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Janot nega "acordão" para proteger políticos nas investigações da Lava Jato

Leandro Prazeres

Do UOL, em Brasília

26/08/2015 11h48Atualizada em 26/08/2015 16h52

O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, negou nesta quarta-feira (26) a existência de um “acordão” entre o MPF (Ministério Público Federal) e agentes políticos para proteger suspeitos de envolvimento no esquema de desvios de recursos da Petrobras investigado pela operação Lava Jato. “Eu nego veementemente a possibilidade de qualquer acordo que possa interferir nas investigações”, afirmou Janot durante a sabatina a que é submetido na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça do Senado) como parte do processo de sua recondução ao cargo.

As declarações de Janot foram feitas após o senador Alvaro Dias (PSDB-PR) questioná-lo sobre os rumores da existência de um acordão para proteger políticos suspeitos de envolvimento no esquema da Lava Jato. “Há 31 anos, eu fiz uma opção pelo Ministério Público. Eu, a essa altura da minha vida, eu não deixaria os trilhos da atuação técnica do MP para me embrenhar num processo que eu não domino e não conheço que é o caminho da política. Sou Ministério Público, eu penso como Ministério Público, eu ajo como Ministério Público. Não há possibilidade de qualquer acordão”, afirmou o procurador.

Rodrigo Janot disse que, ainda que quisesse fazer algum tipo de acordo, essa prática seria impossível. “E tem um motivo muito simples. Porque todo o material colhido nas investigações, quando esse material não é mais para ficar sob o resguardo do sigilo, esse material é inteiramente aberto para o conhecimento de todo cidadão brasileiro. Terias que combinar com os russos”, afirmou.

A possibilidade de um “acordão” entre a PGR (Procuradoria Geral da República) e o governo, um dos principais afetados pelas revelações da operação Lava Jato, foi levantada pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Em reunião com aliados, Cunha disse que a PGR e o governo teriam feito um trato para prejudicá-lo.

Cunha foi denunciado ao STF (Supremo Tribunal Federal) pela PGR por crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro supostamente praticados dentro do esquema da Lava Jato. Segundo a denúncia da PGR, Cunha teria recebido US$ 5 milhões em propinas pagas pelo lobista Júlio Camargo por conta de contratos firmados entre a Samsung e a Petrobras. Além dele, também foi denunciado o senador Fernando Collor (PTB-AL), que tem dedicado seus discursos na tribuna do Senado a criticar Janot.

A operação Lava Jato investiga um esquema de desvio de recursos da Petrobras por meio de contratos superfaturados com empreiteiras. Parte dos recursos oriundos do superfaturamento seria, segundo as investigações, destinada a políticos e a partidos. Em março deste ano, a PGR pediu ao STF a abertura de inquérito contra 54 pessoas, entre elas, 13 senadores.

“A Petrobras foi e é alvo de um mega esquema de corrupção, um enorme esquema de corrupção”, disse o procurador a senadores, “Jamais vi algo precedente. Esse mega esquema de corrupção chegou a roubar nosso orgulho.”

Questionado pelo senador Lindbergh Farias (PT-RJ), também investigado pelo suposto envolvimento no esquema da Lava Jato, sobre uma eventual dificuldade da PGR de pedir o arquivamento de investigações contra políticos e partidos, Janot negou a hipótese levantada pelo petista e disse que os pedidos de arquivamento, as denúncias e os inquéritos foram pedidos independente do partido dos investigados.

“Durante dois anos, foram pedidos 269 arquivamentos de inquérito no âmbito da PGR, democraticamente distribuídos por integrantes de todos os partidos. Não há aqui prevalência de nenhum deles. Existiram 26 denúncias também democraticamente para aqueles que cometeram atos ilícitos independente de partido. E foi requisitada a instauração de 81 inquéritos, também, sem levar em consideração o partido político. Garanto ao senhor que a caneta que assina a denúncia é a mesma que assina o arquivamento”, disse Janot.

Caso aprovado pela CCJ, o nome de Janot passará por nova votação ainda hoje no plenário do Senado, onde precisará do apoio de, pelo menos, 41 dos 81 senadores. Em ambos os casos, a votação é secreta.