Saúde bucal vai além da escovação dos dentes; veja mitos e verdades
A boca é a porta de entrada para vários males e a cárie é considerada a doença crônica mais comum do mundo. A estimativa é que cerca de cinco bilhões de pessoas, isto é, 88% da população mundial apresente o problema, considerado uma epidemia. Mas é claro que dá para se prevenir com medidas simples, como visitar o dentista de tempos e tempos, e não só nos momentos de urgência.
O que provoca o início da cárie é o acúmulo de placa bacteriana ou biofilme oral sobre a superfície dos dentes. “Tal placa nada mais é do que uma película rica em micro-organismos, que apresenta um meio propício ao aparecimento do problema. Ele se desenvolverá rapidamente na presença de outros fatores, como uma dieta desequilibrada e rica em açúcares, capaz de favorecer a manutenção de um pH ácido sobre a superfície, desencadeando desequilíbrios que provocarão a perda de minerais (cálcio e fosfato) do esmalte dental”, explica Hugo Roberto Lewgoy, membro da Associação Paulista de Cirurgiões Dentistas (APCD) e da International Association for Dental Research (IADR).
É importante frisar que uma higienização oral adequada, com escovação, utilização de escova interdental e uso do fio dental, auxilia no combate à formação da placa bacteriana, conforme explica Fábio Luiz Munhoz, cirurgião-dentista com mestrado em Implantodontia pela Universidade Santo Amaro e doutorado pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Depois das refeições
Há uma corrente entre os dentistas que afirma que devemos esperar, no mínimo, 30 minutos para escovar os dentes após as refeições. "Este é o tempo necessário para que a saliva possa agir e neutralizar o pH dos alimentos e das bebidas", diz Lewgoy.
A saliva, é bom frisar, tem um papel importante na fisiologia de remineralização do esmalte dental. Durante as refeições, o pH oral fica ácido e ocorre um aumento da perda mineral.
Por exemplo, itens como café, vinho, refrigerante e suco de laranja têm pH inferior a 5,0. Portanto, são ácidos e causam a chamada erosão ácida, com dissolução da estrutura dental (provocam a perda de íons cálcio e fosfato). Na realidade, praticamente todos os alimentos, molhos, condimentos e bebidas apresentem pH ácido.
O também cirurgião-dentista José Luiz Lucarelli, formado pela Faculdade de Odontologia de Bauru, especialista em Periodontia e mestrado em Laser pala pela USP, membro da Academia Americana de Cosmética Oral e da Sociedade Brasileira de Odontologia Estética, tem outra opinião. “Se esperar 30 minutos, a placa já estará formada, e será mais difícil removê-la.”
Como vemos, há duas correntes, a que defende escovar após meia-hora e a que sustenta escovar logo depois de comer. Vale, então, seguir as orientações do seu profissional de confiança.
A importância da escovação
A uma forma ideal de escovação dos dentes? A “técnica de Bass”, por exemplo, recomenda que a escova seja apoiada suavemente sobre a superfície dos dentes em um ângulo de 45 graus, com a metade das cerdas recobrindo a superfície dental e a outra metade envolvendo a gengiva. Sem pressionar a cabeça da escova de forma exagerada, deve-se realizar movimentos vibratórios circulares durante aproximadamente cinco segundos em cada uma das superfícies dos dentes.
É fundamental seguir uma sequência contínua, dente a dente, para não esquecer nenhuma parte ou possível nicho de retenção de placa bacteriana. As cerdas devem penetrar suavemente no sulco gengival e limpar com perfeição o contorno ou a margem dental.
A frequência exagerada de escovação, principalmente com a utilização de escovas duras e cremes dentais abrasivos, provoca, com o tempo, a abrasão do esmalte dental e a retração gengival. “O hábito de escovar os dentes é fundamental, porém uma higiene excessiva pode acabar prejudicando, ao invés de ajudar. Quando falamos na escovação, o importante é a qualidade e não a quantidade. É melhor fazê-lo um número menor de vezes – de duas a três, por exemplo –, mas sempre com a técnica correta e emprego de uma escova nova e adequada”, salienta Lewgoy.
Ele afirma também que não adianta escovar os dentes várias vezes por dia, mas por tempo insuficiente para a boa higiene. “Uma escovação bem realizada demora cerca de dez minutos. Então, é melhor fazê-lo duas ou três vezes, dedicando-se de verdade, do que cinco ou seis demorando apenas um ou dois minutos. O importante é conseguir desorganizar o biofilme oral (placa bacteriana) de todos os nichos possíveis nas superfícies dentais, de forma eficaz e sem provocar traumatismos.”
Vale lembrar a importância das escovas interdentais cuja função é higienizar a área entre os dentes, conhecida como região proximal, local côncavo que as escovas convencionais não conseguem acessar. E é importante escolher uma interdental de boa qualidade, pois deve haver uma relação adequada entre o diâmetro de inserção ou acesso da região proximal (diâmetro do fio) e o diâmetro de efetividade (diâmetro de limpeza). Por isso, vale pedir orientação do dentista.
Troca da escova
Segundo Lewgoy, o consumo de escovas dentais no Brasil é muito baixo: a média per capita de troca gira em torno de uma escova a cada um ano e meio. Em alguns locais distantes dos centros urbanos, esta estimativa é ainda pior, chegando a uma escova a cada dois anos e meio e, muitas vezes, famílias inteiras compartilham a mesma.
“Em países desenvolvidos e que conseguiram erradicar as doenças orais, o consumo chega a 12 escovas por ano por habitante, ou seja, uma escova por mês. O ideal seria trocar a escova mensalmente, mantendo a mesma com a máxima efetividade. Dessa forma, a escovação será sempre realizada sem o emprego de força exagerada – já que, quando as cerdas vão perdendo eficiência, aumentamos a carga.”
Já o cirurgião-dentista Fábio Munhoz lembra que escovas com cerdas macias são as melhores e mais adequadas para limpar os dentes e as gengivas de modo delicado e eficiente, enquanto as duras originam retração da gengiva e desgaste do esmalte dental. Lewgoy concorda e acrescenta que o ideal é utilizar uma escova ultramacia com uma grande quantidade de cerdas. A cabeça deve ser pequena e o cabo liso e flexível, possibilitando o alcance de regiões de difícil acesso, evitando a retenção de sujidades e permitindo uma higienização suave.
“Imagine duas pessoas limpando um chão de madeira brilhante, uma utilizando um escovão de jardim e outra uma escova de pelos. No primeiro caso, é possível que a limpeza não ficasse perfeita e o piso ainda ganhasse riscos e uma superfície fosca. O mesmo acontece com os dentes. Há escovas supermacias com mais de cinco mil cerdas, e estas são as ideais”, conta Lewgoy
A língua também
Fábio Munhoz lembra que as línguas apresentam retenções – fissuras – que podem alojar bactérias e placa bacteriana. Portanto, devem ser escovadas também e, para isso, o melhor é usar um raspador de língua.
Lewgoy acrescenta: “Na grande maioria dos casos, o mau hálito, ou halitose, tem origem na própria boca, principalmente na região da língua, que é um músculo revestido por papilas gustativas onde se forma um tipo de placa bacteriana denominada saburra lingual. A saburra é um material viscoso e esbranquiçado ou amarelado, que fica aderido ao dorso da língua, principalmente no terço posterior. É ali que se acumulam restos de alimentos e células que descamam do epitélio lingual e, pior, funcionam como meio de cultura para as bactérias existentes na cavidade oral. Com a fermentação dos resíduos, ocorre a liberação de substâncias ricas em enxofre, responsáveis pelo odor característico do mau hálito”
Ele frisa que a falta de higienização da língua (levando à formação de saburra) é a principal causa da halitose. As escovas dentais não foram desenhadas para a remoção dessa saburra, pois a cabeça e as cerdas provocam ânsia e o estímulo do vômito. Além disso, as cerdas ficam contaminadas pela saburra, o que facilita a proliferação dos microrganismos.
Assim, o processo de higienização oral não deve se limitar apenas ao hábito de escovar os dentes. A utilização de raspadores plásticos do tipo CTC para a língua é imprescindível. Eles devem ser empregados diariamente.
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