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Em desenhos e relatos, crianças revelam dor e confusão após ataques a Paris

A portuguesa Cíntia de Oliveira ajuda a filha de 2 anos e meio a acender uma vela em homenagem às vítimas, no memorial da praça da República, em Paris - Carolina Vila-Nova/UOL
A portuguesa Cíntia de Oliveira ajuda a filha de 2 anos e meio a acender uma vela em homenagem às vítimas, no memorial da praça da República, em Paris Imagem: Carolina Vila-Nova/UOL

Carolina Vila-Nova

Do UOL, em Paris

22/11/2015 07h34

Quando viu pela TV o que estava acontecendo em Paris na noite de 13 de novembro, Cédric (nome fictício) se desesperou.

Puxou o filho de quatro anos de lado e se lançou num discurso frenético sobre a guerra na Síria, o jihadismo e o Daesh (a sigla em árabe que os franceses usam para se referir ao Estado Islâmico); falou em pessoas se explodindo e outras sendo assassinadas.

O menino não compreendeu tudo, mas compreendeu uma mensagem: é preciso trancar as portas. Passa o dia checando se as portas estão bem fechadas.
Uma brasileira explicou ao filho que “homens maus que não gostavam da França haviam machucado muitas pessoas”. Depois, falou à criança que não poderiam mais ir ao circo no fim de semana.

“Por quê? Os homens maus vão machucar os palhaços?”, perguntou o garoto de 4 anos.

Em uma charge exposta no memorial às vítimas da casa de shows Bataclan, um adulto olha para uma menina e se pergunta, resumindo o dilema dos pais franceses nestes dias: “Como explicar às crianças o inconcebível? Aquilo que ultrapassa o entendimento?”.

A portuguesa Cíntia de Oliveira estava na praça da República na última sexta-feira (20), ajudando a filha de 2 anos e meio a acender velas em memória dos mortos nos ataques.

“Ela ainda é muito pequena, mas tentei explicar que estamos vivendo uma situação muito complicada mas que precisamos ficar unidos e que a senhora ali em cima [a estátua representando a República] irá nos proteger”, disse ela.

Durante a semana, as escolas procuraram tratar do assunto, fizeram com que os alunos observassem um minuto de silêncio, e estimularam que fizessem desenhos para exprimir o que pensavam.

Nos memoriais às vítimas criados em cada um dos pontos atacados pelos terroristas, diversos desenhos revelam as dores mas também a confusão das crianças em torno do que aconteceu na cidade há pouco mais de uma semana.

Num dos exemplos mais tocantes, pessoas assistem a um show de música no Bataclan e comentam “bravo!” e “super espetáculo”, enquanto outras já estão sob a mira de homens mascarados armados e gritam “aahhhh” e “socorro”. O desenho foi feito por Amélie, 11.

Em outro cartaz, “ladrões” e policiais disparam tiros enquanto pessoas assistem a um concerto.

No desenho de Selina, 7, o Bataclan aparece com janelas rabiscadas de preto.

Para a francesa Dauphine Gérard, porém, mais difícil do que lidar com as crianças é tratar do assunto com jovens e adolescentes. “Há muito espaço para revolta”, disse.

“O impacto nos jovens é o mais complicado de lidar, porque eles questionam mais. As crianças aceitam as explicações mais facilmente”, opinou ela. “Pais e escolas vão ter de tratar disso.”