Opinião: Caso de Trump pode ajudar mulheres no combate ao abuso sexual
Há uma semana, parecia altamente improvável para a maioria das pessoas que Donald Trump, e não Hillary Clinton, seria o candidato que mais provavelmente provocaria uma mudança na cultura de como pensamos e falamos sobre abuso sexual. Mas desde a divulgação na sexta-feira de uma gravação na qual Trump basicamente admite ter o hábito de abusar sexualmente de mulheres, uma série de histórias envolvendo o candidato republicano parece estar fazendo exatamente isso.
Considere a história da ex-repórter da revista "People", Natasha Stoynoff, que teria sido prensada em uma parede por Trump e beijada em 2005.
Stoynoff optou por seguir em frente com sua vida em vez de falar publicamente sobre o que ela diz que Trump fez com ela. Mesmo sendo uma mulher que trabalha e entende de mídia, ela escreve que ainda culpava parcialmente a si mesma até este ano, acreditando que em algum nível, ela de alguma forma encorajou aquilo.
Ela não conseguia se livrar da ideia de sua própria culpa até o momento em que ouviu a gravação de Trump dizendo que tinha o hábito de fazer essas coisas. "Eu finalmente entendi que não fui responsável pelo comportamento impróprio dele", ela escreveu.
As escolhas dela e o pensamento dela, todos esses anos antes de contar sua história, soam familiares. Muitas mulheres da idade dela ou mais velhas ainda responderiam a essas circunstâncias da mesma forma, com silêncio e vergonha. Com certeza Jessica Leeds, que falou ao "New York Times" sobre um encontro no qual ela disse que Trump a apalpou em um avião, que ocorreu em uma época em que era ensinado às mulheres que "era nossa culpa", como ela colocou. A própria campanha de Trump parece estar trabalhando arduamente para perpetuar esse tipo de pensamento que culpa das mulheres: Eric Trump disse em agosto que uma "mulher forte e poderosa" como sua irmã, Ivanka, não permitiria que assédio sexual acontecesse com ela.
Essa não é a primeira vez que o assunto das investidas sexuais indesejadas de um homem surge de forma inesperada em meio a um processo político e então passa a dominá-lo.
Quatorze anos antes da experiência de Stoynoff, a professora de Direito Anita Hill testemunhou, durante as audiências de confirmação do ministro da Suprema Corte, Clarence Thomas, que este a assediou sexualmente quando ela trabalhava para ele na Comissão de Oportunidades Iguais de Emprego, entre todos os lugares. No ano seguinte, um número recorde de mulheres foi eleito para o Congresso, muitas delas, algumas pessoas argumentaram, apoiadas por mulheres enojadas não apenas com a história de Hill, mas também pela visão de tantos homens brancos no Comitê Judiciário do Senado pressionando Hill, uma mulher negra, sobre suas motivações e questionando seu caráter.
Se a história individual de Hill de assédio sexual teve o efeito de mobilizar as mulheres, imagine o que poderia acontecer agora que a questão é de abuso sexual, já que várias mulheres se apresentaram para falar sobre a forma como Trump apalpou seus corpos.
A mensagem da experiência de Hill foi esta: se você não acha que é importante, se você não acha que isso acontece às mulheres todo dia, então você não entende. Nos últimos anos, uma insistência de que é direito da mulher viver livre de assédio ou abuso sexual ganhou nova força, à medida que mulheres nos campi universitários assumiram fortemente a causa.
No ano passado, dezenas de mulheres se apresentaram para contar suas histórias de terem sido atacadas sexualmente por Bill Cosby, empoderando outras mulheres a falarem sobre suas próprias experiências, em vez de permanecerem em silêncio por temor de serem desacreditadas. Hillary Clinton disse, usando as palavras do feminismo atual, que toda vítima de estupro tem "o direito de ser acreditada". (Os apoiadores de Trump usaram essas palavras contra ela, revendo seu papel como advogada de defesa em um caso de estupro de criança em 1975, ao mesmo tempo em que negam a credibilidade das mulheres que acusam Trump de tê-las molestado.)
Mas a história de Stoynoff aponta para a durabilidade das ideias bíblicas arraigadas sobre os modos pecaminosos das mulheres que seduzem os homens. Também testemunha as vantagens inevitáveis conferidas pelo poder àqueles que o tem. Assim, o que exatamente seria necessário para que mais mulheres se sintam empoderadas, para que aumente a conscientização dos homens sobre o assunto?
Talvez esta eleição presidencial, entre todas as coisas, seja outro marco. Desgastante e sórdida ou não, ela colocou assuntos de sexo, poder e gênero no centro da conversa nacional, não no espaço periférico normalmente reservado para as questões da mulher na mídia. Uma coisa é ser um leitor passivo das notícias sobre Cosby, ou da situação enfrentada pelas mulheres jovens nos campi universitários; outra é o público considerar suas escolhas eleitorais diante de questões desse tipo.
Estranhamente, há no momento ultraje a respeito de apalpação indesejada a mulheres tanto entre republicanos quanto democratas, homens diferentes, vítimas diferentes, mas a mesma ideia. Há alguma questão bipartidária mais relevante, mais emocional, do que esta?
Talvez Trump seja o presente supremo para as feministas: um apalpador e gabador que voltou a atenção do mundo para os ultrajes suportados silenciosamente pelas mulheres de forma crônica sem serem notados. E talvez possamos ver agora a resposta de meados dos anos 90 às próprias acusadoras de Bill Clinton, subjugada e defensiva entre os liberais devido às suas políticas pró-mulheres, como uma oportunidade perdida, uma mudança cultural que poderia ter se somado ao impulso provocado por Hill, mas que nunca ocorreu.
As histórias que surgem sobre Trump, assim como suas próprias palavras, poderiam dar às mulheres uma nova forma de verem suas próprias experiências com abuso sexual avançarem, como parte de um padrão de comportamento masculino notado, sinalizado e repudiado em alto e bom tom.
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