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'Gravando vídeo pra me retratar', diz agredido por zombar de faixa do PCC

Herculano Barreto Filho

Do UOL, em São Paulo

19/12/2021 04h00

Após ser espancado por desrespeitar uma faixa atribuída ao PCC (Primeiro Comando da Capital) com aviso de proibição a motociclistas de fazer manobras em Osasco, na Grande São Paulo, um homem foi obrigado a gravar mensagem com ameaça a quem burlar as determinações impostas pelo crime organizado. Anteriormente, o mesmo homem havia feito imagens nas redes sociais descumprindo a "regra".

Como punição por esse primeiro vídeo, ele foi agredido —supostamente a mando da facção criminosa que domina a venda de drogas em São Paulo. Uma faixa proibindo movimentos bruscos com moto já havia sido flagrada pelo UOL na Brasilândia, zona norte da capital, onde dois PMs foram cercados e agredidos por frequentadores de um baile funk. Identificado e liberado pela Justiça, um dos agressores foi apontado pela polícia como membro do PCC.

A faixa na Brasilândia exibia o recado: "proibido tirar de giro e chamar no grau. Sujeito a cacete. Não vamos admitir esses tipos de situação na comunidade". Na gíria, a mensagem era destinada a motociclistas, proibidos de fazer barulho excessivo ou empinar o veículo, sob pena de agressão.

O delegado Helio Bressan, da Seccional Norte, que investiga as agressões sofridas pelos policiais militares no baile funk na Brasilândia, diz que a faixa encontrada no local será alvo de investigações. "É possível perceber que há uma organização criminosa por trás disso. Essa faixa é colocada por alguém que está transgredindo a lei. Não foi colocada por uma autoridade constituída", avalia.

A mensagem é idêntica à encontrada no Jaraguá, também zona norte de São Paulo, e na Vila Menck, em Osasco, na região metropolitana.

Sequência de vídeos

Antes de ser agredido, o motociclista publicou stories em seu perfil no Instagram enquanto aumentava a rotação do motor da sua moto, seguida da mensagem: "Onde que as placa [sic] proibido embaralhar e tira [sic] de giro?".

Um outro vídeo mostra imagens do mesmo motociclista sendo espancado. Em pé, ele leva um chute na barriga —mas não esboça reação. Em seguida, o agressor se aproxima e desfere cerca de 15 cotoveladas nas suas costas. A vítima cai. "Levanta", ordena um homem, que não aparece nas imagens. O motociclista então é atingido por outros dois chutes.

No vídeo seguinte, ele é obrigado a se desculpar.

Tô aqui gravando esse vídeo pra me retratar referente à situação de um vídeo que eu postei 'tirando de giro' com a moto e perguntando onde estavam as faixas. Quero deixar bem claro que essas faixas precisam ser respeitadas. Entendeu, mano?"

'É o crime, em prol da população'

Ele ainda atribui as agressões ao "crime", em alusão à facção criminosa que atua na região. "Quem tá colocando [as faixas] é a comunidade. É o crime, em prol da população, pra procurar melhoria devido à molecada estar tirando de giro, tirando um barato com o pessoal aí. Empinando, trazendo risco aí pra criançada e pros idosos aí", afirma.

Depois, é interrompido por um homem que grava as imagens: "Incomodando trabalhador, que não consegue dormir". O motociclista então reforça o recado. "É pra respeitar essas faixas. O crime vem impondo aí a melhoria da população". Antes de finalizar a mensagem, o motociclista é mais uma vez interrompido pelo homem por trás da câmera, que o obriga a repetir a ameaça, explicando as agressões. "Quem fizer diferente, vai ser pego pra exemplo. Como eu tô sendo".

As disputas por poder e dinheiro dentro da principal organização criminosa do Brasil são narradas na segunda temporada do documentário do "PCC - Primeiro Cartel da Capital", produzido por MOV, a produtora de documentários do UOL, e o núcleo investigativo do UOL.