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Obama escolhe especialista em projetar armas cibernéticas para liderar a NSA

Barack Obama nomeou o vice-almirante Michael S. Rogers (foto) como novo diretor da NSA - Gary Nichols/Marinha dos EUA/Efe
Barack Obama nomeou o vice-almirante Michael S. Rogers (foto) como novo diretor da NSA Imagem: Gary Nichols/Marinha dos EUA/Efe

David E. Sanger e Thom Shanker

Em Washington

31/01/2014 14h17

Ao nomear o vice-almirante Michael S. Rogers como novo diretor da Agência Nacional de Segurança(NSA) na quinta-feira (30), o presidente Barack Obama escolheu um reconhecido especialista na nova arte de projetar armas cibernéticas, mas que não tem um histórico no tratamento com questões de privacidade que colocaram a agência sob uma luz negativa.

ALVOS DE ESPIONAGEM

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Rede privada de computadores da Petrobras
Telefonemas e e-mails do Ministério de Minas e Energia do Brasil
Telefone celular da chanceler alemã, Angela Merkel
E-mail do ex-presidente do México Felipe Calderón

A decisão de Obama de nomear um oficial militar, ao invés de um civil versado em questões de liberdades civis, foi feita semanas atrás, quando ele rejeitou a recomendação do seu próprio conselho consultivo que a NSA e o Comando Cibernético deveriam ter diferentes lideranças. Por lei, o comando, uma organização que tem quatro anos de idade e foi criada pelo Pentágono para a guerra cibernética, deve ser dirigida por um oficial militar.

O resultado é que Rogers, atual chefe do Comando Cibernético da Frota, uma unidade que vem crescendo rapidamente na Marinha, vai estar na mira pública de um modo que nunca esteve em sua carreira militar de 33 anos. Já em suas audiências de confirmação, que devem começar no próximo mês, o almirante vai ser questionado sobre como implementará a série de mudanças anunciadas por Obama há duas semanas.

Mas muitos dos maiores problemas continuam sem decisão, incluindo quem vai manter o vasto banco de dados de informações telefônicas e atividades online dos americanos comuns que a NSA pesquisa em busca de potenciais terroristas ou agentes nucleares. E Obama adiou a decisão em torno da recomendação de seus consultores que a NSA parasse com seus esforços para enfraquecer a criptografia comercial e limitasse suas atividades à exploração dos pontos fracos nos software mais comuns para projetar armas cibernéticas.

“Mike está indo direto para o ninho de vespas das questões sobre as quais o presidente não decidiu”, disse um assessor do presidente. “E tudo vai se desenrolar em público”.

Isso já está acontecendo: os programas da NSA foram esfolados por defensores das liberdades civis, duramente criticados pelas empresas do Vale do Silício, que dizem que seus negócios estão sendo minados, e denunciados por aliados dos Estados Unidos que foram espionados de forma rotineira.

Ao fazer a nomeação amplamente esperada, o governo anunciou também sua escolha para vice-diretor da agência: Rick Ledgett, funcionário da NSA que vem chefiando a força-tarefa para avaliar os danos causados pelas revelações de Edward J. Snowden, o ex-funcionário terceirizado da agência. Claramente, o trabalho de Ledgett será o de por em prática uma série de mudanças internas destinadas a impedir uma repetição do que os funcionários chamaram de o maior vazamento de dados secretos da história dos EUA e lidar com seus efeitos que ainda persistem.

Ledgett chegou às manchetes semanas atrás quando, em uma entrevista no programa da CBS News “60 Minutes”, disse que “vale a pena conversar” sobre dar anistia a Snowden em troca de uma contabilidade completa do que ele retirou de escritório da NSA no Havaí, e onde está o resto dos dados não publicados.


A Casa Branca rejeitou imediatamente a ideia de uma anistia, mas o procurador-geral, Eric H. Holder Jr., disse recentemente que estaria aberto a falar sobre algum tipo de acordo com Snowden, caso ele voltasse da Rússia.

Se confirmado, Rogers irá suceder o general Keith B. Alexander, que já atuou como diretor da NSA por quase nove anos e foi o primeiro a dirigir tanto a agência de espionagem civil quanto o Comando Cibernético. Ele anunciou no ano passado que iria se aposentar em março. Desde então, Rogers tem sido considerado o mais provável sucessor, por causa de sua experiência em quebra de códigos -a razão pela qual a NSA foi criada pelo presidente Harry Truman, seis décadas atrás- e sua compreensão do novo arsenal de armas cibernéticas dos Estados Unidos.

Obama entrevistou o almirante na semana passada, embora o presidente tenha deixado o anúncio da nomeação para o secretário de Defesa Chuck Hagel, que estava na Polônia na quinta-feira. Hagel apontou para os desafios que o novo diretor terá de enfrentar em um comunicado, dizendo que “o vice-almirante Rogers trará qualificações extraordinárias e únicas para o cargo, enquanto a agência continua a sua missão vital e implementa as reformas do presidente Obama”.

Ele acrescentou: “Eu também estou confiante que o almirante Rogers tem a sabedoria para ajudar a equilibrar as demandas de segurança, privacidade e liberdade em nossa era digital”.

Um comunicado divulgado minutos depois pelo diretor nacional de inteligência, James R. Clapper Jr., não fez nenhuma referência às mudanças políticas propostas para a NSA ou a necessidade de se encontrar o equilíbrio sugerido por Hagel -um reflexo, talvez, dos argumentos que Clapper fez internamente que muitas das propostas minam a capacidade da NSA de proteger o país.

A nomeação de Rogers claramente será bem-vinda na comunidade de inteligência militar, onde ele é considerado um insider confiável. Ele começou sua carreira não na inteligência ou na eletrônica, mas na guerra de superfície tradicional. Ele foi comissionado por meio do corpo de treinamento de oficiais da marinha depois de se formar em Auburn em 1981 e trabalhou em combate no apoio naval, servindo em operações em Granada, Beirute e El Salvador.

Mas em 1986, depois de cinco anos em serviço, ele deu o salto que o preparou para o cargo que agora deve ocupar: Ele começou a se especializar em criptologia e a estudar eletrônica e guerra de informação. Uma série de atribuições em navios de guerra e grupos de transporte de ataque se seguiu, levando-o a participar de missões norte-americanas e da Otan nos Balcãs e no Afeganistão.

Onze anos atrás, quando os Estados Unidos estavam invadindo o Iraque, ele se juntou ao prestigiado Estado-Maior das Forças Armadas. Ele se especializou em ataques a redes de computadores -o que hoje é chamado de guerra cibernética- e, posteriormente, atuou em uma série de altos cargos que o levaram ao centro dos problemas enfrentados pelo Estado-Maior.

Em 2007, ele se tornou diretor de inteligência do Comando militar do Pacífico, onde a China, e as suas enormes capacidades espionagem cibernética, são uma prioridade. Dois anos mais tarde, ele se tornou diretor de inteligência do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas e, em seguida, foi nomeado chefe do Comando Cibernético da Frota, com responsabilidade por todos os esforços de guerra cibernética da Marinha.

“Não conheço nenhum outro oficial da Marinha tão hábil quanto ele em sintetizar pedaços aparentemente díspares de informação em um todo coeso”, disse um oficial militar que preferiu permanecer anônimo. “Ele conecta os pontos. Algumas pessoas veem os detalhes e pode descrevê-los. Rogers vê os detalhes e consegue contar a história”.

A Casa Branca não diz especificamente qual parte do histórico de Rogers foi considerada mais importante por Obama, mas a sua experiência na guerra cibernética sem dúvida foi um elemento importante, de acordo com as pessoas que lidam com o presidente e com seu nomeado. Desde os seus primeiros dias no cargo, Obama esteve secretamente imerso na maior missão ofensiva de ciberataque do país, um programa chamado “Jogos Olímpicos”, que visava a infraestrutura nuclear iraniana.

Não ficou claro se Rogers estava envolvido nessa operação. Mas se for confirmado no cargo, o crescente arsenal de armas cibernéticas do país estará sob o seu comando. Ele também vai herdar dezenas de novas equipes, com base nas forças especiais militares, criadas por Alexander para fornecer segurança cibernética para os militares e lançar ataques cibernéticos.

Tradução: Deborah Weinberg