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Motoboy relata agressão ao usar porta social de prédio; porteiro é operado

Marcela Lemos

Colaboração para o UOL, no Rio de Janeiro

31/03/2021 10h04Atualizada em 31/03/2021 15h30

A Polícia Civil do Rio investiga um caso de agressão a um motoboy ocorrido no interior de um condomínio na Barra da Tijuca, na zona oeste do Rio de Janeiro, na noite de segunda-feira (29). Um vídeo compartilhado na internet mostra o entregador Marcus Vinícius Corrêa, de 31 anos, no chão, imobilizado por um porteiro do edifício. Segundo um familiar, um dos porteiros envolvidos na confusão foi agredido pelo entregador e teve de passar por uma cirurgia (leia abaixo).

Em um vídeo, o motoboy relata a confusão: "O cara não quer me soltar não. Tô imobilizado aqui e o cara nem policial é. Olha a cara dele, porteiro. Nem policial é. Você não pode me imobilizar, parceiro. Me agrediram, quatro porteiros e um policial morador, vieram me agredir. Os quatro juntaram em mim. Olha como está a situação, o que motoboy passa no Rio de Janeiro".

Outro funcionário que também aparece nas imagens ameaça quebrar o celular do motoboy. "Vou quebrar seu telefone, eu quebro, eu quebro", diz um dos porteiros no vídeo que Marcus gravou pedindo ajuda.

O motoboy contou ao UOL que a confusão começou após ele se perder no prédio e tentar sair pela portaria social.

"É um prédio redondo que você pega um elevador para o quinto andar e depois pega outro elevador até a casa do morador, eu me perdi, só estava tentando sair do prédio quando um porteiro veio falando comigo descontrolado, me humilhando dizendo que eu era motoboy e não podia sair por ali", disse o entregador.

"Ele poderia ter me orientado com educação. Disse que só pela forma como ele falou comigo, que iria sair por ali mesmo. Ele começou a me cercar, me empurrar, falei para ele não colocar a mão em mim. Até que ele foi na guarita, pegou uma barra de ferro e me acertou. Eu consegui tirar a barra da mão dele e revidei. Depois, vieram mais porteiros, um morador que ameaçou me matar, me sufocaram...", acrescentou.

Segundo Marcus Vinícius, uma moradora chamou a PM e os funcionários só o liberaram com a chegada da polícia. Ele contou que recebeu apoio do síndico do prédio. O entregador solicitou as imagens de câmeras de segurança do prédio.

Porteiro ferido

A família de um porteiro agredido por Vinícius durante a briga disse que o funcionário foi atingido sete vezes com uma barra de ferro. O profissional passou por cirurgia devido a um coágulo na cabeça. Ele está internado no Hospital Miguel Couto, na zona sul do Rio.

"Os vídeos do edifício mostram que os funcionários só tentaram segurar ele, depois que ele agrediu o porteiro com a barra de ferro. Ele disse que apanhou tanto, mas não tem uma escoriação. Foram sete golpes de barra de ferro que o motoboy deu nele [no porteiro]", disse o familiar, que preferiu não ser identificado.

O quadro de saúde do porteiro é estável.

A família do porteiro diz que está sendo ameaçada após a repercussão do caso. O porteiro agredido tem 58 anos e trabalha há 19 anos no mesmo prédio. De acordo com a família, ele é uma pessoa querida por todos. Os moradores estão custeando um advogado para defendê-lo.

"De uma índole diferenciada, foi promovido, não tem histórico de desentendimento com entregador, o condomínio recebe vários entregadores diariamente", disse o parente ao UOL.

O advogado do porteiro, Bruno Castro, enviou um comunicado à imprensa e confirmou o depoimento do parente ao UOL. Segundo ele, a família teve acesso às câmeras que mostram o entregador agredindo o porteiro com um guidão de bicicleta.

"O Marcus desfere uma sequência de três socos, depois um chute e ainda mais um soco. Enquanto é agredido, o porteiro não reage e apenas tenta se defender (...) Depois de forçar e conseguir sair pelo local, outra câmera capta o desenrolar dos fatos. Nela, o senhor Jorge [porteiro] vai até a guarita e o agressor vai atrás dele gesticulando. Para tentar intimidar o agressor, o senhor Jorge pega um guidão de bicicleta. Marcus Vinícius desfere nele sete golpes na direção da cabeça. A agressão só para quando o senhor Jorge está caído no chão, ensanguentado e aparece outro porteiro".

De acordo com o advogado, o funcionário do condomínio foi levado para o Hospital Lourenço Jorge, na Barra da Tijuca, e devido à gravidade das lesões, ele foi transferido para o Miguel Couto, na Gávea.

"Senhor Jorge apresenta múltiplos focos de hemorragia na cabeça, tendo piora clínica ontem, necessitando de cirurgia para descompressão craniana. No momento, seu estado é estável, sedado e intubado".

Ainda de acordo com a nota, a família está muito abalada com a brutalidade das agressões e por fim os parentes registram "total respeito à categoria dos motoboys, os quais se arriscam em meio à pandemia para sustentarem suas famílias".

Investigação

Procurada, a Polícia Civil do Rio disse que um inquérito foi instaurado e as investigações estão em andamento. "Testemunhas serão ouvidas para apurar e esclarecer a dinâmica dos fatos", informou através de nota.

O UOL tenta contato com o condomínio e atualizará a nota quando houver um posicionamento.