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Projeto de lei quer rebatizar estação Vila Mariana do metrô em homenagem a pastor

Proposta pretende mudar o nome da estação para Enéas Tognini-Vila Mariana - Rivaldo Gomes/Folhapress
Proposta pretende mudar o nome da estação para Enéas Tognini-Vila Mariana Imagem: Rivaldo Gomes/Folhapress

Caio do Valle

Colaboração para o UOL, em São Paulo

27/12/2016 05h00

A estação Vila Mariana, na linha 1-azul do Metrô de São Paulo, na zona sul da capital paulista, pode ser rebatizada pela primeira vez desde sua inauguração há 43 anos. Se um projeto de lei aprovado na Assembleia Legislativa sair do papel, a parada ganhará uma designação em homenagem a um pastor evangélico, passando a se chamar Enéas Tognini-Vila Mariana.

A proposta aguarda sanção ou veto do governador Geraldo Alckmin (PSDB): o prazo constitucional para a decisão do Executivo paulista é sexta, dia 30 de dezembro. Mesmo com a possível obstrução do tucano, o projeto ainda poderá ser promulgado à revelia pelos legisladores, como já aconteceu, por exemplo, em 2011, com a estação Jardim São Paulo-Ayrton Senna.

A medida é criticada por quem frequenta a estação e também pelo Metrô, pois a mudança implicaria em gastos em um momento em que a empresa, controlada pelo governo estadual, enfrenta uma crise orçamentária.

Questionado por telefone ou por e-mail pela reportagem a respeito de quanto custaria e de quanto tempo levariam as mudanças, o Metrô informou, por meio de sua assessoria, que não se pronunciaria. Indagada também sobre quanto tempo e quanto custou a última mudança, a empresa também não se manifestou.

O deputado que propôs a alteração, André Soares (DEM), justificou a ideia argumentando que o homenageado, um pastor batista nascido em Avaré (SP) em 1914 e morto no ano passado, foi, nos anos 1960, "um dos grandes líderes do avivamento espiritual, que originou a Convenção Batista Nacional (CBN)".

Soares, que é filho do pastor neopentecostal Romildo Ribeiro Soares, conhecido na TV como missionário R. R. Soares, alega ainda que Tognini "tem especial relação com a região objeto da homenagem", afinal, a Igreja Batista do Povo, fundada por ele, fica na rua Domingos de Morais, perto da estação Vila Mariana. 

Passageiros contrariados

"A mudança não vai melhorar nada para nós, fora que o nome atual já é um ponto de referência conhecido por muita gente", disse a doméstica Marinês Santos, 49. Já o microempresário Wilson Alves Junior, 33, afirmou que as prioridades dos deputados deveriam ser outras. "Moro em Francisco Morato (município ao noroeste da capital paulista) e a linha que serve a cidade precisa de muitas melhorias, porque os trens são umas sucatas que quebram sempre. Por que eles não se preocupam com esse tipo de coisa em vez de ficar mudando nome de estação?"

"Sou contra dar nomes de pessoas para lugares públicos assim", disse o técnico em contabilidade Jorge Takashi, 75.

No fim, nós é que pagamos as placas novas e a mão de obra necessária para uma mudança que é política."

Pastor Enéas Tognini - Reprodução/Facebook/@eneastognini - Reprodução/Facebook/@eneastognini
Pastor Enéas Tognini morreu em 2015
Imagem: Reprodução/Facebook/@eneastognini
A estagiária em Direito Simone Soares, 52, também criticou: "Mesmo sendo evangélica, eu não apoio, porque a glória vai só para a família do homenageado."

A reportagem entrou em contato por telefone e e-mail com a assessoria do deputado André Soares, mas não obteve resposta ao questionamento que fez sobre a relevância social de seu projeto de lei. Já o Palácio dos Bandeirantes limitou-se a responder que o projeto de lei "foi encaminhado pela Assembleia no dia 9 de dezembro e está em análise na Procuradoria-Geral do Estado" e que o prazo para a manifestação do governo é de 15 dias úteis. Procurado, o presidente da Assembleia, Fernando Capez (PSDB), para cujo gabinete a proposta retornará após a apreciação de Alckmin, não se manifestou sobre o assunto.

"Gastos significativos"

A Secretaria Estadual dos Transportes Metropolitanos, responsável pelo Metrô e pela CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos), informou, por meio de nota, que qualquer "alteração no nome das estações do Metrô e da CPTM implica em gastos significativos para a substituição da comunicação visual de todas as estações e trens, mapas dos arredores, além da adaptação das estruturas de sinalização do nome da estação, que foram projetadas para atender a uma determinada quantidade de caracteres". 

A pasta sustenta ainda que os nomes das estações já estão "consolidados e se tornaram referências da cidade, de modo que os mapas urbanos veiculados pelas mídias também precisam ser alterados, incluindo os mapas de trólebus, ônibus municipais e intermunicipais". O texto informa também que a nomeação das estações "é precedida de estudos histórico-geográficos e pesquisas junto à população local, além de considerar critérios de fácil leitura, pronúncia e memorização".

Troca-troca

Não é a primeira vez que uma estação corre o risco de ter o seu nome mudado, mesmo depois de veto do Executivo. Em 2011, o Metrô foi obrigado a alterar o nome da estação Jardim São Paulo, também na linha 1-azul, para Jardim São Paulo-Ayrton Senna, após a Assembleia derrubar o veto governamental a um projeto de lei apresentado em 2009 pelo deputado Campos Machado (PTB).

Na época, a troca gerou críticas, posto que além de acarretar custos para o sistema, o nome do piloto já denomina outros logradouros na cidade, como uma rodovia e um túnel sob o parque do Ibirapuera, na zona sul, o que pode provocar confusões de toponímia.

Em 2008, o próprio governo do Estado, então administrado por José Serra (PSDB), decidiu alterar o nome da estação Imigrantes, na linha 2-verde, para Santos-Imigrantes, em homenagem ao time de futebol da Baixada Santista. Dois anos antes, a estação Bresser, na linha 3-vermelha, passou a se chamar Bresser-Mooca, após um projeto apresentado pelo ex-deputado estadual Romeu Tuma (PMDB).

Naquele mesmo ano, a estação no extremo oeste da linha 3, Barra Funda, já havia ganhado um acréscimo ao seu nome para condecorar outro time, o Palmeiras. A mudança ocorreu depois de uma canetada do então governador Cláudio Lembo (PFL), que era vice de Alckmin.

Desde 2013, três estações da CPTM tiveram seus nomes modificados em função de projetos apresentados, defendidos e aprovados por deputados estaduais. A estação Ribeirão Pires, na linha 10-turquesa, se tornou Ribeirão Pires-Antônio Bespalec, em homenagem a um político e arquiteto da região. No mesmo ramal, a estação São Caetano passou a ser designada São Caetano-Prefeito Walter Braido. No ano passado, a estação Mooca virou Juventus-Mooca, para homenagear o time de futebol.

Somente nos últimos dois anos, dez projetos de lei foram apresentados na Assembleia Legislativa com o intuito de modificar nomes de estações de metrô e trem.