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Mash Donald's, uma lanchonete que é a resposta do Irã ao McDonald's

Thomas Erdbrink

Em Teerã

04/08/2015 06h00

Apesar do palhaço sorridente, um símbolo do amor do Grande Satã pela carne, pão e batatas fritas, não havia turbas furiosas com punhos erguidos no ar, gritando "Morte à América"; nem o cheiro de bandeiras americanas queimadas permeava este bairro de Teerã.

O cheiro era de hambúrgueres suculentos, assados por um alegre adolescente iraniano chamado Jahan. Sua cozinha era coroada por um logo luminoso que parecia muito semelhante aos arcos dourados do McDonald's, talvez o símbolo mais conhecido do imperialismo americano em fast food.

A outra marca registrada conhecida da rede global, um palhaço de rosto branco sempre sorridente e com jaqueta vermelha, calças amarelas e enormes sapatos vermelhos, também estava presente em um grande cartaz, acenando para atrair os clientes.

Não, um McDonald's não foi aberto em Teerã apenas semanas após um acordo nuclear ter sido fechado, que reduzirá as sanções internacionais e, possivelmente, provocará uma mudança nas atitudes revolucionárias iranianas em relação às empresas americanas. Este é o Mash Donald's, a versão local iraniana.

"Estamos tentando chegar o mais próximo possível da experiência do McDonald's", disse o proprietário, Hassan, que não quis que seu sobrenome fosse publicado, por temer os linhas-duras iranianos e os advogados americanos de marcas registradas.

Ele estava arrumando as cadeiras de plástico vermelhas do lado de fora de seu minúsculo restaurante, as colocando próximas de uma grande lata de lixo amarela.

O Mash Donald's e outras imitações da cultura alimentar americana estão cada vez mais dominando as ruas das grandes cidades iranianas, símbolos de uma crescente ruptura com a narrativa revolucionária antiamericana oficial, que mais ou menos predominou desde a derrubada do xá em 1979 e a tomada da embaixada americana.

Essa narrativa está prestes a sofrer ainda mais pressão caso o acordo nuclear seja bem-sucedido e as empresas ocidentais retornem. Os líderes do Irã esperam por investimentos das grandes empresas petrolíferas, já que o país conta com algumas das maiores reservas de petróleo do mundo. Os iranianos também precisam de centenas de aviões e estão buscando parcerias para seus setores de tecnologia.

Mas a chegada de estrangeiros com dinheiro e ideias diferentes também pode minar ainda mais os valores propagados pelo Estado, alertam os linhas-duras. A mensagem deles: os estrangeiros podem vir, mas não podem trazer seus símbolos de indulgências capitalistas.

Assim, quando leitores atentos do site empresarial do verdadeiro McDonald's notaram recentemente que foi postada uma solicitação de franquia internacional para o Irã, isso criou agitação por aqui. Alguns políticos foram rápidos em alertar que não haveria um McDonald's no Irã.

Em uma declaração em seu site, aparentemente visando acalmar, mas não matar a especulação, o McDonald's disse: "Não temos uma data firmada para o desenvolvimento de restaurantes McDonald's no Irã", convidando ao mesmo tempo quaisquer iranianos interessados em uma oportunidade de franquia a completarem a solicitação.

Gholamali Haddad Adel, um legislador influente, disse ficar consternado quando vê as primeiras páginas de alguns jornais iranianos, vendo seus relatos de expectativa de empresas estrangeiras virem para o Irã.

"Onde estão as notícias do povo oprimido do Iêmen? Eles falam do retorno do McDonald's", ele disse em uma entrevista no Khabaronline, um site conservador. "Aqui está o perigo. Eles estão abrindo seus braços para os Estados Unidos e falam zelosamente sobre suas empresas."

Nenhuma rede americana de restaurantes genuína conta com estabelecimento no Irã, principalmente por causa da hostilidade do governo e das sanções que impossibilitam esses negócios. Em vez disso, proliferam imitações, com mudanças peculiares nos nomes que dão aos proprietários alguma negação plausível.

Além do Mash Donald's, Teerã tem um KFC (Kabooki Fried Chicken), uma Pizza Hut (Pizza Hat) e um Burger King (Burger House).

No Mash Donald's, Hassan, o proprietário, disse que usou o logo do McDonald's para atrair os clientes. "McDonald's significa qualidade. As pessoas no Irã também sabem disso. Assim, elas param aqui quando veem o Ronald McDonald", ele disse, apontando para o pôster do palhaço.

A semelhança com o par americano acaba na comida. Em um pôster tratado com Photoshop do lado de fora exibindo um caminhão do McDonald's, a propaganda diz: "Experimente nosso superlongo sanduíche Mash Donald's de 45 cm". Outro diz: "Sanduíche de Falafel Mash Donald's!" O sanduíche de falafel custa US$ 2,10, o sanduíche de 45 cm cerca de US$ 3,75.

Lá dentro, Jahan e um colega, Karim, permanecem por horas em meio ao cheiro de óleo de fritura, preparando a versão do Mash Donald's do Big Mac. Mas em vez de chamá-lo de Big Mash, o proprietário optou por "Mash Donald's baguette burger", uma mistura farta de carne, queijo e presunto de peru (preço: cerca de US$ 3). Não é o tipo de refeição que Hassan comeria. "Eu prefiro a comida caseira da minha esposa", ele disse. "Fast food deixa você supergordo."

Os clientes do Mash Donald's, entretanto, estão satisfeitos com a comida oferecida. "Este sanduíche de falafel é fantástico", disse Siavash Mirteki, 29 anos, um recruta da Marinha de Isfahan. Mas, ele acrescentou, "é claro que se o McDonald's vier, eu também irei lá. Quando fiz a peregrinação a Meca, nós íamos ao McDonald's toda noite".

Hassan disse que algum dia gostaria de realmente representar o McDonald's, mas ele duvida que isso acontecerá tão cedo. "Em nosso país, nós temos dois governos", disse Hassan. Rouhani representa o oficial, ele disse, o parabenizando por buscar melhorar as relações com os Estados Unidos. "Mas também há outros grupos, que ainda não gostam da América", ele disse. "Eles mal conseguem tolerar o Mash Donald's, muito menos a coisa real."