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Após 10 anos de disputas, Prefeitura de SP compra prédio ocupado para criar moradia popular

Prédio no centro de SP estava sem uso havia 20 anos, antes de ser ocupado, em 2007 - Marcio Komesu/UOL
Prédio no centro de SP estava sem uso havia 20 anos, antes de ser ocupado, em 2007 Imagem: Marcio Komesu/UOL

Luís Adorno

Do UOL, em São Paulo

13/12/2017 14h14Atualizada em 13/12/2017 15h38

Foram, ao todo, 35 reuniões entre proprietários, sem-teto e representantes da Prefeitura de São Paulo durante meses. Na noite desta terça-feira (12), o último encontro, que durou mais de 3 horas, teve, enfim, um desfecho. O edifício Mauá, que fica no centro de São Paulo e está ocupado por famílias sem-teto desde 2007, vai virar moradia popular.

A prefeitura informou ao UOL que o prédio, conhecido como "Ocupação Mauá", foi comprado ontem por R$ 20,1 milhões. Atualmente, vivem no local cerca de 940 pessoas, sendo cerca de 180 crianças e pré-adolescentes. Nos últimos meses, as famílias do local negociavam, por meio da Secretaria Municipal de Habitação, a venda do local com os proprietários, enquanto uma reintegração de posse, expedida pela Justiça de São Paulo, podia ocorrer a qualquer momento.

Segundo a secretaria de Habitação, ainda é necessário que um juiz homologue o acordo entre as partes para, assim, o negócio ser concretizado por inteiro. Após a conclusão dos trâmites burocráticos, que devem ser finalizados até fevereiro, serão iniciadas tratativas para definição da demanda, o que, não necessariamente, beneficiará quem ocupou o local durante os últimos 10 anos.

De acordo com o secretário de Habitação, Fernando Chucre, as famílias selecionadas terão de pagar pela posse do imóvel uma quantia de até 20% do total da renda. "Não existe imóvel de graça, a não ser um empreendimento com vínculo com alguma obra do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) que tenha tido remoção", explica Chucre.

Números da ocupação:

  • 940 pessoas vivem na "Ocupação Mauá"
  • 237 famílias ocupam o espaço desde 2007
  • 180 crianças e pré-adolescentes vivem com a família no local

"Existia uma disposição da secretaria de pagar até por volta de R$ 14 milhões, que era o valor que estava disponível a partir de um laudo dos peritos da secretaria. No entanto, um outro laudo, que a família [proprietária] apresentou, estimava [o valor do imóvel] em R$ 29 milhões. Após as negociações, conseguimos chegar a um meio termo", afirma o secretário.

"Ontem, já protocolamos ao juiz um documento informando que houve acordo entre as partes e, agora, só aguardamos a homologação do juiz", diz Chucre.

Após a imissão da posse da propriedade à prefeitura, o imóvel precisa ser desocupado pelas famílias que lá estão. Isso porque o proprietário precisa entregar o imóvel sem habitantes, para que o processo seja concluído com sucesso. "Já estamos negociando isso com as lideranças", disse o secretário.

"A GENTE NÃO QUER NADA DE GRAÇA. PLEITEAMOS UM VALOR JUSTO"

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O edifício, que já abrigou um hotel, estava abandonado havia cerca de 20 anos antes de ser ocupado em 2007, segundo o MMLJ (Movimento de Moradia na Luta por Justiça). Para Ivaneti Araújo, líder do MMLJ, o acordo é um "primeiro passo, largo, que durou 10 anos", mas que o grupo conseguiu avançar. "Depois de tantas lutas, de 10 anos, não haverá despejo na Mauá", disse.

O mineiro Florentino de Brito vive com a mulher, Solange, na ocupação. "Vim para cá [São Paulo] pensando numa vida melhor, com emprego. Sempre trabalhei de ajudante de motorista, mas não conseguia pagar aluguel e criar os dois filhos que tenho. Aqui foi a solução", afirmou.

10.ago.2017 - Mulher e neto vivem na apreensão de serem despejados, assim como as outras 236 famílias que vivem na Ocupação Mauá, em frente à estação Luz, centro de SP - Luís Adorno/UOL - Luís Adorno/UOL
Mulher e neto viviam sob a apreensão de serem despejados, assim como as outras 236 famílias que vivem na Ocupação Mauá, em frente à estação Luz, no centro de SP
Imagem: Luís Adorno/UOL

A "Ocupação Mauá" quase se tornou parte de um programa habitacional em 2013, quando seria comprado pela prefeitura. Um imbróglio jurídico travou as negociações.

A prefeitura, na gestão Fernando Haddad (PT), chegou a depositar R$ 11 milhões para a compra do local. Logo depois de o petista perder as eleições municipais, em 2016, um perito avaliou que o imóvel valia o dobro, e a Cohab pediu a devolução do dinheiro já disponibilizado afirmando não ter como arcar com a nova estimativa de custos.

Segundo a atual gestão, o valor acordado "está dentro do que o município pode pagar para habitação social, considerando custo de desapropriação, investimento de reforma e por ser na região central da cidade".