Topo

Esse conteúdo é antigo

Justiça dá 24 horas para município do PA acolher idoso que vive com ratos

Gerson Ribeiro Furtado tem 73 anos e vive entre ratos e baratas em barraco na cidade de Cametá (PA) - MPE-PA/Divulgação
Gerson Ribeiro Furtado tem 73 anos e vive entre ratos e baratas em barraco na cidade de Cametá (PA) Imagem: MPE-PA/Divulgação

Luciana Cavalcante

Colaboração para o UOL, em Belém

29/01/2021 21h30

A Justiça determinou hoje um prazo de 24 horas para que o município de Cametá (PA) acolha um idoso que vive em um barraco de madeira, em meio a ratos e baratas. O caso veio a público após o compartilhamento de um vídeo nas redes sociais onde ele aparece se alimentando da mesma comida que dá aos roedores.

Gerson Ribeiro Furtado tem 73 anos e há 20 vive na rua. Há pelo menos seis, está em um barraco de madeira construído por moradores da travessa Paulo Nogueira, no bairro da Matinha. A comunidade também se reveza para garantir a alimentação dele.

Quando tomou conhecimento do caso, o Ministério Público reuniu uma equipe com médicos, assistentes sociais e bombeiros para visitar o local. "A situação que ele vive é totalmente degradante e humilhante, mas o que nos chamou a atenção é que ele faz parte da preocupação dos vizinhos, que não deixavam faltar alimentação para ele", contou a promotora Louise Rejane de Araújo Silva Serverino.

Ainda segundo ela, assim que o vídeo foi compartilhado os vizinhos se organizaram para fazer uma limpeza no local, retirando os ratos e baratas e trocando o colchão de Gerson. "Mas com muita cautela, porque ele não quer sair de lá", constatou.

Uma avaliação prévia da equipe médica que o atendeu no dia da visita constatou que o idoso tem transtorno mental, mas que a saúde física não apresenta qualquer problema.

Gerson barraco Cametá - MPE-PA/Divulgação - MPE-PA/Divulgação
Segundo MPE, seu Gerson trata ratos como animais de estimação
Imagem: MPE-PA/Divulgação

"Ficou claro que é uma pessoa com saúde mental abalada porque tratava os ratos como se fossem bichos de estimação. Isso por si só já demonstra que ele não está na sua plena condição. A gente via que ele comia e dava comida para os ratos, que eles andavam nos seus pés. Isso é muito chocante. Mas não sabemos como ele não pegou nenhuma doença", avaliou Severina.

Talvez por isso, segundo ela, a comunidade nunca tenha tomado alguma medida para tentar retirá-lo daquela situação. "Eles viam que ele não adoecia e ajudam como podem. Existe até um carinho por ele. Muitos disseram que querem que seja feito o melhor para o seu Gerson."

Na decisão, o juiz determina que o idoso seja recolhido para uma casa de repouso, receba tratamento médico e psiquiátrico, e que a retirada do local seja de forma humanizada. "Ficamos felizes porque o juiz entendeu a situação e acatou os três pedidos da ação. A gente sabe que apesar da situação degradante ele (o idoso) vê o lugar como um lar, já pertence àquela comunidade. Tudo tem que ser feito com cuidado."

Ainda segundo o Ministério Público, o município já sinalizou a possibilidade de abrigar seu Gerson em algum lugar temporário, com cuidados de enfermagem 24 horas, para cumprir a decisão judicial, até que seja possível transferi-lo para um abrigo definitivo, já que não há nenhum no município de Cametá. Por isso a ação civil pública também é contra o Estado, para que garanta esse abrigo e; contra o idoso, que não aceita tratamento para doença.