Torneiras e chuveiros recebem água salgada na cidade baiana de Itabuna
Ao abrir a torneira e chuveiro, jorra água salgada do mar. Essa é a rotina de habitantes de uma cidade da Bahia desde o último mês de dezembro. Moradores da cidade baiana de Itabuna (435 km de Salvador) reclamam que estão com problemas de pele porque a água fornecida pela Emasa (Empresa Municipal de Águas e Saneamento) é imprópria para consumo e mesmo para higiene pessoal. Pelo menos dez bairros estão sem água nas torneiras há quase dois meses.
Devido ao índice de cloretos na água acima do normal - ou seja, a água está com sal acima dos limites -, a prefeitura alertou que pessoas hipertensas não podem beber a água que sai das torneiras, mesmo filtrando o líquido.
Para amenizar o problema, a prefeitura informa que instalou 130 tanques com capacidade de 20.000 litros para que os moradores tenham água potável diariamente, fornecida por 30 caminhões-pipa que vão às comunidades afetadas.
A Emasa alega que a estiagem severa é responsável pelo alto teor de sal na água e pela falta de regularidade no sistema de abastecimento em Itabuna.
Segundo a empresa, esta é a estiagem mais longa já registrada nos últimos 50 anos na região - a falta de chuvas no sul da Bahia, no mês de março, diminuiu de 45% para 30% na captação do principal manancial da cidade, o rio Castelo Novo, e dificulta o abastecimento de água em Itabuna.
A situação é inusitada e, ao mesmo tempo, preocupante. O alto teor de cloreto de sódio (sal) contido na água distribuída ocorre porque o rio Castelo Novo, localizado próximo à Ilhéus, está no mesmo nível do mar e volume baixo para conter a invasão do mar durante a maré cheia. Apesar do processo de tratamento, a água distribuída nas torneiras não está potável.
Os problemas de abastecimento de água em Itabuna já renderam protestos e estão com "memes" na internet. Um deles diz: "o preço da água de Itabuna aumentou porque a cada dez litros você recebe um quilo de sal".
Outro meme mostra duas fotos do ator Rodrigo Santoro, uma com os cabelos penteados lavados com água de outra cidade, e outra, com a cabeleira despenteada depois de tomar banho em Itabuna.
Moradores compram água
Para poder cozinhar e beber água, moradores são obrigados a comprarem garrafões de água mineral. Segundo eles, a água fornecida só pode ser usada na limpeza da casa e para tomar banho.
“A água vem com cor escura e com forte odor. Mesmo assim, temos de usá-la porque não temos como comprar água mineral para tomar banho. Minha pele está irritada e os cabelos desidratados, duros, de tanto sal que vem na água. O sabonete e o xampu não espumam, e a gente acaba gastando mais produto no banho”, diz a comerciária Karla Lisboa Borges, 34.
Ela conta que paga por mês cerca de R$ 120 de conta de água, além de o consumo de água mineral ter dobrado. A família de Karla Borges, com três pessoas, consome dois galões de 20 litros de água por semana. Se tivesse a água limpa nas torneiras, ela diz que gastaria apenas um. Atualmente, um galão de 20 litros de água mineral custa R$ 10 na cidade - R$ 3 a mais do que dez dias antes.
Para diminuir as despesas com a compra de água mineral, moradores estão armazenando água da chuva em casa. “A população toda está comprando balde para armazenar a água da chuva”, disse Karla Borges.
Água distribuída é pouca
A população reclama que a quantidade de água fornecida pelos caminhões-pipa é insuficiente para atender a demanda do município. “Logo que amanhece, a gente tem de estar aqui na fila para pegar a ficha da água. Se demorar muito, ficamos sem", diz a aposentada Ivone Francisca da Silva, 66. "Ela serve para tudo: beber, cozinhar, lavar roupa, tomar banho. Duas vasilhas não dá pra quase nada.”
Outros moradores contam que as torneiras e pias estão enferrujando por conta do sal na água. Eletrodomésticos, como máquina de lavar roupas e chuveiros, apresentam problemas porque a a água com excesso de sal afeta a corrente elétrica de forma intensa, aumentando o risco de choques. “Eu ligo a máquina de lavar e aviso logo as crianças que não cheguem perto”, contou a dona de casa Mary Menezes Silva, 35.
O professor Carlos Eduardo gravou um vídeo mostrando o problema da condução de energia elétrica na água distribuída pela Emasa em Itabuna. No vídeo, ele mostra dois copos com água, um com água mineral e outro com água da Emasa. Quando o fio entra em contato com a água com alto teor de sal, a lâmpada acende. Já na água mineral, a lâmpada permanece desligada.
Revezamento
A Emasa informou ao UOL que está fazendo o revezamento entre os bairros para minimizar a falta de água e evitar o colapso ocasionados pela seca dos mananciais que abastecem Itabuna. Segundo a empresa, atualmente, o sistema opera com 50% da capacidade de captação de água nos mananciais.
“Sem perspectiva de chuva para os próximos dias e com a consequente diminuição das vazões, Castelo Novo passou a ser o principal ponto de captação que abastece, hoje, a cidade. A questão é que Castelo Novo fica próximo à cota do nível do mar", informou a mepresa em nota. "Com o avanço das marés e a redução de vazão de contribuição nos mananciais, os índices de cloretos na água tendem a aumentar”, informou a Emasa, destacando que estuda “fontes alternativas, em áreas próximas a Itabuna, para garantir o abastecimento.”
A prefeitura informou ainda que decretou situação de emergência para acelerar as ações de combate a seca na região de Itabuna e que conseguiu a liberação de R$ 3,8 milhões da Secretaria de Infraestrutura Hídrica e Saneamento para ações emergenciais, como realocação da captação de água do bairro Nova Ferradas, e a recuperação da estação de tratamento de água da localidade, que possibilitará o aumento da oferta e a melhoria da qualidade da água distribuída em Itabuna.
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