São Paulo perdeu muito mais do que ganhou com as faixas exclusivas de ônibus
Desde 2013 foram implantados aproximadamente 320 quilômetros de faixas exclusivas para ônibus na cidade de São Paulo (70% nas zonas sul e leste), número que não para de crescer.
Os ganhos disso foram o menor tempo de viagem para os passageiros de ônibus, e também o menor custo operacional do sistema, por economia de combustível e menor desgaste dos ônibus.
A capacidade do sistema de ônibus não aumentou, pois o sistema não foi reformulado, e não foi aumentado o número de partidas. Os ônibus chegam mais rapidamente nos terminais, e ficam mais tempo parados aguardando a hora da partida seguinte.
Para aumentar a eficiência e a capacidade do sistema de ônibus seria preciso muito mais do que simplesmente pintar faixas nas ruas. Seria preciso reestruturá-lo, construindo mais terminais e mais corredores, eliminando a superposição de linhas, trazendo racionalidade para o sistema.
Mas o setor vive pesadas incertezas. Os contratos de concessão expiraram, as empresas de ônibus estão operando com termos aditivos e sem garantias de continuarem operando no futuro próximo, e minguaram os investimentos no setor. A frota envelheceu além do admissível, e hoje mais de 10% dos ônibus do sistema estrutural têm mais de dez anos de idade, sob a complacência da Secretaria Municipal de Transportes. A frota está diminuindo, aumentando o já excessivo tempo de espera nos pontos de parada.
A prefeitura bem que tentou reorganizar o sistema, fazendo o secionamento de linhas, o que obriga os passageiros a trocar de ônibus, com desconforto e perda de tempo. Se a reorganização do sistema tivesse sido feita concomitantemente com a implantação das faixas exclusivas, a perda de tempo do secionamento seria compensada pela viagem mais rápida.
Porém o cronograma político de implantação dissociou as coisas, primeiro dando velocidade e depois tentando forçar a reorganização. Houve grita geral para não perder as vantagens existentes, e a prefeitura paralisou a reorganização.
Esse novo modelo aumentaria a capacidade e diminuiria os custos elevados do sistema, que em 2014 tem previsão de R$ 1,6 bilhão de subsídio, podendo facilmente estourar para perto de R$ 2 bilhões. É caro e ineficiente transportar grandes massas de pessoas por ônibus, com custo de R$ 4,13 por passageiro, ao passo que os passageiros do sistema CPTM custam R$ 2,62, e os do metrô apenas R$1,95 (Fonte: Fórum de Mobilidade Urbana do MP/SP 2013).
Com os ônibus envelhecendo e demorando mais para passar nos pontos, sem aumento de capacidade, o ineficiente e caro sistema pode começar a espantar seus passageiros.
Se os ônibus têm problemas, pior ficou o trânsito da cidade. Por efeito direto da implantação das faixas exclusivas o congestionamento médio diário na cidade no pico da tarde saltou de 372 quilômetros em 2012 para 444 quilômetros no início de 2014, uma piora de quase 20% (Fonte: Veja São Paulo/Maplink, 19/03/2014, pg. 44).
O modo de transporte individual na cidade de São Paulo e na região metropolitana transporta diariamente mais pessoas que o modo ônibus (Fonte: Pesquisa de Mobilidade Urbana do Metrô, de 2012), sendo portanto falacioso sustentar que em São Paulo os ônibus transportam mais pessoas que os carros.
Considerando que 25,2% das pessoas com renda familiar de até R$ 1244 deslocam-se de transporte individual, e 75,9% das pessoas com renda familiar superior a R$ 9330 o fazem (Fonte: Pesquisa de Mobilidade Urbana do Metrô, de 2012), o resultado econômico desse balanço é um prejuízo bilionário para a cidade em termos de quantidade e valor das horas perdidas nos congestionamentos.
Aumentou a velocidade dos ônibus, diminuiu a dos automóveis, e o pessoal dos carros continua não cabendo nos ônibus, e muito menos nos trens do metrô ou da CPTM.
O que sobrou para São Paulo? A cidade perdeu muito mais do que ganhou. A cidade, que já se desindustrializou, se torna cada vez mais um ambiente hostil para negócios e para o turismo. São Paulo está crescendo menos que outras regiões do interior do Estado e do Brasil, e começa a marcar passo, perdendo oportunidades de negócios.
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