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Para tratar leucemia, família se muda para Roma

Fernanda Bassette

Em São Paulo

25/11/2013 14h57

Segunda-feira, 18 de novembro, 22 horas. O avião da empresa TAP parte de São Paulo com destino a Roma levando a bordo um passageiro especial: Caio Augusto Rodrigues Pereira, de 5 anos. Caio tem um tipo severo de leucemia e se mudou, temporariamente, para a capital da Itália, onde se submeterá a uma pesquisa clínica que avalia uma nova droga para a doença.

Droga não tem previsão de lançamento

A pesquisa clínica a que o menino Caio Augusto Rodrigues Pereira, de 5 anos, se submeterá é feita pela farmacêutica americana Amgen. O blinatumomab é uma droga biológica, chamada de anticorpo monoclonal (que age diretamente nas células doentes, preservando as sadias). Trata-se de uma classe terapêutica relativamente nova e o desenvolvimento é um dos maiores avanços da década no tratamento do câncer. A pesquisa deve terminar em 2014, mas não há previsão de quando a droga chegará ao mercado. De acordo com a assessoria da Amgen, o blinatumomab é testado em adultos desde 2010 e, desde 2012, em crianças. A pesquisa em menores de idade é liderada pela Alemanha, mas há um braço em Roma.

Com ele, viajaram os pais, Lara Cecília de Albuquerque Rodrigues, de 30 anos, e Leonardo Augusto Pereira, de 36. Deixaram no Brasil, aos cuidados da avó materna, o irmão caçula de Caio, Leonardo, de 1 ano e 6 meses. Essa foi a primeira viagem internacional da família, que mora em Teresina, mas tem passado muito tempo em São Paulo por causa do tratamento. Lara, que é bancária, está afastada do emprego e recebe um auxílio-doença do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Leonardo, advogado autônomo, praticamente deixou de trabalhar para se dedicar ao filho. Na bagagem da família embarcaram roupas de frio e o videogame de Caio - indispensável para mantê-lo ocupado, uma vez que atividades ao ar livre são arriscadas. Devem ficar na capital italiana de dois a três meses.

A doença

A leucemia linfoide aguda (LLA) foi diagnosticada em Caio quando ele tinha 2 anos e 4 meses. Em 80% dos casos, a doença é eliminada com sessões de quimioterapia, mas Caio está entre os outros 20% de casos mais complexos. Precisou passar por um transplante de medula - o doador foi o irmão. O bebê doou as células do cordão umbilical e as da medula óssea quando tinha 7 meses.

Por nove meses, Caio voltou a ter uma vida normal, sem a doença. A decisão de participar da pesquisa em Roma veio após um exame de rotina apontar que a doença havia voltado - e estava mais agressiva. “Foi um baque, pois ele estava muito bem clinicamente, não sentia nada”, lembra a mãe. Caio precisará ser submetido a um outro transplante de medula, com outro doador, mas para isso deverá estar sadio. Por isso, imediatamente voltou a passar por sessões de quimioterapia no Hospital Sírio-Libanês, na capital paulista, onde faz o tratamento, na expectativa de eliminar as células doentes. Não obteve sucesso.

Os médicos tentaram um novo protocolo de tratamento e importaram outro tipo de agente quimioterápico, mas também não conseguiram bons resultados. Era preciso pensar em nova opção. O hematologista Vanderson Rocha, que cuida de Caio, propôs mais uma alternativa: há uma pesquisa clínica de uma nova droga em andamento na Itália - um dos principais centros de hematologia pediátrica do mundo.

“Os resultados preliminares do uso do blinatumomab se mostraram promissores. Houve remissão da doença em cerca de 80% dos pacientes. É um índice muito alto. A gente tinha de tentar”, defende Rocha. Lara e Leonardo não pensaram duas vezes. Pagaram os R$ 99 mil que o hospital exigiu para admitir o filho na pesquisa com parte da verba arrecadada na campanha “Ajude Caio”, que teve início ainda no começo da doença do menino. Por se tratar de pesquisa, a medicação não é cobrada, mas todos os outros gastos hospitalares, sim. Além disso, os pais tiveram de desembolsar mais de R$ 10 mil pelas passagens, fora os gastos com hospedagem, transporte e alimentação.