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Em junho, Vigilância orientou Landecker a não fazer cirurgias, diz jornal

Ex-pacientes do médico (foto) se uniram e estimam ter ao menos 30 pessoas afetadas pelas condutas dele - Reprodução/Site pessoal
Ex-pacientes do médico (foto) se uniram e estimam ter ao menos 30 pessoas afetadas pelas condutas dele Imagem: Reprodução/Site pessoal

Do UOL, em São Paulo

06/11/2021 11h04

O cirurgião plástico Alan Landecker, investigado por suspeita de ter deformado o nariz de ex-pacientes, foi orientado pela Vigilância Sanitária a não realizar procedimentos cirúrgicos em sua clínica particular, no Jardim América, bairro de alto padrão de São Paulo. As informações são do jornal O Globo, que teve acesso ao relatório de inspeção feito pelo órgão da capital paulista, em 15 de junho deste ano.

Conforme o documento, os inspetores relataram ter encontrado irregularidades na Clínica de Cirurgia Plástica Landecker, que "põe em risco a saúde da população exposta, pacientes, profissionais e funcionários".

Devido aos problemas encontrados, a Vigilância Sanitária orientou o cirurgião "a não realizar nenhum tipo de procedimento cirúrgico, ficando permitido o atendimento de consultas médicas e procedimentos estéticos que não necessitem do instrumental cirúrgico".

Na ocasião da vistoria, segundo o jornal, a clínica não apresentou licença ambiental para a realização de cirurgias. A documentação apresentada aos fiscais permitiria apenas atendimentos médicos ambulatoriais.

Não cumpre boas práticas para processamento de produtos para saúde, não apresenta recursos humanos, equipamentos e estrutura física compatível com a legislação sanitária pertinente Trecho de relatório da Vigilância Sanitária

Ainda de acordo com a reportagem, a inspeção verificou a falta de "controle biológico para comprovação da eficiência do processo de esterilização" e que o profissional responsável por essas atividades não tinha formação de nível superior, o que é exigido pela legislação.

Os fiscais também encontraram produtos em frascos sem identificação e sem data de abertura que foram inutilizados na hora, além de cremes na sala de fisioterapia com data de validade expirada.

Em nota ao jornal, a SMS (Secretaria Municipal de Saúde) informou que uma nova vistoria foi realizada na clínica em 14 de outubro e que, naquela ocasião, foi constatado que houve obediência à interdição e que novos procedimentos cirúrgicos não eram realizados. A pasta disse ainda que segue acompanhando o caso e realizará novas vistorias caso seja necessário.

A Subprefeitura Pinheiros informou ao jornal que realizará na próxima segunda-feira uma nova fiscalização no estabelecimento "para verificar se a clínica possui o auto de licença de funcionamento".

Os advogados do cirurgião afirmaram ao jornal que o relatório final da inspeção da Vigilância Sanitária atestou "as perfeitas condições de atendimento clínico e ambulatorial, que sempre foram as únicas atividades feitas no estabelecimento. Não são e nunca foram feitas cirurgias na clínica, apenas em ambiente hospitalar terceirizado".

"Parei minha vida", diz ex-paciente

A Polícia Civil de São Paulo investiga os casos em duas delegacias da cidade. Os ex-pacientes se uniram e estimam ter ao menos 30 pessoas afetadas pelas condutas do médico.

Pacientes ouvidos pelo jornal O Estado de S. Paulo relatam que, após as cirurgias, enfrentaram infecções bacterianas e fúngicas, o que levou a perda de cartilagem, meses de tratamento com antibióticos, deformações no nariz e dificuldades para respirar. Um grupo no WhatsApp chamado "Pacientes do Alan" reúne 17 ex-pacientes que afirmam ter sofrido danos decorrentes do procedimento estético. Um deles, que prestou queixa contra o médico, diz ter listado 24 pessoas com relatos semelhantes.

O médico Thaissio Britto de Lima, 30, é um dos casos. Após a segunda cirurgia realizada com Landecker, em maio deste ano, afirma ter perdido o olfato e começado a sentir dificuldade para respirar. Hoje, ainda segue tratando a infecção com antibióticos. "Minha qualidade de vida piorou muito desde a cirurgia. Nesse período, engordei, tive que deixar de trabalhar, estou tomando antidepressivo. Foi uma coisa muito frustrante pra mim, fez eu parar minha vida", conta. Ele aguarda os prontuários médicos para prestar queixa.

Segundo a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, foram solicitados exames de corpo de delito para as vítimas que já prestaram depoimentos. Cinco casos são investigados pelo 15º DP e um pelo 34º DP. "Os laudos estão em andamento, e assim que finalizados, serão analisados pela autoridade policial. A oitiva do médico será realizada no decorrer das investigações", diz, em nota.

Parte dos pacientes foram operados em hospitais de elite da capital paulista, como São Luiz do Morumbi, Vila Nova Star, Sírio-Libanês e Israelita Albert Einstein. Após as denúncias, o cirurgião foi afastado de suas atividades no Vila Nova Star, no Sírio-Libanês e no Israelita Albert Einstein.

Os advogados de Landecker, Daniel Bialski e Fernando Lottenberg, afirmaram em nota ao UOL que consideram a decisão dos hospitais de afastar seu cliente uma ação "unilateral e precipitada", declarando ainda que os pacientes não seguiram as diretrizes indicadas pelo médico no pós-operatório.

Confira nota da defesa do cirurgião na íntegra, enviada ontem:

"Não são verdadeiras as acusações feitas por alguns ex-pacientes do Dr. Alan Landecker, que não seguiram o tratamento proposto ou abandonaram os cuidados e orientações que vinham sendo prestados no tratamento da infecção. Não pode, portanto, ser atribuída responsabilidade ao Dr. Alan por decisões unilaterais tomadas por esses ex-pacientes, que agora buscam reparação financeira.

Há imagens que comprovam o bom resultado dos procedimentos. As complicações relatadas foram posteriores e podem ter sido consequência de não se seguir as orientações médicas. Todas elas seriam reversíveis, caso os ex-pacientes se dispusessem a cumprir os protocolos.

Além disso, a grande maioria das infecções manifestou-se muito tempo após as rinoplastias — mais de 30 (trinta) dias— demonstrando que podem não estar relacionadas aos procedimentos cirúrgicos.

Todos os pacientes são orientados sobre riscos e cuidados, assinando um termo de ciência e sendo acompanhados por até três anos. As tentativas de difamar um profissional com 20 anos de carreira e mais de 4 mil cirurgias bem-sucedidas receberão a resposta adequada.

Quanto aos hospitais que decidiram suspender sua atuação profissional, entendemos que essa atitude é unilateral e precipitada, baseando-se apenas em matérias jornalísticas. A lisura das ações do Dr. Alan Landecker está sendo comprovada nos órgãos responsáveis pela apuração dos fatos."

Com informações do Estadão Conteúdo