Acordo nuclear com Irã azeda relações entre EUA e Israel
Nos últimos tempos, Estados Unidos e Israel vêm se estranhando. Barack Obama não gostou nem um pouco da ida do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu para falar em uma sessão conjunta das duas casas do Congresso americano. Gostou menos ainda da vitória de Netanyahu nas eleições parlamentares israelenses.
Na verdade, o líder israelense foi ao Capitólio fazer política interna. O pronunciamento sobre o risco que um Irã nuclearizado representaria para o mundo, e para Israel em particular, aconteceu duas semanas antes das eleições para o Knesset (parlamento), nas quais o partido conservador Likud, de Bibi - como Netanyahu é chamado por seus seguidores - obteve 23% dos votos e assim pôde montar uma coalizão para governar o país.
Historicamente, as relações diplomáticas entre os Estados Unidos e Israel sempre giraram em torno da criação de um Estado palestino, impasse que se arrasta há 67 anos. Só que agora o cenário mudou. O assunto mais sério e mais ameaçador para os israelenses é o programa nuclear iraniano.
Na primeira semana de abril, representantes de Estados Unidos, Rússia, China, Grã-Bretanha, França, Alemanha e Irã assinaram, em Lausanne, na Suíça, um acordo através do qual o governo iraniano se compromete a não seguir adiante com seu projeto nuclear, que o governo de Teerã diz ter fins unicamente pacíficos. Declaração essa na qual ninguém acredita, afinal, por que diabos um país rico em petróleo como o Irã precisaria de usinas atômicas?
Na capital persa, a multidão saiu às ruas e comemorou ruidosamente a assinatura do tratado pois, se tudo correr conforme o combinado, os países ocidentais retirarão as sanções econômicas que estão em vigor contra o Irã e isso permitirá o crescimento do país.
O problema é que o populacho iraniano, em meio aos gritos de apoio ao acordo assinado na Suíça, gritou também “morte a Israel”, nação cuja existência o país se recusa a reconhecer.
Nem sempre as relações entre israelenses com iranianos foram inamistosas. Muito pelo contrário, entre 1948, ano de criação do estado judeu, e 1979, quando a vitoriosa revolução islâmica comandada pelo aiatolá Khomeini depôs o xá Mohammad Reza Pahlavi, dando lugar ao sistema teocrático que prevalece até hoje, o xá sempre manteve relações amistosas, embora não muito explícitas, com Tel Aviv.
A partir da revolução, o Irã se tornou inimigo mortal de Israel, pregando sua destruição. Como o regime dos aiatolás (Khomeini morreu em 1989, mas o sistema de governo teocrático que ele implantou prevalece até hoje) pregava ao mesmo tempo “morte ao Grande Satã” (Estados Unidos), nada mais natural do que mais essa aliança entre israelenses e americanos.
Barack Obama e Benjamin Netanyahu têm exatamente o mesmo objetivo final: impedir que o Irã fabrique armas atômicas. Mas os dois chefes de governo usam estratégias diferentes. Netanyahu quer manter pressão econômica contra o inimigo e, se preciso, bombardear suas instalações nucleares, tal como Israel fez com um reator iraquiano, em 1976. Obama prefere a via da negociação, como aconteceu agora em Lausanne.
Israel tem muito mais a temer do que os Estados Unidos. Em um cochilo de seu sistema de defesa, uma eventual bomba atômica iraniana poderia atingir seu pequeno território, não havendo a menor chance de o Irã atacar com sucesso os Estados Unidos, a dez mil quilômetros de distância.
O Irã não tem mísseis nem tecnologia para isso. Já Israel fica a menos de mil quilômetros do Irã. Por isso, Bibi tem a impaciência dos guerreiros, e Obama, a fleuma dos negociadores diplomáticos. Já os iranianos, não raro, se pautam pela inconsequência dos fanáticos.
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