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Relatório mostra impotência da polícia diante de agressões a alemãs no Réveillon

6.jan.2016 - Policiais alemães diante da estação de trem de Colônia, local das agressões - Maja Hitij/AFP
6.jan.2016 - Policiais alemães diante da estação de trem de Colônia, local das agressões Imagem: Maja Hitij/AFP

Deborah Weinberg

09/01/2016 06h00

Um documento interno da polícia revelou toda a extensão da violência em Colônia, na véspera do Ano Novo. De acordo com o relatório, visto pelo “Spiegel”, os agentes foram vencidos e ficaram impotentes para ajudar algumas pessoas que pediram ajuda.

Os agentes da lei perderam o controle da situação em Colônia, na véspera de Ano Novo, segundo um relatório interno da polícia nacional da Alemanha, a Bundespolizei, obtido pelo “Der Spiegel”. O autor do relatório, datado de 4 de janeiro, é uma alta autoridade. Ela escreveu: “Mulheres, acompanhadas ou não, literalmente, passavam por massas de homens fortemente embriagados que formavam ‘corredores poloneses’ indescritíveis”. A horda em torno e dentro da estação de trem não se abalou com a presença da polícia. 

Segundo o relatório, os policiais encontraram muitos pedestres chorando assustados, especialmente mulheres e meninas. Eles registraram “brigas, furtos, agressões sexuais contra as mulheres, etc”. Grupos de imigrantes do sexo masculino foram muitas vezes apontados como perpetradores. 

A identificação dos responsáveis ??-especialmente dos autores de agressões sexuais- “infelizmente já não é mais possível”. O motivo: “As forças de segurança não conseguiram acompanhar todos os incidentes, assaltos, crimes, etc. Simplesmente, eram muitos acontecendo ao mesmo tempo.” A polícia foi frustrada em sua capacidade de ajudar todas as vítimas. Às vezes, sequer era possível registrar todas as reclamações apresentadas. 

O relatório traz vários exemplos das experiências dos policiais: 

Os agentes eram impedidos de avançar pela multidão para chegar às pessoas pedindo ajuda por aglomerados de homens. 

Um homem teria dito: “Eu sou sírio. Você tem que me tratar com gentileza. A senhora Merkel me convidou!” 

Testemunhas eram ameaçadas quando forneciam os nomes dos autores dos crimes. 

Pessoas rasgavam suas licenças de residência na frente da polícia, sorriam e diziam: “Vocês não podem me tocar. Amanhã eu passo lá e tiro um documento novo”. A autenticidade dos documentos rasgados não foi confirmada, contudo. 

As ordens para as pessoas deixarem as instalações eram ignoradas; devido à falta de recursos, não foi possível deter os reincidentes.

Quando as plataformas eram fechadas devido à superlotação, as pessoas simplesmente abriam caminho por plataformas adjacentes e pelos trilhos de trem de volta para a plataforma fechada. 

Havia brigas para entrar nos trens; era “cada um por si”. 

A situação, descrita no relatório como “caótica”, estava tão fora de controle que havia preocupações de ferimentos graves e até mesmo de morte, segundo o autor. Por isso o líder da operação decidiu evacuar a praça. O relatório observa que os policiais foram “bombardeados com fogos de artifício e alvejados com garrafas de vidro”. Mesmo depois de a praça ter sido esvaziada, houve “várias vezes confrontos físicos entre as pessoas, bem como entre grupos de pessoas, além de furtos e roubos em vários lugares ao mesmo tempo”. 

O autor do relatório faz uma declaração sombria: as ações dos policiais foram recebidas com um nível de desrespeito “como eu nunca tinha experimentado em meus 29 anos de serviço público”. Como havia muito poucos policiais em cena, os que estavam presentes “rapidamente atingiram o limite de sua capacidade”; eles trabalharam de 21h45 até 07h30. O relatório cita como problemas centrais um número insuficiente de policiais e equipamentos falhos, o que deixou os agentes da polícia sobrecarregados. O autor descreve toda a situação da noite de Ano Novo como “caótica e vergonhosa”. 

Desde o Ano Novo, a polícia de Colônia já recebeu mais de 100 queixas. Em uma declaração inicial na manhã do dia 1º de janeiro, o departamento de imprensa da polícia observou que a situação na noite anterior tinha sido “relaxada”. O Chefe de Polícia de Colônia, Wolfgang Albers, admitiu mais tarde que “a declaração inicial estava incorreta”.