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Como as explosões afetaram o lado psicológico dos moradores de Nova York

Pedestres passam a cerca de um quarteirão do local da explosão, em Nova York - Yana Paskova/The New York Times
Pedestres passam a cerca de um quarteirão do local da explosão, em Nova York Imagem: Yana Paskova/The New York Times

Michael Wilson, Samantha Schmidt e Sarah Maslin Nir*

Em Nova York

19/09/2016 12h07

Enquanto detetives vasculhavam cada centímetro da cena da bomba em Chelsea no domingo (18), os nova-iorquinos faziam suas próprias investigações. Mas as deles eram voltadas para dentro, enquanto tateavam em busca de estilhaços psicológicos que uma explosão numa rua movimentada da cidade deve causar, tão prejudiciais quanto os que rasgam a carne.

Uma caminhada por Manhattan revelou aspectos dessas indagações, silenciosas mas intensas como refletores de cinema.

Suzie Shapiro chegou o mais perto que pôde da cena no domingo.

"É menos assustador quando você vê", disse ela, acrescentando que fez o possível para explicar a explosão para seus dois filhos pequenos. "Essa é a realidade de uma criança hoje."

Em um metrô com destino ao norte da cidade no domingo, um grupo de cantores se apresentava como em outro dia qualquer, mas ao descer do vagão acrescentou: "Fiquem em segurança". Momentos depois, o trem passou pela estação da Rua 23, perto do local da bomba. "Devido a uma investigação da polícia", disse o condutor em um tom entediado pelo rádio interno, como se fosse qualquer outro incidente.

Em seu apartamento a um quarteirão da explosão, a cantora Rosanne Cash escreveu no Twitter: "Estamos seguros e bem. Agradecemos o amor e a preocupação".

Câmera de segurança flagra momento da explosão

UOL Notícias

E outro morador próximo, Graham Mills, 52, não pareceu surpreso. "Era só uma questão de tempo", disse ele. "Existe esse espírito de Nova York que é meio: dane-se. Vamos seguir com a vida."

Seguir com a vida em Nova York tem sido uma obra em progresso há pelo menos 15 anos.

Em 2010, uma bomba encontrada em um carro Nissan estacionado em Times Square não detonou. O episódio abalou a cidade, enquanto os moradores falavam sobre a proverbial bala que errou por um triz. Mas essa bala está sempre lá, como todos se lembraram no último sábado.

Não houve mortes. Nova York havia escapado de mais uma bala?

Natalie Wollen, 11, acha que não. Ela disse que não queria sair de seu apartamento em Chelsea no domingo, mas afinal saiu para passear com o cachorro.

"Ainda estou assustada", disse ela, com os lábios trêmulos. A menina tinha ouvido notícias --mais tarde desmentidas-- de uma terceira bomba. "Se já havia três, poderia haver outra", disse ela.

Outro dono de cachorro, Sipho Simela, 31, saiu à rua, mas com um encolher de ombros, talvez mais apropriado a sua idade. "Minha mulher falou: 'O que você vai fazer?', e eu disse: 'Vou sair com o cachorro'."

Anos depois de 11 de setembro de 2001, alguns nova-iorquinos ainda usam esse dia como orientação, uma medida para examinar a ansiedade, como a placa de altura mínima diante da montanha-russa em um parque de diversões. Quando uma coisa dessas acontece, eles se perguntam: hoje parece tão ruim quanto aquele dia? Como está a linha na parede da minha psique? Melhor ou pior?

"Eu não sinto nada parecido com aquele tipo de intensidade", disse Merril Stern, sentada em uma lanchonete Starbucks perto do local da explosão.

Tyschelle Doucette, de Queens, foi cumprimentada pelo prefeito Bill de Blasio, e ela lhe disse, como se tentasse tranquilizar o líder de uma cidade assustada: "Eu estava aqui no 11 de Setembro. Quando acontece, acontece". O prefeito disse que ela é um exemplo para outros moradores.

Para Will Finnegan, 31, um ex-fuzileiro naval, a notícia da explosão lembrou os níveis de alerta total em que ele trabalhou no Afeganistão, onde ficou mobilizado por cinco anos. Ele foi para o trabalho checando com os amigos da vizinhança.

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Pollicial faz a guarda da região próxima ao local da explosão
Imagem: Yana Paskova/The New York Times

"Eu sei como atenuar o estresse e o medo", disse. Do mesmo modo, seu companheiro de quarto, Brandon Lanham, 31, que serviu no Afeganistão e no Iraque, disse: "Estou quase calmo demais para ser verdade". Ele disse que encontrou alívio no que ocorreu depois da explosão: "Suponho que seja alguém que quer chamar a atenção, e é um americano. Não foi bem colocada".

Para outros, as imagens da explosão vistas na televisão e nas telas de smartphones (um brilho forte e pessoas fugindo, olhando por cima dos ombros) pertenciam a outro lugar. Um lugar distante.

"Hoje nós vemos aqui o que antes só víamos no exterior", disse James Mitchell, 54, motorista da Access-a-Ride. "As galinhas vieram para o galinheiro." Ele pensou em 2001 e achou algo mais perturbador na explosão em Chelsea, segundo disse.

"É diferente, porque o alvo é mais aleatório que específico", explicou. "Realmente me faz pensar que a vida está ficando muito barata neste mundo."

Natalie, a menina de 11 anos que saiu com o cachorro, disse que é como todo mundo que nasceu nos últimos 15 anos. "Como não estávamos aqui no 11 de Setembro, nunca vivemos um período em que não tivéssemos medo", disse ela. "Eu aprendi a aceitar que esse tipo de coisa vai acontecer."

No centro da cidade, sentada em um banco em West Village, uma mãe de 51 anos, Maria Lugo, foi obrigada a concordar. Ser mãe hoje em dia é conhecer o medo, disse.

Lugo cresceu no Bronx, onde "não me deixavam nem brincar lá fora". Hoje tem um filho de 13 anos. "Ainda me preocupo com os valentões, os traficantes, os tiros, as facadas... Além disso, também me preocupo com isto."

Ela está lutando, como muitos outros, para colocar a bomba de Chelsea no contexto de sua vida e administrar a ansiedade que ela causou. "Não facilitou", disse. "Quando você pode dizer 'Sabe de uma coisa? Tudo bem'. Você está sempre preocupada com alguma coisa."

De volta a Chelsea, do outro lado da rua do local da explosão, um menino de 3 anos, Aiden Li, fez seu relato do acontecimento: "Eu ouvi o trovão", disse. "Eu subi no papai."

Seu pai, Kyle Li, não o corrigiu. Mas lamentou o que disse que perdeu na noite de sábado. "Em frente à minha casa, aquele camburão de lixo está despedaçado. E agora a cidade inteira parece diferente."

* J. David Goodman, Lauren Hard e Emily Palmer colaboraram na reportagem.