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SP: Doria volta atrás e desiste da Copa América; Comitê da covid era contra

João Doria durante entrega de unidades do Conjuntos Habitacionais Manuel Bueno e Osório, na Zona Leste de SP Imagem: Divulgação/Flickr Governo do estado de SP

Igor Siqueira e Lucas Borges Teixeira

Do UOL, em São Paulo

01/06/2021 19h13

O governador João Doria (PSDB) voltou atrás e oficialmente desistiu do aval de São Paulo ser sede da Copa América neste ano. Em meio às negociações, hoje, a CBF (Confederação Brasileira de Futebol) indicou preferência pelo Centro-Oeste, riscou o estado do horizonte —como o UOL adiantou—, e o governador ponderou sobre os resultados negativos da realização do torneio em território paulista. O Centro de Contingência do Coronavírus era contra a possibilidade de o estado receber os jogos.

Em nota divulgada no fim da tarde, Doria disse que pediu à CBF que "busque alternativas para a realização da Copa América fora do Estado de São Paulo". O texto ainda afirma que "cientistas apontaram que neste momento a realização do torneio representaria uma má sinalização de arrefecimento no controle da transmissão do coronavírus".

Como normalmente faz em casos de repercussão nacional, o governador também publicou um post nas redes sociais, citando o posicionamento do Centro de Contingência do Coronavírus, que auxilia o estado na tomada de decisões durante a pandemia.

Isso marca uma mudança de posição de Doria. Após a desistência da Colômbia e da Argentina, a Conmebol (Confederação Sul-Americana de Futebol) anunciou ontem que o torneio será realizado no Brasil, com início ainda em junho. Alguns estados, como Pernambuco, já se posicionaram contra, dado o momento delicado da pandemia.

São Paulo, por sua vez, havia dito que "não faria objeção" desde que "os protocolos do Plano São Paulo sejam obedecidos". O argumento de Doria era que, se outros campeonatos seguem ocorrendo, não haveria porque "criminalizar especificamente a Copa América".

A própria CBF, no entanto, mostrou pouco interesse para a realização do torneio no estado. Nesta tarde, antes de Doria se pronunciar, a confederação já havia indicado quatro das cinco sedes: Distrito Federal, Goiás, Mato Grosso e Rio de Janeiro.

Como obstáculo, a entidade viu a dificuldade de conseguir liberação dos estádios paulistas junto aos clubes (Corinthians, Palmeiras e São Paulo), já que o Brasileirão não será interrompido. No fim, decidiu pelo governador, que já vinha avaliando mudar de posição, como fontes confirmaram ao UOL.

Ruído no discurso do governo

O Centro de Contingência não chegou a um consenso do quanto a realização do torneio poderia, de fato, estimular aumento de casos —nem se pronunciou oficialmente. Parte dos médicos avalia que, de fato, ao seguir as diretrizes do Plano SP, que proíbem torcida, o evento é controlado. Outra parte vê, por sua vez, que um evento como este invariavelmente estimula aglomerações em bares e fora do estádio.

O problema mesmo, na avaliação dos médicos, é a mensagem passada. Desde o início da pandemia, o governo de São Paulo tem feito campanha pelo isolamento social. Ao permitir que um torneio deste porte seja sediado também na capital, por mais que os protocolos sejam seguidos, há uma imagem de relaxamento em um período não propício.

"O problema não é o estádio —se tiver jogo aqui, deverá ser sem torcida—, mas todo o resto. Você recebe delegações estrangeiras, vacinadas ou não, estimula a vinda de turistas de diferentes países, lota aeroporto, hotel, restaurantes por 30 dias. Como vai convencer o cidadão a ficar em casa?", questiona um dos especialistas.

A análise do discurso também está presente entre apoiadores do governador. Para pessoas próximas ao Palácio, Doria procura fazer um discurso coerente, como tem argumentado, mas enfraquece a imagem de gestor pautado pela ciência.

O cálculo, dizem os aliados, é que seria menos prejudicial fazer como Pernambuco e negar o torneio, visto que São Paulo já tem uma agenda cheia de jogos por causa dos clubes, que participam de Brasileirão, Copa do Brasil e Libertadores, do que comprar essa briga.

"Não podemos criminalizar a Copa América"

Em coletiva ainda nesta manhã, o governador argumentou que, como são realizados jogos de futebol de outros campeonatos no estado, sua gestão não poderia "criminalizar" uma competição específica.

"Se tivermos que ter uma atitude coerente, temos que parar o futebol em São Paulo. Agora, criminalizar especificamente a Copa América porque veio fruto de um entendimento do negacionista de Brasília, aí nós perdemos o bom senso", declarou Doria.

Obedecendo todos os protocolos rigorosamente, não há razão para a não-realização de um torneio aqui em São Paulo.
João Doria, governador de São Paulo (PSDB), mais cedo

Em coletiva ontem, Doria tentou desviar do tema, mas confirmou que o estado poderia sediar o torneio.

Na atual fase do Plano SP, vigente até, pelo menos, 14 de junho, torcidas e aglomerações ao redor do estádio estão proibidas. Ainda assim, embora o público não tenha entrado, cenas de torcedores comemorando ao redor das arenas foi muito comum no Paulistão.

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