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Faixa do PCC que proibia manobra de moto ficava a 600m de delegacia em SP

Herculano Barreto Filho

Do UOL, em São Paulo

27/12/2021 04h00

Uma faixa atribuída ao PCC (Primeiro Comando da Capital) com aviso de proibição de manobras radicais e barulho excessivo de motos sob pena de espancamento em Osasco, na Grande São Paulo, ficava a apenas 600 metros do 7º Distrito Policial do município.

A mensagem motivou as agressões gravadas em vídeo a um motociclista que desrespeitou a regra imposta pelo poder paralelo. Identificado, o homem agredido sofreu apenas ferimentos superficiais e não foi mais visto na região, segundo informou a mãe da vítima em depoimento.

A faixa estava instalada em uma rua na Vila Menck. Ao UOL, o delegado Cristiano Murillo, responsável pela investigação do caso, disse que ela foi retirada por fiscais da prefeitura na terça-feira passada (21), em uma ação com a presença de agentes da Polícia Civil —e não havia sido removida antes devido a "entraves burocráticos".

22.dez.2021 - Dois homens pareciam fiscalizar faixa com proibição e ameaça a motociclistas na Vila Santa Catarina, zona sul de São Paulo Imagem: Herculano Barreto Filho/UOL

A reportagem constatou a presença de faixas do tipo em ao menos três regiões da capital paulista. Uma delas já havia sido flagrada pela reportagem na Brasilândia, zona norte de São Paulo, onde dois PMs foram cercados e agredidos por frequentadores de um baile funk. Identificado e liberado pela Justiça, um dos agressores foi apontado pela polícia como membro do PCC.

Em outro flagrante registrado na quarta-feira (22), foi possível ver outra faixa na rua Comendador Alfaia Rodrigues, Vila Santa Catarina, zona sul. A imagem reproduz a mesma mensagens encontradas em outras regiões, com pequenas variações: "Proibido tirar de giro e chamar no grau. Sujeito a cacete".

Na gíria, o recado proíbe os motociclistas de empinar o veículo ou fazer barulho excessivo causado pelo aumento na rotação do motor, sob pena de agressão.

Acompanhados pela Polícia Civil, fiscais da prefeitura de Osasco retiram faixa atribuída ao PCC que motivaram agressão Imagem: Reprodução

Na ocasião, o UOL flagrou dois homens na calçada em frente à mensagem. A impressão era que eles estavam fiscalizando os veículos que passavam por ali. Em seguida, um motoboy passou lentamente e chegou a olhar para a esquerda, onde estava a dupla que observava a movimentação.

Também houve registro de faixa no Jaraguá, na zona norte, segundo fotos divulgadas em redes sociais.

Há investigações em andamento conduzidas pela Polícia Civil para apurar se há comprovação de envolvimento do crime organizado na colocação dessas faixas.

Moradores de Osasco se queixam de retirada de faixas

A reportagem circulou na quinta-feira (23) pelas ruas de Osasco, onde havia faixas com advertências a motociclistas. No Jardim Marieta, moradores que não se identificaram por medo de represálias lamentavam a retirada de duas faixas no dia anterior por policiais civis em frente a um campo de futebol. Eles temem que os motociclistas voltem a agir com imprudência na região.

Na Vila Menck, onde ocorreu o caso do homem agredido após zombar da faixa, a queixa era a mesma. Segundo os relatos, a imprudência dos motociclistas só foi interrompida após o recado com ameaça de corretivo a quem descumprir a regra, como ocorreu com o homem flagrado em vídeo.

Homem agredido tem antecedentes criminais

O motociclista agredido foi identificado e está sendo procurado para prestar depoimento à Polícia Civil, que investiga o crime de lesão corporal. O homem de 28 anos, que tem antecedentes criminais, não foi mais visto na região.

Apenas a mãe dele prestou depoimento para colaborar com as investigações conduzidas pelo 7º Distrito Policial de Osasco. Ela disse só ter sido informada das agressões após ser ouvida pela Polícia Civil e que desconhece o paradeiro do filho —afirma manter contato com o motociclista apenas pelo telefone.

"Há um inquérito para apurar as circunstâncias do fato. A faixa foi retirada. E, pelas informações passadas pela família, a vítima não sofreu ferimentos graves", disse o delegado Cristiano Murillo.

A Polícia Civil agora faz diligências em endereços relacionados ao homem agredido para tentar localizá-lo.

'Tô gravando esse vídeo pra me retratar'

O caso veio à tona após uma sequência de vídeos divulgada nas redes sociais. No primeiro deles, o próprio motociclista zomba da regra imposta pela facção criminosa de São Paulo. "Onde que tá as placa [sic] proibido embaralhar e tira [sic] de giro?". Em represália, ele foi submetido a uma sessão de espancamento e obrigado a gravar uma mensagem de advertência a quem descumprir a ordem.

A gravação com a mensagem, também atribuída à facção criminosa paulista, mostra a vítima em pé, levando um chute na barriga, sem esboçar reação. Em seguida, o agressor se aproxima e desfere cerca de 15 cotoveladas nas suas costas. A vítima cai. "Levanta", ordena um homem, que não aparece nas imagens. O motociclista então é atingido por outros dois chutes. No trecho seguinte, ele é obrigado a se desculpar.

Tô aqui gravando esse vídeo pra me retratar referente à situação de um vídeo que eu postei 'tirando de giro' com a moto e perguntando onde estavam as faixas. Quero deixar bem claro que essas faixas precisam ser respeitadas. Entendeu, mano?"
Motociclista agredido supostamente por integrantes do PCC

Ele ainda cita que os avisos são do "crime", em alusão ao PCC. "Quem tá colocando [as faixas] é a comunidade. É o crime, em prol da população, pra procurar melhoria devido à molecada estar tirando de giro, tirando um barato com o pessoal aí. Empinando, trazendo risco aí pra criançada e pros idosos aí", afirma.

Depois, é interrompido por um homem que grava as imagens: "Incomodando trabalhador, que não consegue dormir". O motociclista então reforça o recado. "É pra respeitar essas faixas. O crime vem impondo aí a melhoria da população".

Antes de finalizar a mensagem, o motociclista é mais uma vez interrompido pelo homem por trás da câmera, que o obriga a repetir a ameaça, explicando as consequências das agressões. "Quem fizer diferente, vai ser pego pra exemplo. Como eu tô sendo."

As disputas por poder e dinheiro dentro da principal organização criminosa do Brasil são narradas na segunda temporada do documentário do "PCC - Primeiro Cartel da Capital", produzido por MOV, a produtora de documentários do UOL, e o núcleo investigativo do UOL.

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