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Em cinco anos, pessoas com cidadania brasileira serão astronautas ou turistas espaciais

Especial para o UOL

29/05/2014 06h00

Quando eu era criança costumava dizer que queria ser piloto. Astronauta era parte do meu sonho, mas como um segundo passo. Era algo ainda sem perspectiva no Brasil, negócio de americanos e russos apenas. Entretanto, ser piloto era algo mais próximo. Eu podia me ver, no futuro, pilotando aqueles aviões do aeroclube da cidade. 

Mesmo assim, quando eu falava do meu sonho de ser piloto, o que eu mais ouvia era piadinhas, conselhos e razões para eu desistir daquela ideia. O apoio veio de casa, dos meus pais, e da escola, dos meus professores. E eles estavam certos. Eu acreditei neles e realizei meu sonho. 

Após a realização da Missão Centenário, que foi minha primeira missão espacial, aliás, a primeira missão espacial da história do Brasil, muitos jovens passaram a acalentar o sonho de também serem astronautas profissionais. Uma mensagem para os pais e os professores: acreditem nos seus filhos e alunos e os incentivem.

Hoje o cenário é muito diferente daquele que havia quando eu era adolescente, nos anos 70. Hoje existe perspectiva, o Brasil está inserido em um cenário de destaque internacional e há investimento em tecnologia. Os jovens têm boas chances de realmente se tornarem astronautas profissionais no futuro. Mensagem para você, que é jovem e tem um sonho de se tornar astronauta: acredite! Não deixe que ninguém, especialmente você mesmo, destrua o seu sonho.

Considerando que o Brasil ainda não tem nenhuma empresa para transporte regular de astronautas e carga para a Estação Especial Internacional (ISS), o jovem que deseja qualificar-se como o segundo astronauta profissional brasileiro precisará cumprir os seguintes requisitos mínimos:

  • Ser brasileiro(a) nato(a)
  • Ter formação superior em exatas ou biológicas
  • Ter idade entre 25 e 45 anos
  • Fluência em inglês
  • Ser selecionado para ser astronauta brasileiro por um processo de seleção público realizado pela Agência Espacial Brasileira (AEB), que inclui exames de saúde, conhecimento acadêmico e experiência profissional
  • Não precisa ser militar (a carreira de astronauta é CIVIL). Não precisa ser atleta. Não precisa ser piloto. A carreira é aberta a ambos os sexos

No momento, apesar do atraso nos cronogramas de desenvolvimento nos veículos privados, acredito que, dentro dos próximos cinco anos, teremos pessoas com cidadania brasileira indo ao espaço.

Alguns irão como turistas espaciais; outros, como astronautas profissionais estrangeiros com dupla cidadania, voando para um empreendimento comercial estrangeiro, já que não temos nenhuma empresa brasileira desenvolvendo espaçonaves nacionais. Talvez até vá algum como astronauta profissional estrangeiro com dupla cidadania, voando por outro país, como é o caso do americano-peruano Carlos Noriega, que é contratado pela NASA e voa com a bandeira americana.

Se realmente houver pessoas com cidadania brasileira voando em uma dessas possibilidades nos próximos anos, é provável que algumas delas tentarão se autoproclamar como o segundo astronauta brasileiro. Sem dúvida, aplaudirei o esforço pessoal necessário para participar em qualquer tipo de voo espacial. 

Porém, em termos de Programa Espacial Brasileiro, o que interessa de fato, e o que eu reconhecerei como o verdadeiro segundo astronauta profissional brasileiro, é aquele que possa, de fato, servir ao nosso país, repartindo comigo o trabalho em prol da educação, ciência e tecnologia do Brasil. Espero que esta pessoa seja você, que está lendo este artigo neste momento e sonhando em carregar nossa bandeira verde e amarela ao espaço.