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Esquartejamento indica que Elize não agiu sozinha, diz legista em júri

28.nov.2016 - Elize Matsunaga (primeira à esquerda) está sendo julgada no Fórum da Barra Funda (SP) - MARCELO GONCALVES/SIGMAPRESS/ESTADÃO CONTEÚDO
28.nov.2016 - Elize Matsunaga (primeira à esquerda) está sendo julgada no Fórum da Barra Funda (SP) Imagem: MARCELO GONCALVES/SIGMAPRESS/ESTADÃO CONTEÚDO

Janaina Garcia

Do UOL, em São Paulo

30/11/2016 21h03Atualizada em 30/11/2016 22h19

A bacharel em direito Elize Matsunaga, 35, esquartejou o marido enquanto ele ainda estava vivo, mas, “tecnicamente, não agiu sozinha”. As conclusões são do médico legista Jorge Pereira de Oliveira a partir do exame de necropsia realizado no corpo de Marcos Matsunaga, 42. Elize responde pelos crimes de homicídio triplamente qualificado e destruição e ocultação do cadáver do empresário, praticados em maio de 2012 em São Paulo.

O legista foi ouvido nesta quarta-feira (30) no júri popular de Elize, iniciado na última segunda (28) no Fórum Criminal da Barra Funda (zona oeste de São Paulo). Ele foi arrolado como testemunha pelo Ministério Público, que, em um inquérito paralelo ao que norteou o do processo respondido por Elize, no júri, investiga se a jovem teria recebido ajuda de outra pessoa nos crimes praticados contra o marido. O caso, no entanto, corre sob segredo de Justiça.

De acordo com a testemunha, o laudo da necropsia apontou que Matsunaga morreu em função do trauma crânio-encefálico causado por um tiro de curta distância –de uma pistola 380 –e por “asfixia respiratória provocada pela aspiração de sangue por vias aéreas”. A defesa alega que Elize atirou a uma distância de quase dois metros após receber um tapa e ser ameaçada pelo marido.

“Ele [Matsunaga] estava vivo quando foi seccionado”, afirmou o legista, para quem “independe a quantidade de sangue aspirada: isso é material estranho aos alvéolos, por onde deveria passar, exclusivamente, ar”.

Sobre a suposta participação de uma segunda pessoa no crime, Oliveira justificou a tese ao identificar, nas fotos das partes do corpo exibidas pelo MP em telão, dois padrões de corte diferentes.

“Os cortes nos membros superiores são incompatíveis com os cortes nas partes inferiores: são mais rústicos; os da parte de baixo são mais precisos”, explicou.

O legista se mostrou irritado com perguntas da advogada Roselle Soglio, que integra a defesa de Elize, e se recusou a responder algumas delas –até o juiz Adílson Paukoski intervir. Ao chamá-la de “filha”, em tom irônico, Oliveira foi repreendido pela defensora da ré: “O senhor me chame de ‘doutora’ ou de ‘Roselle’; de ‘filha’, não”. A recomendação, porém, seria ignorada em ao menos outras três oportunidades.

Nas perguntas dos jurados –cerca de 30, entre as lidas e não lidas pelo juiz --, várias se nortearam pelas circunstâncias do esquartejamento. Em uma, o jurado quis saber se isso teria sido feito por alguém “especialista”; em outra, se teria sido usada arma lisa ou com serrilha. Também foi indagado se era possível concluir “se houve ajuda de alguém”.

“Tecnicamente, [a presença de dois padrões distintos de cortes] indica a participação de uma segunda pessoa no esquartejamento”, declarou o legista.

Acusação exibe vídeo de reconstituição durante depoimento de perito

Após o depoimento de Oliveira, o plenário do júri começou a ouvir o perito do caso, à época, pela Polícia Científica, Ricardo da Silva Salada. Ele é testemunha comum da defesa e da acusação –assim como o delegado que indicou Elize em 2012, Mauro Gomes Dias, ouvido na terça-feira (29) por mais de cinco horas.

Durante o depoimento, o promotor José Carlos Cosenzo exibiu trechos da reconstituição do crime da qual Elize participou –versão, portanto, defendida pela ré. Conforme essa versão, Elize e o marido teriam discutido, ele, a agredido, até que ela teria efetuado o disparo contra ele, para se defender, a uma distância de 1,94m. Para a acusação, o tiro foi a curta distância –de 15 a 25 cm para a vítima. Elize ainda afirma ter esquartejado a vítima de pé e sem ajuda de terceiro.

Salada, porém, alegou ser “impossível e incompatível” com a ação do esquartejamento a ré estar em pé para tal.

Término de júri “é imprevisível”, admite juiz

Nesta quinta-feira (1º), será ouvida a última testemunha da acusação –o médico legista Carlos Alberto de Souza Coelho. Também é previsto o início dos depoimentos das testemunhas da defesa, entre as quais estão uma ex-diarista do casal, uma tia de Elize, um médico, um médico legista, dois advogados e dois peritos.

A previsão inicial do Tribunal de Justiça era a de que o júri iniciado na segunda (28) durasse cinco dias, mas tanto acusação quanto defesa já admitem que ele deve se arrastar para o final de semana. Em uma conversa informal com jornalistas, em um intervalo do julgamento, o juiz Adílson Paukoski mencionou que a data de término dos trabalhos “é imprevisível”.