Cultura do best seller e falta de livrarias restringem acesso à leitura
Finalmente enxergamos que é preciso regulamentar os mercados livreiro e editorial. É chegada a hora de tratarmos o livro não como uma simples mercadoria, mas sim como patrimônio cultural de uma nação. Enfim, o mercado percebeu que ter o comércio de livros nas mãos de poucos é extremamente comprometedor para a nossa rica bibliodiversidade e é um complicador para a nossa cultura.
A bibliodiversidade é uma preocupação do mercado livreiro com a formação do leitor. Trata-se de colocar à disposição uma maior variedade de títulos. Os grandes grupos editoriais e livreiros apostam na cultura do best seller. É claro que esses lançamentos mantêm muitas vezes o faturamento das livrarias, mas é necessário preocupar-se com a qualidade editorial e com a formação do leitor, que se dá por meio de bons livros clássicos.
Esses clássicos têm sido preteridos em virtude de terem um apelo comercial supostamente menor. A circulação dessas obras acaba sendo, de certa forma, esquecida, deixada de lado, para se priorizar as atualidades. Outra ameaça à bibliodiversidade é justamente a perda dos fundos de catálogo, os chamados de “cauda longa”. Esses não têm vendagem tão expressiva, mas são importantes e muitos estão esgotados, porque não há interesse de colocar em circulação livros com baixa vendagem.
Opinião - Ednilson Xavier
Concentração de mercado e restrições que as editoras impõem às pequenas e médias livrarias restringem o acesso ao livro e à leitura
Há mais de 10 anos a ANL defende a moralização do mercado livreiro brasileiro, indo muito além de estabelecer a Lei do Preço Fixo. Entendemos que a atuação do livreiro como agente literário pode contribuir muito para que possamos melhorar nossos precários índices de leitura. Para isto, é fundamental que todos que participam da cadeia produtiva, criativa e mediadora do livro valorizem a livraria do seu bairro, da sua cidade, e enxerguem nelas a possibilidade de formar novos leitores.
Não se pode negar, ainda, o avanço social por que passa o nosso país, a diminuição da desigualdade e o aumento da escolaridade, com acesso ao ensino em todos os níveis. Como complemento a essa ascensão cultural que vive o país, é necessário facilitar o acesso ao livro e à leitura, e faltam livrarias para esse público. Infelizmente, com a concentração de mercado e as restrições que as editoras impõem às pequenas e médias livrarias, o acesso ao livro e à leitura fica restrito às grandes superfícies.
Levantamento realizado pela ANL (Associação Nacional de Livrarias)constata um enorme deficit de livrarias no Brasil. Temos uma média de 1 livraria para 65 mil habitantes, sendo que o recomendado pela Unesco é de 1 livraria para 10 mil habitantes. A falta de livrarias nos mais diversos rincões de nosso país desestimula a leitura.
Por mais que queiramos investir e acreditar no mercado do livro digital, é na loja física que o livreiro consegue manter o seu negócio. É um mercado promissor. Desde que as regras do jogo sejam seguidas e respeitadas, podemos competir de forma justa. Isto é, o autor materializa sua ideia, a editora transforma em edição, a distribuidora abastece o mercado e o livreiro atende o leitor.
Como afirmado por alguns especialistas do setor, não basta a Lei do Preço Fixo para manter o setor saudável e equilibrado. É preciso que algumas práticas nocivas ao livreiro, principalmente de pequeno e médio porte, sejam revistas nas transações comercias.
Para implementação e um pacto pela leitura, é necessário vontade e valorizar parcerias entre editoras, distribuidores e livrarias.
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