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Ex-Seal da Marinha é investigado por livro sobre Bin Laden

Christopher Drew e Nicholas Kulish

01/11/2014 06h00

Um ex-Seal da Marinha, que escreveu um best-seller sobre a incursão que matou Osama bin Laden, está sob investigação criminal por revelar material confidencial, segundo autoridades federais e seu advogado.

O advogado do ex-SEAL, Matt Bissonnette, disse que a investigação se concentra em se Bissonnette revelou informação confidencial no livro, "Não Há Dia Fácil", publicado sob pseudônimo em 2012. Mas outras pessoas familiarizadas com o caso disseram que os investigadores pareciam mais interessados nas palestras remuneradas que Bissonnette, que diz ter sido um dos membros da Equipe 6 SEAL da Marinha que matou Bin Laden, dava em eventos empresariais.

Eles incluíram pelo menos uma palestra no ano passado, em um clube de golfe em Atlanta, no qual foi pedido a membros da plateia que desligassem seus celulares antes que ele falasse, para que nada fosse gravado, segundo pessoas presentes no evento.

Bissonnette pediu desculpas por não ter submetido o livro ao processo de revisão de segurança obrigatório do Pentágono.

Seu advogado, Robert D. Luskin, disse que achava que tinha chegado a um acordo no início do ano com as autoridades do Departamento de Justiça e do Pentágono para solução da disputa em torno das revelações do livro, fazendo Bissonnette abrir mão de alguns dos milhões de dólares em royalties que ele recebeu. Ele disse que também buscou proteger Bissonnette de quaisquer acusações criminais naquele acordo.

Mas em vez de aprovar o acordo, o Departamento de Justiça abriu uma investigação criminal em maio ou junho, e agentes federais já entrevistaram Bissonnette e outros, disse Luskin.

Bissonnette planeja publicar um segundo livro, "No Hero: The Evolution of a Navy SEAL", sob seu pseudônimo, Mark Owen, em 10 de novembro. Luskin disse que Bissonnette já submeteu o manuscrito, assim como os slides que ele preparou para suas palestras, para revisão do Pentágono. Ele disse não ter conhecimento de nada impróprio nas palestras e espera que a investigação criminal seja "resolvida favoravelmente".

As revelações de Bissonnette foram denunciadas por outros membros da equipe de elite SEAL, que assistiram enquanto vários outros ex-companheiros correram para publicar as histórias de suas operações. Mas Bissonnette questiona por que o Departamento de Justiça está apenas atrás dele., quando oficiais militares e funcionários da Casa Branca forneceram detalhes semelhantes para outros livros e filmes de Hollywood, disse Luskin.

"Matt não está se queixando do fato de ser obrigado a seguir as regras", disse Luskin. "Sua queixa é de que outros não são, e eles estão vazando informações prodigamente para atender seus próprios interesses."

Brian Fallon, um porta-voz do Departamento de Justiça, disse que não podia confirmar e nem negar a investigação, mas que é claro que um funcionário federal que não submete um livro para aprovação pode "ser impedido de lucrar" com sua publicação.

Luskin disse que Bissonnette decidiu escrever "Não Há Dia Fácil" depois que Leon E. Panetta, o então diretor da CIA, pediu aos membros da Equipe 6 SEAL para cooperarem com os produtores do filme "A Hora Mais Escura". Os cineastas se beneficiaram da extensa assistência da CIA e do Pentágono.

"A opinião de Matt era: 'Espera aí. Esta é nossa história, não a história deles'", disse Luskin. "'Por que essa história tem que ser contada pela boca de outros?'"

Panetta não pode ser contatado para comentários.

Muitos SEALs rejeitaram as preocupações de Bissonnette, dizendo que ele estava obrigado por juramento a manter a incursão em segredo e que as revelações em seu livro e em uma entrevista ao programa "60 Minutes", em 2012, podiam colocar SEALs em risco.


"Foi arraigado em nós sermos 'profissionais silenciosos'", disse um operador da Equipe 6 SEAL reformado. "Os caras saírem e escreverem livros, aparecerem na TV e fazerem outras coisas assim públicas vai contra esse valor central."

Bissonnette também arranjou para que membros da Equipe 6 SEAL trabalhassem em um filme promocional para um videogame, "Medal of Honor: Warfighter", e 11 SEALs foram disciplinados no final de 2012 por divulgarem informação tática.

Rick Nelson, um ex-oficial do Comando Conjunto das Operações Especiais e que agora faz parte do Centro para Estudos Estratégicos e Internacionais, disse que Panetta encorajar os operadores a falarem com os roteiristas não é uma desculpa.

"Isso não serve como justificativa para você escrever seu próprio livro", ele disse. "Se você acha que estão lhe pedindo algo impróprio, você deve seguir a cadeia de comando ou chamar o inspetor geral. Dois erros não resultam em um acerto."

Luskin rebateu que muitos detalhes semelhantes aos de Bissonnette sobre como a incursão se desdobrou  foram incluídos em um artigo na "New Yorker", em agosto de 2011; em "A Caçada", publicado por Mark Bowden em outubro de 2012; e em "A Hora Mais Escura", que estreou em dezembro de 2012.

"Diante do filme, do livro de Bowden e do artigo da 'New Yorker', está claro que muita gente que teve acesso a informação confidencial conversou de forma detalhada sobre a incursão", ele disse.

Mesmo assim, Luskin disse que Bissonnette, que correu para lançar o livro antes de Bowden, pediu desculpas às autoridades por não submeter seu livro a revisão pelo Pentágono, o que adiaria sua publicação. Ele disse que Bissonnette recebeu conselhos ruins de outro advogado de que não precisava, e acrescentou que um acordo negociado ainda era possível, em vez das acusações.