Dono de santuário a Lúcifer vê perseguição religiosa: 'Só barram o nosso'

A interdição do santuário de Lúcifer em Gravataí (RS), por irregularidades burocráticas, foi vista pelo dono do local, o religioso Lucas Martins, como "perseguição religiosa".

O que aconteceu

O religioso Lucas Martins, autointitulado Mestre Lukas de Bará da Rua, afirma que a Nova Ordem de Lúcifer na Terra apresentou todos documentos necessários. Ele acredita que a prefeitura sempre inventa "uma desculpa" e que, por conta disso, já teve dois pedidos de alvará negados.

Temos uma ata de constituição, nós temos um estatuto, tudo isso registrado em cartório. Temos um CNPJ. O único documento que não temos é o bendito alvará, que depende da prefeitura. Como dizem que não estamos formalizados?
Lucas Martins

Embora a Justiça tenha reconhecido a liberdade de crença como um direito garantido pela Constituição, o juiz negou o funcionamento por falta de alvará. A prefeitura argumenta que o pedido para funcionamento continua em análise. Segundo nota oficial, a solicitação será apreciada pelo Conselho Municipal do Povo de Terreiro, colegiado responsável por autorizar empreendimentos religiosos, mas a decisão só deve ocorrer em 2025. "A decisão judicial confirma que o templo não cumpre os requisitos formais mínimos para abertura e funcionamento".

O impasse começou em agosto, quando a inauguração foi suspensa judicialmente. Na época, a prefeitura apontou que o Conselho Municipal do Povo de Terreiro, que analisaria o alvará, não estaria devidamente homologado. Lucas questiona a legitimidade desse argumento: "Esse conselho atua há quatro anos, liberou mais de 500 alvarás. Por que só barram o nosso?", questiona.

Santuário gerou polêmica desde sua fundação

A criação de um santuário dedicado a louvar Lúcifer gerou reações tanto políticas quanto sociais na cidade. O prefeito, segundo Lucas, teria se posicionado publicamente contra a instalação do santuário, o que, para os fundadores, comprova a perseguição. "O problema é Lúcifer. Existem igrejas e terreiros sem alvará, e ninguém fecha. Mas com a gente, tudo vira um problema".

O santuário ocupa uma área de 50 mil metros quadrados e atenderia apenas membros da ordem. Segundo os fundadores, o espaço foi planejado para rituais restritos e possui infraestrutura para acomodar os cerca de 100 adeptos da Nova Ordem de Lúcifer. "O prefeito fala em estudo de impacto como se o santuário fosse um Beto Carrero. É uma área privada, temos estacionamento e estrutura. Não faz sentido", argumentou.

A organização pretende recorrer da decisão judicial e acionar o Ministério Público. Lucas afirmou que uma nova equipe jurídica foi contratada e buscará reverter a situação. "Isso é perseguição disfarçada de burocracia. Vamos continuar lutando até termos o direito de louvar o nosso sagrado," concluiu.

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Relembre o caso

A Nova Ordem de Lúcifer na Terra foi fundada há dois anos em Gravataí, na Região Metropolitana de Porto Alegre. A sede da organização não fica em área urbana, mas em um sítio na área rural do município, cuja população é de pouco mais de 275 mil habitantes.

A ordem, derivada da Corrente 72, visa desmistificar a figura de Lúcifer, apresentado como o "portador da luz" e símbolo do autoconhecimento. Segundo os fundadores, Mestre Lukas de Bará da Rua e Tata Hélio de Astaroth, a ordem é composta por cerca de 100 membros ativos que participam de cultos restritos.

A instalação de uma estátua de 5 metros de altura no local, representando Lúcifer revoltou moradores da cidade. Eles teriam procurado a prefeitura para se queixar de "veneração ao demônio", segundo os fundadores. Porém, a imagem, explicam, simboliza a dualidade entre o humano e o espiritual. E o santuário foi projetado para abrigar "celebrações e rituais em contato com a natureza".

Logo após o anúncio de inauguração do monumento, na primeira quinzena de agosto, a prefeitura procurou a Justiça e impediu o evento. A Ordem recorreu da decisão, mas nesta segunda-feira (16) a sentença foi reiterada.

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