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Aulas de pintura ajudam ampliar vida social de idosos

10/03/2009 11h15

São Paulo - Com disposição física e memória de uma garota de 20 anos, uma senhora resolveu trocar os filmes, novelas e programas femininos vespertinos por aulas de pintura. Às vezes, por conta das sessões de fisioterapia, chega atrasada à aula, ministrada geralmente duas vezes por semana por um professor de pintura que conta com uma turma de cerca de 10 alunos. O ambiente colorido e iluminado ganha vida com a música erudita, usada para iniciar o processo de sensibilização da atividade.

O aconchegante cenário faz parte da rotina dos frequentadores e moradores do Hiléa, centro de vivência para a maturidade no Morumbi, na zona Sul DE são Paulo, que têm idades entre 60 e 93 anos. Muitos desconheciam o talento para a pintura e hoje até recebem encomendas para vender as "obras-de-arte". "Faço aulas de pintura há um ano e não tinha ideia de que pintaria um dia na vida. Claro que não tenho a intenção de me profissionalizar, mesmo assim recebo encomendas, faço e presenteio com o maior prazer", conta dona Elvira Barbosa Salles, de 66 anos.

"Não acredito que na escola eu não fazia nada de arte e hoje, velha, eu faço. Olho para minha pintura e pergunto para mim: "Será que foi eu quem fez? Eu sou boa ainda para alguma coisa. No ateliê a gente ganha autossuficiência. Tenho percebido que na arte a gente usa a memória, a inteligência e isso tem sentido", comenta uma das alunas do grupo, que preferiu não se identificar, mas revela ter 86 anos.

De acordo com Eduardo Valarelli, artista plástico e coordenador das atividades artísticas do Hiléa, os olhos dos alunos brilham a cada etapa proposta por ele."O diferencial da nossa proposta é ter a arte como um pilar e fazer com que eles percebam que podem ser autores e protagonistas. Trabalhamos com uma metodologia em conjunto, tanto o educador como os alunos", explica.

Comportamento

Valarelli lida há 12 anos com trabalhos com artes visuais em ambientes como hospitais e abrigos para jovens carentes. Segundo o professor, é nítida a melhora nos aspectos comportamentais das pessoas que participam do programa, pois desenvolvem a autoestima, restaurando a dignidade e a individualidade."A arte pode combater a depressão sentida pelas pessoas com mal de Alzheimer, por exemplo", diz ele. "Um estudo realizado em Brighton, Inglaterra, mostrou que metade dos pacientes com Alzheimer que participaram da pesquisa tiveram melhora em seus sintomas por conta das aulas de pintura".

A escola de arte Pincelando, no bairro do Campo Belo, também na zona sul de São Paulo, também investe na arte das vovós. "Depois de um tempo, quando já se conhecem melhor, elas acabam fazendo reuniões fora do ateliê, dão altas risadas e constroem uma nova vida social", conta Teresa Steuer, coordenadora da Pincelando.

Eduardo Diório