos aos moradores e comerciantes de Santa Teresa, na região central do Rio de Janeiro. O retorno dos bondinhos nesta segunda-feira (27), ainda em fase de pré-operação, animou e levou esperança a quem vive e trabalha no local, apesar das obras que continuam a incomodar.

"Desde que teve o acidente com o bondinho [que matou seis pessoas em agosto de 2011], o movimento caiu muito. Muitos clientes estavam afastados. A gente espera que melhore um pouco agora. Tomara que os turistas também voltem”, afirmou o comerciante Rodrigo Pompilho, 35, dono de um restaurante na rua Almirante Alexandrino, que fica a poucos metros da estação do Largo do Curvelo.

A circulação, nos primeiros meses, será apenas em um trecho entre as estações Carioca e Curvelo, de 1,7 km de extensão, 16% do percurso original dos bondinhos, que era de 10,5 km e passava pelos Arcos da Lapa e pela rua Joaquim Murtinho. Nesta fase de testes, não haverá cobrança de passagem. O serviço vai operar de segunda-feira a sábado, das 11h às 16h, com intervalos de 20 minutos.

Pompilho comemorou a volta parcial do transporte escrevendo "o bonde voltou" ao lado do cardápio do dia, em um quadro negro colocado na calçada à frente do estabelecimento. "Coloquei para dizer que a gente apoia, mesmo com todos os problemas das obras que prejudicaram a gente. Não é do jeito que a gente queria, mas melhor assim do que sem nada", declarou.

A lotação de cada bonde é de 32 passageiros. "Quatro por fila, gente", orientava o secretário estadual de Transportes, Carlos Roberto Osório, aos passageiros nas primeiras viagens. Ao contrário do que era costume antes do acidente, não será permitido viajar em pé, nem nos estribos, que no modelo do novo bonde são retráteis e acionáveis no momento de parada nos pontos.

Na subida e na descida pela rua Joaquim Murtinho, carros, ônibus e até um trator ainda são obstáculos para os bondinhos e causaram algumas paradas. Segundo os moradores de Santa Teresa, no entanto, os percalços são absolutamente normais para o bairro. Quem era acostumado a andar nos bondes antigos, elogiou a maior estabilidade e conforto dos atuais. Brincando, o artista plástico Victor Damado, 30, reclamou que não poderia mais "dar as piruetas" que costumava dar.

De férias no Rio e conhecendo a cidade pela primeira vez, uma família gaúcha esperou 40 minutos na fila na estação Carioca, que fica ao lado da sede da Petrobras e próxima à Cinelândia, sem reclamações. "Não tem estresse, a gente está aproveitando cada minuto", disse a matriarca, a dona de casa Maria Boeira, 62, acompanhada do marido, do filho, da nora e da neta. Eles não sabiam que os bondes estavam desativados e ficaram surpreendidos ao saber que participavam da reinauguração do sistema.

A menina Yasmin, 8, não ficou muito impressionada nos primeiros minutos do trajeto. "Prefiro o Pão de Açúcar", comentou, arrancando risadas dos outros passageiros. Quando o bondinho passou pelos Arcos da Lapa, no entanto, mudou de opinião: "é bem legal". Como quase todos os outros passageiros, os turistas não perderam a oportunidade de tirar fotos durante a viagem.

Motorneiro dos bondinhos há 30 anos, Luiz Bauman, 32, não tirava o sorriso do rosto ao comentar a sensação de conduzir o veículo novamente após quase quatro anos, mesmo reclamando da velocidade dos ônibus que cruzam o caminho dos bondes. "Estava sentindo muita falta. Muita", afirmou.