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Justiça solta agressor de PMs em funk; suspeito integrou PCC, diz polícia

Herculano Barreto Filho e Josmar Jozino

Do UOL, em São Paulo

06/12/2021 18h08

O homem preso em flagrante acusado de agredir dois policiais militares na manhã de domingo (5) em frente a um baile funk na Brasilândia, zona norte de São Paulo, já foi condenado por envolvimento em crimes como tráfico de drogas e roubo. Cleyton Tavares Boaventura, 40, é apontado pela polícia como membro do PCC (Primeiro Comando da Capital), principal facção criminosa do país.

Ele foi identificado nos vídeos que registraram as agressões, publicados por Josmar Jozino, colunista do UOL. Liberado hoje à tarde após audiência de custódia no Fórum Criminal da Barra Funda, Cleyton responderá o caso em liberdade, segundo informação confirmada pelo TJ-SP (Tribunal de Justiça de São Paulo).

As imagens mostram vários homens dando socos, chutes e jogando garrafas nos agentes, que estavam no local em perseguição a dois homens em uma moto com a placa encoberta. As agressões só foram interrompidas quando um dos agentes disparou na direção dos agressores, atingindo Cleyton no braço esquerdo.

PMs são agredidos por frequentadores de baile funk - Reprodução - Reprodução
PMs são agredidos por frequentadores de baile funk
Imagem: Reprodução

Segundo informações obtidas pelo UOL junto a fontes na Polícia Civil, o próprio Cleyton afirmou aos policiais "que pertencia à organização criminosa que atua dentro e fora dos presídios", em referência ao PCC. Os dados constam em boletim de ocorrência registrado para apurar o caso no 72º Distrito Policial (Vila Penteado).

Ele também tem antecedentes criminais por associação criminosa, porte ilegal de arma e receptação. Ferido por um tiro que atravessou o seu braço esquerdo e ficou alojado no peito, ele foi socorrido pelos próprios agentes e preso em flagrante por agressão aos policiais militares. O estado de saúde dele é estável, diz a polícia.

Ele responderá agora pelos crimes de lesão corporal, roubo de bem público (pelo roubo do rádio de comunicação), resistência qualificada, desacato, desobediência, apologia e incitação ao crime.

'Ele já pagou pelo que fez no passado', diz advogado

O advogado Renato Goulart Oliveira, que representa Cleyton, disse que ele é comerciante e "não oferece risco para a sociedade".

"Ele já cumpriu pena. Já pagou pelo que fez no passado. Hoje, ele é dono de um comércio lícito em frente ao local dos fatos e não oferece risco para a sociedade. Por isso, ele saiu", explicou.

O defensor também criticou a atitude dos policiais militares. "A Polícia Militar está despreparada. Dois agentes não podem entrar em um baile funk sem pedir por reforço. Mas o caso ainda está sendo apurado", analisa.

Em nota, a corporação disse que os agentes perseguiram suspeitos em fuga e só então perceberam que havia um funk no local. "Havia diversas pessoas em um baile, que derrubaram suas motocicletas [dos policiais militares] e passaram a agredi-los", diz um dos trechos do texto.

cleyton, pcc - Reprodução - Reprodução
Cleyton Tavares Boa Ventura, suspeito preso por agredir policiais em baile funk na Brasilândia
Imagem: Reprodução

Agressores tentaram roubar arma de PM

Os policiais militares informaram que iniciaram uma perseguição ao perceberem que dois homens circulavam sem capacete em uma moto com a placa encoberta na manhã deste domingo na região da Brasilândia.

Em fuga, os suspeitos abandonaram o veículo em frente a um local onde acontecia um baile funk na estrada Cachoeira, e fugiram a pé em meio à multidão. De acordo com a investigação, os policiais militares começaram a ser agredidos quando tentavam capturar os suspeitos.

Os policiais militares foram impedidos de fazer a abordagem e a identificação da moto. Aí, ocorreram aquelas cenas lamentáveis de agressão aos agentes, que estavam trabalhando regularmente"
Hélio Bressan, delegado da Seccional Norte

Os policiais militares afirmaram que os agressores tentaram roubar a arma de um deles e ainda levaram um rádio de comunicação. O PM alvo da maior parte das agressões diz que foi espancado e sofreu ferimentos na face.

A área onde ocorreu o conflito foi isolada e é preservada por policiais militares. Peritos do Instituto de Criminalística, da Polícia Científica de São Paulo, também foram mobilizados para ir ao local e tentar reunir o maior número de provas para identificar outros envolvidos no episódio.

As disputas por poder e dinheiro dentro da principal organização criminosa do Brasil são narradas na segunda temporada do documentário do "PCC - Primeiro Cartel da Capital", produzido por MOV, a produtora de documentários do UOL, e o núcleo investigativo do UOL.