Comida de rua não rouba clientela de restaurantes
Em São Paulo, a comida de rua está em crise, mas segue em pauta. Os políticos perceberam que precisam reformular as leis e regras que dificultam essa prática quase clandestina. Todo país tem suas comidas de rua, que são representativas da cultura popular e uma importante manifestação urbana que se torna cartão-postal.
Ela se expressa das formas mais diversas, desde os populares pastéis de feira e carrinhos de pipoca, passando pelo yakissoba no pratinho, até chegar em preparos mais longos e elaborados - ainda pouco explorados pelo mercado paulistano.
Além de uma alternativa acessível de alimentação fora de casa, comida de rua é uma forma de ocupação da cidade e resgate da cidadania. Uma experiência que muitas vezes determina a impressão de um turista sobre a cidade por onde passa, pois cria uma identidade nacional e popular de diferentes sabores.
Na capital paulista a atividade está desgastada, abandonada e é vista pela população com reservas, embora resista. Isso porque a variedade oferecida ainda é muito pequena, não contribuindo para que o hábito de explorar essa nova experiência de comer surja nas pessoas.
Nem é preciso falar sobre a precariedade em que muitas vezes a comida de rua é servida, fazendo com que essa resistência aumente ainda mais. Mesmo assim, as pessoas querem retomar a cidade - comendo, bebendo, dançando, fazendo festa e se manifestando.
Nós, do movimento Botando Banca, ainda não podemos vender comida na rua, mas podemos ocupar nossas calçadas. Queremos botar o pé pra fora, montar banca, estar na boca do povo. Decidimos, assim, oferecer produtos de boa qualidade para serem consumidos em pé, despretensiosamente, de forma a promover essa cultura tão difundida por todo o mundo.
Como todo novo mercado, é preciso entender a fundo suas necessidades. Deve-se estabelecer regras para que se tenha controle da qualidade e da forma como os produtos são vendidos, evitando problemas sérios de saúde pública. Afinal, estamos falando de comida. Também é preciso evitar que surjam monopólios, restringindo essa atividade às mãos de poucos, enquanto muitos dependem dela para tirar seu sustento.
Queremos mostrar que, se bem estruturada legalmente, a comida de rua pode ser lucrativa para a cidade como um todo, gerando empregos. Enganam-se os donos de restaurantes, que ao contrário de nós, temem que esse novo negócio “roube” a sua clientela. São experiências distintas.
Comer na rua presume usar as mãos, em uma experiência descomplicada e com muito mais rapidez do que sentar-se para apreciar uma boa e longa refeição.
Entendemos então que há, sim, espaço para todos. Existe comida de rua no mundo inteiro, da mais simples à mais sofisticada. Por isso é melhor regulamentarmos e participarmos juntos deste processo, ao invés de simplesmente ignorarmos sua existência.
Foi pensando nesta questão que criamos esse manifesto, não apenas para afirmarmos nosso gosto e desejo para que essa prática se amplie no Brasil, como também para que as pessoas possam identificar onde ela está presente e por quem ela tem sido feita.
Defendemos que a comida de rua é, e deve ser, legal. Precisa ser de qualidade e barata. Deve também gerar emprego e renda, além de receber apoio de políticas públicas para seu aprimoramento e regulamentação.
A comida de rua deve ser variada e representar a diversidade cultural de São Paulo. É uma forma alegre de ocupar a rua e gerar segurança. A comida deve estar na rua, nas praças, nos parques, na frente de bares e restaurantes. Vamos ocupar a cidade!
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