'Preso na situação': por que cão seguiu 'nadando no ar' após resgate no RS
Um vídeo que circula nas redes mostra um cachorro "nadando" no ar após ser resgatado de uma enchente em Canoas, município afetado pelas enchentes no Rio Grande do Sul.
Nas imagens, gravadas pela dentista Camila Heluany, o cachorro aparece ainda "nadando" após ser salvo. No vídeo, o cachorro resgatado faz o movimento enquanto é carregado por uma voluntária.
A fonoaudióloga Ana Paula de Freitas, 47, é protetora de animais há 25 anos na cidade de Camaquã e já resgatou mais de 100 animais em seu projeto, o Protetoras Animais. Ela relata que todos os animais chegam em aparente estado de choque.
"A maioria das cachorras que tentamos pegar foge e temos que ser delicados, ir aos poucos e pegar pela 'mãozinha'. Eles estão desesperados correndo de um lado pro outro. Alguns já foram atropelados e tremem sem parar", relata.
"Alguns animais que pegamos querem nos morder de medo, choram desesperados ou ficam amuados em um cantinho, com a cabeça para a parede, após o resgate. Estou sob tutoria de mais de 50 animais que minha equipe resgatou."
Como sua cidade não foi atingida pelas enchentes, Ana Paula tem realizado resgates nos municípios de Eldorado e Guaíba.
"Trouxemos para cidade de Camaquã para encaminhar para banho, atendimento veterinário, medicação, cirurgia, os que precisam, e todos estão em lar vários temporários. Enquanto isso, eles estão aqui, tem as protetoras aqui do meu projeto que são responsáveis por procurar as famílias deles."
O biólogo Kayron Passos, especialista em bem-estar animal, explica que é muito provável que os animais, como o cãozinho que continuou 'nadando', estejam em estado de choque nesse, mas é possível diagnosticar após avaliações veterinárias.
"Sempre que nosso sistema nervoso 'aprende' algo novo, ele cria uma nova sinapse. Sinapses são conexões entre neurônios que podem determinar aprendizados, memórias, mecanismos de ação fisiológica. Por exemplo, se estamos com a bexiga cheia, fechamos o esfíncter da uretra para não fazer xixi na calça", explica o biólogo.
"Quando passamos por uma situação traumática, nosso cérebro pode associar essa situação a uma resposta como gritar, chorar, comer demais, não fazer nada ou realizar um comportamento instintivo de sobrevivência — no caso do cãozinho, nadar. Quando ele se encontra em estado de choque traumático, o sistema nervoso está preso àquela situação e, consequentemente, repetindo as conexões estabelecidas nele e tende a esperar outro ataque constantemente", continua.
O biólogo explica que é o etograma, uma observação comportamental, que pode avaliar possíveis traumas. Nesta avaliação, são registrados os picos de atividade do animal, comportamentos que ele realiza, locais que prefere. Inclusive, impactos sazonais na espécie, ou seja, de acordo com as estações do ano.
"No etograma, a gente pode avaliar tudo, a depender do foco da observação. Por exemplo, se apenas para determinar padrões de comportamento, você vai anotar quantas vezes ele deita, quantas vezes dorme, quantas vezes forrageira, quantas vezes senta, quantas vezes vocaliza", diz o biólogo.
"Para verificar a intensidade do comportamento, você tem que contabilizar cada variação dele, comparar a quantidade de execução de outros comportamentos, quais situações afetam."
Mais de 20 mil animais foram encaminhados para abrigos
Pelo menos 20 mil animais já foram resgatados desde o início das chuvas no Rio Grande do Sul, segundo a Secretaria de Habitação e Regularização Fundiária.
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Quero receberPets resgatados são direcionados para abrigos, lares temporários e ONGs. O Governo do RS disponibilizou caixas de transporte, ração, chips e insumos para atendimento, além de veículo, barco e suporte logístico para acesso da equipe às regiões alagadas.
A procura por lugares para que famílias possam se abrigar junto aos pets é muito grande. A PUC-RS abriu um espaço para receber as pessoas resgatadas com seus animais de estimação. Atualmente, abriga 17 gatos, 43 cachorros e dois porquinhos da Índia.
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