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Votação antecipada pode dar vantagem a Hillary bem antes de 8 de novembro

Rick Wilking/ Reuters
Imagem: Rick Wilking/ Reuters

Jeremy W. Peters

12/10/2016 06h00

Com a votação antecipada já em andamento em muitos dos Estados que decidirão a presidência, Hillary Clinton está começando a colher os frutos dos anos de esforços do Partido Democrata para registrar eleitores, mesmo com o Partido Republicano constantemente reduzindo sua desvantagem nessa área.

A primeira onda de dados de Estados como a Flórida e Carolina do Norte mostram sinais preliminares de que Hillary já estava construindo uma ligeira vantagem antes mesmo da revelação de Donald Trump se gabando de abuso sexual ter sacudido a disputa.

Os democratas estão requisitando mais cédulas para voto pelo correio na Flórida do que a esta altura em 2012, com aumentos de 50% nas áreas altamente latinas ao redor de Miami e Orlando. Na Carolina do Norte, onde Mitt Romney construiu uma vantagem na votação antecipada quatro anos atrás, obtendo uma vitória sobre o presidente Barack Obama, os democratas estão pedindo cédulas para votação pelo correio em maior número do que em 2012, enquanto a participação dos republicanos está caindo.

Esses resultados terão um maior efeito do que nunca neste ano, à medida que um número recorde de pessoas deverá votar antecipadamente. Tantos americanos já terão votado no dia da eleição (mais de 40% nos Estados indefinidos, segundo a campanha de Hillary), que o vencedor pode ser conhecido antes de novembro.

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Mas apesar da crescente vantagem de Hillary nas pesquisas, sua campanha para derrotar Trump nos esforços de mobilização dos eleitores está avançando por um caminho tênue.

Em nenhum lugar a guerra de trincheiras em torno do registro e votação antecipada está mais apertada e é mais vital do que na Flórida. Em um sinal de quão estreita poderia ser a margem de vitória, o Partido Democrata processou o governador republicano, Rick Scott, para prorrogar o prazo de registro dos eleitores, que era até esta terça-feira, devido às disrupções causadas pelo furacão Matthew. Na segunda-feira, um juiz federal concordou em prorrogar o prazo em um dia e marcou uma audiência para quarta-feira, para considerar se o estenderia ainda mais.

Fora uma imensa reviravolta em outros Estados indefinidos, Trump perderá a disputa se perder na Flórida. Os republicanos do Estado reduziram significativamente a diferença de registro de eleitores em relação aos democratas, que era de mais de meio milhão de pessoas há quatro anos. Até meados de setembro, a diferença tinha caído para pouco mais de 274 mil. Os republicanos também estão aumentando seus números na Carolina do Norte, Nevada e Pensilvânia.

"Nós realmente mudamos as margens em muitos desses Estados", disse Chris Young, o diretor nacional de campo do Comitê Nacional Republicano. "E a realidade é que os democratas estão sem tempo em relação ao registro de eleitores. Na maioria dos Estados, eles tiveram uma semana, talvez duas no máximo."

Geralmente, as últimas semanas antes do término do prazo de registro dos eleitores são as mais frutíferas para os democratas. E Robby Mook, um diretor de campanha de Hillary, disse estar confiante de sua posição na Flórida e em outros Estados indefinidos.

"Estamos literalmente no maior pico de registro de eleitores de nossa campanha", ele disse na semana passada, durante uma teleconferência com repórteres, na qual pediu a Scott que prorrogasse o prazo devido ao furacão. "O presidente Obama com certeza viu a mesma coisa em 2012. Logo, sabemos que vocês verão mudanças nos números, mas levarão um pouco de tempo."

Os pedidos para votação pelo correio entre os latinos na Flórida, acrescentou Mook, subiram 77%. E os dados de registro dos eleitores ali apoiam a afirmação dele de que estão votando no Partido Democrata em números sem precedentes. Desde 1º de janeiro, apenas 16% dos novos eleitores latinos se registraram como republicanos. Isso representa uma queda significativa em comparação aos eleitores latinos que se registraram antes de 2013: 28% deles se registraram como republicanos, segundo Daniel A. Smith, um professor de ciência política da Universidade da Flórida.

A campanha de Hillary fez um esforço ambicioso para encontrar prováveis simpatizantes, identificando e modelando o comportamento de votação de cada eleitor nos Estados indefinidos.

Poucos Estados deverão ter resultado tão apertado quanto a Flórida, onde Obama venceu por apenas 73 mil votos em 2012, e a Carolina do Norte, onde perdeu por 97 mil votos e onde as pesquisas agora mostram um empate estatístico entre Hillary e Trump.

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As indicações iniciais são de que os esforços da campanha de Hillary na Carolina do Norte estão dando resultado. Se Trump não vencer ali, seu caminho para os 270 votos do Colégio Eleitoral necessários para chegar à Casa Branca se tornará muito mais complicado e incerto, isso presumindo que ele vença na Flórida.

Segundo uma análise da votação antecipada nos 10 condados mais populosos da Carolina do Norte, realizada por Michael McDonald, um professor assistente de ciência política da Universidade da Flórida, os pedidos de cédulas aumentaram 17% em comparação a 2012 entre os democratas registrados e caíram 27% entre os republicanos. Isso sugere que a fraqueza de Trump nas áreas urbanas e suburbanas pode o prejudicar seriamente entre os republicanos, como muitos esperavam.

Trump precisa de uma vantagem na votação antecipada pelo correio para ajudá-lo a compensar a imensa vantagem que os democratas terão assim que a votação em pessoa tiver início em 20 de outubro. A organização de Romney em solo na Carolina do Norte lhe deu uma vantagem sobre a campanha de Obama na votação pelo correio em 2012, o ajudando a vencer no Estado.

Apesar de haver poucos dados para apontar qualquer tendência conclusiva na votação antecipada, a campanha de Hillary disse estar vendo sinais encorajadores em outros Estados, inclusive no Meio-Oeste, onde Trump torce por um aumento no apoio da classe operária.

Em Ohio, onde as pesquisas antes mostravam uma liderança de Trump, a disputa ficou acirrada recentemente. Os pedidos de cédulas para votação antecipada pelo correio no altamente democrata condado de Cuyahoga, onde fica Cleveland, representaram um dentre seis pedidos no Estado, disse Mook. Em 2012, 41% dos eleitores no condado votaram antecipadamente e o número deverá subir neste ano.

Mas o investimento do Comitê Nacional Republicano no desenvolvimento de um programa mais sofisticado de identificação e registro de eleitores está ajudando o partido a compensar o tempo perdido. Equipes percorreram os Estados indefinidos, com funcionários segurando pranchetas visitando as filas no Departamento de Veículos a Motor em Las Vegas, as igrejas evangélicas latinas na Flórida e estações de trem na Virgínia.

Isso representa uma mudança em relação aos anos em que o partido fracassou em criar uma rede capaz de competir com a que a campanha de Obama criou a partir de 2007. Para aumentar o desafio, o Partido Republicano teve que assumir o trabalho pela campanha de Trump, que negligenciou realizar o tipo de esforço de contato com o eleitor realizado por Romney e outros candidatos.

"Ambos aprendemos que é preciso mudar o eleitorado", disse Young, o diretor de campo do Comitê Nacional Republicano. "Foi isso o que Obama fez tão bem e é o que estamos fazendo agora."

Mas os republicanos não estão vendo nenhuma tendência animadora clara na votação antecipada. Em Iowa, por exemplo, os pedidos de cédulas para votação antecipada pelos democratas apresentavam uma queda significativamente maior do que entre os republicanos, mas após o primeiro debate, McDonald, da Universidade da Flórida, notou que os pedidos entre os republicanos dali caíram ainda mais, algo que ele disse poder ser atribuído ao desempenho amplamente criticado de Trump.

 

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Os republicanos registrados na Flórida também estão à frente dos democratas em número de pedidos de cédulas para votação antecipada pelo correio, mas por uma margem de apenas 81 mil. Em Nevada, há quase 23 mil republicanos a mais registrados do que em 2012, enquanto os democratas adicionaram apenas cerca de 4.000. Mas os democratas ainda superam os republicanos em número no Estado, onde pesquisas recentes mostram uma disputa presidencial muito apertada.

Na Pensilvânia, os republicanos adicionaram quase 40 mil eleitores registrados. Mas os democratas, que perderam quase 180 mil, ainda contam com uma vantagem de cerca de 900 mil.

A pergunta, disseram estrategistas republicanos, é se o trabalho deles para alcançar os democratas levará mais tempo para dar frutos. Até o momento, a resposta parece ser que sim.

"Eu preferiria ser aquele com a vantagem de 900 mil", disse John Bradender, um veterano diretor de campanha republicano na Pensilvânia e que cuidou da candidatura presidencial de Rick Santorum em 2012 e 2016.