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Hospital de MG é condenado a pagar R$ 80 mil a filhos de idoso que sumiu

Expedito Lima, 69, desapareceu em 2009 - Arquivo pessoal
Expedito Lima, 69, desapareceu em 2009 Imagem: Arquivo pessoal

Rayder Bragon

Colaboração para o UOL, em Belo Horizonte

16/09/2015 10h50

A Fundação de Ensino Superior do Vale do Sapucaí (Fuvs), mantenedora do hospital das Clínicas Samuel Libânio, situado em Pouso Alegre (384 km de Belo Horizonte), foi condenada a pagar R$ 80 mil aos oito filhos de um idoso que desapareceu após ter sido atendido na unidade hospitalar.

Segundo o processo, Expedito Pereira Lima, 69, foi levado ao hospital por familiares, na parte da manhã do dia 16 de fevereiro de 2009, após ter tido uma crise de epilepsia.

Por volta das 19h, a família disse ter sido avisada via telefone da liberação do paciente foi liberado, no entanto sem que um acompanhante estivesse no local. O idoso desapareceu e até hoje não localizado.

Em 2014, a família entrou na Justiça, sendo fixada uma indenização a ser paga pela instituição em quase R$ 29 mil.

Por sua vez, a mantenedora do hospital informou que a liberação do paciente se deu, provavelmente, com alta médica, de foram regular, não havendo que se falar em dano moral passível de indenização.

Após a decisão de primeira instância, as partes recorreram da sentença no Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJ-MG), que reformou a sentença estabelecendo o valor da indenização em R$ 80 mil, sendo R$ 10 mil para cada filho.

Sofrimento

A decisão judicial, entretanto, não colocou um fim no sofrimento dos filhos, que ainda esperam encontrar o genitor com vida.

“Eu troco esses R$ 80 mil por o meu pai bater na minha porta e pedir pouso, perguntar pelos netos e pedir um prato de comida”, desabafou o gerente administrativo Marcos Donizete de Lima, 40. Na noite do sumiço do idoso, foi ele o escolhido para buscar o pai no hospital.

Conforme o homem, não foi dado a ele por representantes do hospital nenhum apoio no momento do sumiço do pai ou uma explicação plausível. Ele disse ter chegado ao local 15 minutos após a família ter sido informada da alta do paciente.

“Um dos motivos que fizeram com que a gente entrasse com a ação foi justamente o fato de eles [direção do hospital] não terem nos procurado para dar uma satisfação em momento algum. Esse descaso nos revoltou”, disse.

Lima revelou ter feito buscas, ainda na noite do desaparecimento, nos arredores da instituição hospitalar e na casa de parentes, mas não obteve êxito na localização do genitor.
O caso foi repassado para a Polícia Civil, que iniciou investigações sobre o paradeiro da vítima, mas sem sucesso. Parentes também se mobilizaram na tentativa de localizar o familiar. Foram feitos cartazes com a foto dele e contendo telefones de contato da família.

“A gente recebeu, na época, várias ligações [telefônicas], de vários lugares, de pessoas dizendo terem visto o meu pai. A gente ia e conferia tudo, mas nada dava certo”, afirmou.

Para Lima, a ansiedade e a angústia de não saber se o pai está vivo ou morto, perseguem-no na hora de dormir.

“É na hora de dormir que eu penso no que será que aconteceu com ele, o que ele está fazendo, será que ele está comendo, bebendo ou dormindo. Esse é o sentimento que a gente tem até hoje”, relatou.

O representante da família disse que os parentes só vão ter sossego quando o caso tiver um desfecho e afirmou que sempre busca pelo pai.

“Todo lugar que eu vou, eu fico de olho, tentando achar algo. Eu levo comigo dentro do carro os cartazes com a fotografia dele, na esperança de encontrar alguma pista. Quando você enterra um ente querido seu, você sabe que ele está ali. Quando dá saudade, você vai lá e chora e reza. Agora, e esse sentimento que temos de não saber de nada”, disse.

Em nota, a mantenedora do hospital enviou ao UOL uma nota produzida por uma das advogadas de defesa.

“A decisão ainda não é definitiva, pois o processo não transitou em julgado. Houve a interposição de embargos de declaração, pela Fundação”.