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Servidores da imigração temem vírus ebola no Acre

Em Manaus

12/09/2014 20h47

Servidores públicos federais e estaduais que atuam no setor de imigração no Acre relataram estar receosos em contrair o vírus ebola de pessoas da África Ocidental, região onde ocorre a epidemia da doença.

Desde 2013, mais de dois mil imigrantes africanos entraram no Estado, que faz fronteira com a Bolívia e o Peru, sendo que a maioria é procedente do Senegal, país onde não foi notificada a transmissão do ebola.

O MTE (Ministério do Trabalho e Emprego), responsável pela emissão da carteira profissional aos imigrantes, confirmou em nota enviada à agência Amazônia Real que uma servidora suspendeu o atendimento aos senegaleses. O caso, que provocou constrangimentos aos imigrantes, aconteceu no início deste mês.

A Polícia Federal disse que seus agentes não paralisaram o atendimento na emissão de documentos de entrada dos senegaleses, mas anunciou que vai instalar procedimento disciplinar contra policiais que cometerem irregularidades contra os africanos.

Um policial ouvido pela agência Amazônia Real, que pediu para não ter o nome divulgado, disse que há preocupação em relação à transmissão do ebola. "Lógico que existe uma preocupação, mas não ao ponto de negar atendimento. Procuramos o Ministério da Saúde para obter medidas de prevenção", afirmou o agente.

Um dos coordenadores da Pastoral do Migrante na Amazônia, padre Valdeci Molinari, disse que os servidores públicos que atendem os imigrantes devem tomar cuidado com suas ações para não cometer discriminação contra os africanos de países onde ocorre o surto do vírus ebola.

"Essa questão do vírus ebola não pode ser vista de maneira generalizada. Não existe um caso no Brasil, portanto, não dá para criar uma discriminação ao imigrante", afirmou.

O temor do vírus ebola na fronteira do Acre aumentou no dia 29 de agosto, quando o governo do Senegal registrou o primeiro caso da doença no país. No entanto, a pessoa contaminada foi infectada na República da Guiné, onde o vírus foi detectado no início do ano e depois se propagou a Serra Leoa, Libéria e Nigéria.

Conforme dados da Secretaria de Estado de Justiça e Direitos Humanos do Acre, a rota da imigração irregular de africanos para o Estado começou em 2013, na esteira do maior fluxo de estrangeiros vindo do Haiti, após o terremoto naquele país em 2010.

Até o dia 10 de setembro haviam cruzado a fronteira 20.378 haitianos, 2.135 pessoas do Senegal, 19 da Nigéria, três de Gâmbia, dois de Gana e um de Serra Leoa.

Os africanos chegam ao Brasil após enfrentarem uma viagem de até um mês. No Acre, eles entram pelas cidades de Assis Brasil, Epitaciolândia e Brasileia.

Em Rio Branco, os imigrantes recebem apoio no abrigo humanitário mantido pelo governo do Acre. Atualmente vivem no local cerca de 500 estrangeiros, sendo 20 do Senegal e o restante do Haiti. Dois senegaleses ouvidos pela reportagem, Mamadou Lamin e Diagne Ababacar, afirmam que não sofreram preconceitos dos funcionários da imigração brasileira por causa do vírus ebola.

Em entrevista à agência Amazônia Real, Nilson Mourão, secretário estadual de Justiça e Direitos Humanos do Acre, afirmou que os servidores federais e estaduais que lidam com a imigração estão apreensivos com uma possível transmissão do vírus.

O secretário disse que o governo do Acre solicitou uma operação urgente dos Ministérios da Saúde, das Relações Exteriores, Desenvolvimento Social, Secretaria Nacional de Direitos Humanos e da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) na região de fronteira.

"Foi um pedido de urgência, urgentíssima, para que uma equipe faça a triagem e os procedimentos de praxe no controle do ingresso dos imigrantes que procedem do Senegal. Nós vamos colocá-los em quarentena? Vamos isolá-los? Vai fazer exames? Não sabemos. Esse pedido da operação foi feito antes de ser confirmado o caso no Senegal", afirmou Nilson Mourão.

O secretário de Justiça e Direitos Humanos do Acre disse que até o momento o Ministério da Saúde não enviou equipes para tratar sobre a prevenção do vírus ebola no Acre.

O Ministério da Saúde disse, por meio de nota à reportagem, que não há caso suspeito ou confirmado de ebola no Brasil e que o risco de transmissão por viajante internacional é considerado muito baixo pela própria Organização Mundial da Saúde (OMS).

"Por suas características, o vírus ebola apresenta baixo risco para transmissão por viajantes internacionais, razão pela qual a OMS não recomendou restrições de viagens ou comércio, o que vem sendo cumprido pelo Ministério da Saúde", afirmou a nota.

Segundo o ministério, "a triagem na saída dos aeroportos e portos internacionais dos países com transmissão, que já está sendo realizada, é a mais eficaz proteção contra uma possível, ainda que pouco provável disseminação por viajantes internacionais. Por recomendação da própria OMS, o Brasil não restringiu a entrada de estrangeiros ao país".

Na nota, o Ministério da Saúde afirmou que "é pouco provável a possibilidade de transmissão do vírus ebola em decorrência da entrada de haitianos e africanos - especialmente de países como Senegal, República Dominicana, entre outros - no Acre pela fronteira com o Peru.

Segundo o Ministério da Saúde, em atenção ao pedido do Governo do Acre, a Anvisa enviará uma equipe ao estado. "Em conjunto com a Secretaria Estadual do Acre, os técnicos da Anvisa irão avaliar os aspectos relacionados com a vigilância nos pontos de fronteiras e as condições sanitárias dos locais que realizam o atendimento aos imigrantes, fazendo as recomendações necessárias", disse o comunicado.