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Danças circulares trazem união e autoconhecimento

O único pré-requisito para participar é ter vontade  - Aline Arruda/UOL
O único pré-requisito para participar é ter vontade Imagem: Aline Arruda/UOL

Luciana Alvarez

do UOL, em São Paulo

23/06/2012 07h00

A tradição de dançar em roda – como fazem as crianças, ou como fizeram povos ancestrais dos mais diversos lugares do mundo – vem sendo praticada por um número crescente de paulistanos como uma nova forma de fazer atividades físicas, se divertir e, sobretudo, de desenvolver laços de fraternidade. Este ano, as chamadas danças circulares chegaram a pelo menos dez parques da cidade de São Paulo, onde qualquer pessoa pode simplesmente aparecer, se juntar à roda e começar a dançar.

“A dança circular é um instrumento muito abrangente. Pode ter pessoas de todas as idades, com qualquer condicionamento físico e ser dançada em qualquer lugar. O único pré-requisito é ter vontade de participar”, afirma Arlenice Juliani, facilitadora do grupo Semeia Dança. Segundo ela, o movimento da dança circular tem ganhado adeptos por ser inclusiva e fortalecer as redes sociais de verdade em um mundo cada vez mais individualista e virtual. “Em roda, dá para sentir os valores humanos e a amorosidade”, diz.

Outra característica da dança circular que parece andar na contramão das demais práticas contemporâneas é a aceitação do erro. Quem erra algum passo nas coreografias não é eliminado, punido, excluído. “Claro que todos estão tentando acertar, mas não se trata de uma competição. Na roda, a gente aprende a lidar com as diferenças, a aceitar o outro como ele é, sem nunca excluir”, diz a focalizadora Soraya Mariani, da Cirandda da Lua. “Focalizador” é o nome oficial que recebe a pessoa que comanda a roda, escolhe as músicas e propõe as coreografias.

Apesar de ninguém ficar analisando o desempenho do outro na roda, a focalizadora da Cirandda da Lua diz ainda que a prática pode sim ser usada como uma forma de autoconhecimento. “Quem sempre erra os passos para trás pode parar e pensar: será que estou conseguindo lidar bem com o meu passado? Quem complica os passos mais fáceis deve refletir se não está complicando demais as coisas simples de sua vida”, explica Soraya.

Além dos parques e do mundo corporativo, a dança circular também vem sendo amplamente difundida em centros culturais e espaços esotéricos. Independentemente do local em que ocorra, o primeiro passo é sempre muito importante: marcar no chão, com algum objeto, onde será o centro da roda. A marcação tem um propósito prático e um místico: serve para que durante a dança o círculo se mantenha em forma, e também como representação do elemento divino. Por isso, é comum que no centro das rodas seja montado uma espécie de altar.

Parques da cidade de São Paulo onde é possível praticar as danças circulares gratuitamente

Parque do Ibirapuera (Portão 7, próximo ao viveiro Manequinho Lopes) – Quartas-feiras, às 9h
Parque da Aclimação – Terceiro domingo do mês, às 15
Parque Trianon – Terceiro domingo do mês, às 10h
Praça Buenos Aires – Quarto domingo do mês (exceto julho), às 10h
Parque da Luz (ao lado da Casa de Chá) – Segundo domingo do mês, às 10h
Parque da Independência - Segundo domingo do mês, às 14h30
Parque Piqueri, Tatuapé – Primeiro domingo do mês, às 10h
Parque Vila Guilherme – Segundas e quartas às 9h, terças às 14h
Parque do Carmo – Primeiro domingo do mês, às 10h30
Parque Lions Clube Tucuruvi – Terças-feiras, às 8h30

 

História


As danças circulares, ou danças circulares sagradas, foram criadas pelo bailarino e coreógrafo alemão-polonês Bernhard Wosien (1908 – 1986), com base em pesquisas sobre danças folclóricas de diversos povos. Na década de 1970, Wosien conheceu a comunidade alternativa de Findhorn, na Escócia, com a qual passou a promover a dança circular.

De acordo com as ideias de Wosien, o círculo, uma forma geométrica perfeita em que todos os pontos estão à mesma distância do centro, representa o espaço cósmico. As culturas antigas, mais ligadas à natureza, faziam da roda um ambiente de encontro social, seja dando ensinamentos em volta de uma fogueira, seja praticando rituais e danças. Assim, dançar em círculo esteve sempre presente no dia a dia de nossos ancestrais. Segundo seu criador, a dança circular praticada hoje é, na verdade, “uma recuperação de uma das mais antigas formas de arte, uma forma de meditação em movimento”.