Topo

Empresas inovam para produzir verduras no gelado Alasca

Joshua Corbett/The New York Times
Imagem: Joshua Corbett/The New York Times

Kirk Johnson

Em Anchorage (Alasca)

07/01/2016 06h00

Em grande parte do Alasca, nesta época do ano, à medida que o inverno fica mais rigoroso com a escuridão e o frio, encontrar um bom pé de alface a um preço acessível pode ser como procurar ouro. Quando a distância entre o campo e a mesa é medida em milhares de quilômetros, as chances começam a ficar muito pequenas.

“A maioria dos nossos produtos agrícolas parece que foi atropelada por um caminhão”, disse Susie Linford, sócia administrativa da Alaska Coastal Catering, uma empresa localizada em Anchorage, a maior cidade do Estado.

Mas agora há esperança; a guerra pela salada começou. Duas pequenas startups, cada um com uma visão totalmente diferente de como cultivar hortaliças durante o ano inteiro, nas condições excepcionais do Alasca, abriram as portas.

“Esta cidade quer alface”, disse Jason Smith, fundador da Organics Natural Alaska, enquanto mostrava sua horta dentro de um antigo depósito de laticínios a 3,2 quilômetros do centro da cidade num dia tempestuoso, quando 5,5 horas de luz natural por dia é tudo o que os moradores podem esperar nesta parte do Estado.

Smith, 34, um veterano da infantaria da Marinha, planta verduras hidropônicas --na água, sem terra ou agrotóxicos, sob luzes LED azuis e vermelhas-- e vendeu sua primeira safra este ano.

A Vertical Harvest Hydroponics, outra empresa nova, planeja produzir verduras em lugares onde o clima pode impedir o transporte. Os três sócios da empresa, todos também na faixa dos 30 anos, estão reformando contêineres de carga e transformando-os em estufas que podem ser instaladas em porões de restaurantes, estacionamentos ou vilarejos remotos, onde não passam estradas e o único acesso --para as pessoas e as verduras-- se dá pelo ar ou pelo mar.

Cada contêiner pode produzir 1.800 pés de hortaliças e ervas simultaneamente e foi projetado para condições extremas, ou para o que Cameron Willingham, um dos fundadores da empresa, chama de “plantio no Ártico”.

“Nosso mercado-alvo são as comunidades do norte, onde se paga US$ 6, US$ 7 ou US$ 8 por um pé de alface”, disse ele.

“É difícil enviar coisas para lá”, acrescentou. “As verduras congelam na estrada.”

A agricultura urbana em ambientes fechados está florescendo em muitos lugares aparentemente improváveis do mundo. Uma empresa em Newark, Nova Jersey, está montando uma fazenda urbana enorme dentro de uma antiga fábrica de aço. Agricultores do Japão a Vancouver, Columbia Britânica, e os subúrbios de Chicago descobriram que pode ser rentável cultivar em espaços internos compactos, o mais perto possível do consumidor, ainda que os custos sejam mais altos do que nas fazendas distantes da cidade.

O que diferencia o Alasca, principalmente no que diz respeito aos alimentos, são as grandes distâncias e a logística complicada. Como a época de plantio é curta e não há estradas em muitos lugares, as verduras frescas costumam vir da Califórnia ou do México durante a maior parte do ano. Por causa da demora em chegar aos consumidores, as verduras começam sua jornada sendo colhidas antes de amadurecer, para reduzir a perda durante a viagem, dizem chefes de cozinha e especialistas. Isso prejudica a qualidade.

O Alasca importa cerca de 90% a 95% dos alimentos, disseram funcionários do Estado, colocando cerca de US$ 2 bilhões por ano nos bolsos de agricultores de fora do Estado.

Embora os produtos cultivados localmente tenham se tornado mais comuns nos últimos anos, agricultores e distribuidores de alimentos tendem a se concentrar nas maiores cidades do Estado, especialmente em Anchorage, deixando os moradores rurais de fora. As taxas de obesidade aumentaram mais rápido na zona rural do que nas áreas urbanas do Alasca de 1991 a 2012, informou um relatório sobre o Estado, embora os especialistas em saúde advirtam que outros fatores, desde o acesso a médicos até as altas taxas de tabagismo, também podem ter contribuído.

“Eu falo com donos de mercados que disseram ter parado de tentar encomendar frutas e verduras porque os sistemas de transporte simplesmente não funcionam”, disse Danny Consenstein, diretor-executivo da Agência de Serviços Agrícolas do Departamento da Agricultura do Alasca. Mesmo em muitas lojas que tentam estocar produtos frescos, Consenstein acrescentou, as frutas e verduras que são oferecidos “têm uma aparência péssima”.

“Fora isso, os preços são muito altos”, disse ele. “Posso entender porque algumas pessoas andam pelo corredor do mercado e dizem: 'sabe, prefiro comprar um pacote de batata frita'.”

Histórias como essa significam uma grande oportunidade, dizem investidores e produtores.

“Se você quiser começar algo assim, digamos na Califórnia, você vai concorrer com o Vale de San Joaquin e todas as fazendas tradicionais”, disse Forrest A. Nabors, um dos fundadores da Alyeska Venture Management, uma empresa de investimento de dois anos de existência que apoia empreendedores locais através do seu Fundo Accelerator Alaska.

Mas no Estado, acrescentou Nabors, que também é professor assistente de ciência política da Universidade do Alasca, a ineficiência do mercado de hortifruti significa que há espaço para novas ideias, ou, como ele diz: “uma margem confortável para testar, para produzir algo melhor a um preço competitivo.” O Fundo Accelerator foi um dos primeiros investidores da empresa de orgânicos de Smith e foi o maior contribuinte para sua startup inicial, que custou pouco menos de US$ 1 milhão.

Há também uma demanda clara, especialmente no Alasca rural, por empresas e empregos de pequena escala.

“A produção local de alimentos é uma coisa pela qual somos apaixonados”, disse Kyle Belleque, 40, que vive em Dillingham, cidade com cerca de cinco mil habitantes num distrito esparso a 560 quilômetros a sudoeste de Anchorage. “O problema é que, com um período tão pequeno de plantio, nós só nos concentramos em plantar para nós mesmos.”

Belleque e sua mulher, Johanna, 39, compraram uma unidade da Vertical Harvest que deve ser entregue nesta primavera, e estão em negociações preliminares com mercados e restaurantes locais que podem querer comprar verduras. “Com estes contêineres, de repente você está produzindo 12 meses por ano”, disse Belleque.

Uma hora da Vertical Harvest custa pouco menos de US$ 100 mil, ou mais se o comprador quiser acréscimos como energia solar.

Smith, da Alaska Natural Organics, prevê criar empregos em vilarejos através de versões menores de sua operação em Anchorage. Ele diz que está negociando com um grupo nativo do Alasca onde essas fazendas podem ficar e como os moradores locais podem ser treinados e empregados para cuidar delas.

Linford, a dona de bufê que comprou verduras de Smith, disse que parte do apelo é a beleza das verduras. Ao contrário de alguns orgânicos produzidos na terra que ela experimentou, que podem ter defeitos ou murchar por causa do transporte, as verduras de Smith são plantadas sem terra, em condições atmosféricas controladas. E para uma festa de inverno numa noite fria do Alasca, disse ela, não há nada melhor do que o sabor da verdura que acabou de ser colhida.

“Ele colhe uma hora antes dos eventos”, disse ela.

Produção cresce sob luzes na Organics Natural Alaska, uma fazenda vertical, orgânica e hidropônica em Anchorage - Joshua Corbett/The New York Times - Joshua Corbett/The New York Times
Produção cresce sob luzes na Organics Natural Alaska, uma fazenda vertical, orgânica e hidropônica em Anchorage
Imagem: Joshua Corbett/The New York Times