Bebida e remédios podem causar impotência? Veja mitos e verdades
A impotência sexual, ou disfunção erétil, como chamam os médicos, é uma questão que assombra homens de todas as faixas etárias, desde a adolescência até a terceira idade. Feito entre novembro de 2002 e fevereiro de 2003, com 2.862 homens de 18 grandes cidades de todas as regiões do país, o Estudo da Vida Sexual do Brasileiro (EVSB), conduzido pela psiquiatra Carmita Abdo, apontou a prevalência de 45,1% de indivíduos com disfunção erétil (31,2% mínima, 12,2% moderada e 1,7% completa) no Brasil.
"Homens com impotência apresentaram comprometimento da autoestima, dos relacionamentos interpessoais, menos relações sexuais por semana, mais relações extraconjugais, queixas de falta de desejo sexual e ejaculação rápida", apontava a pesquisa.
Já uma pesquisa feita pela Durex Global Sex Survey e divulgada no dia 21 de janeiro deste ano mostrou que 62% dos homens relataram alguma dificuldade em manter a ereção.
Mitos como o de que “homem que é homem, nunca falha” ou de que homem tem de estar disposto para o sexo a qualquer momento, sob qualquer circunstância – corroborados ainda mais no Brasil, um país ainda essencialmente machista – levam muitos homens a deixarem de procurar ajuda quando o problema aparece – por vergonha ou medo do diagnóstico.
Um homem leva, em média, dois anos para procurar ajuda após o surgimento do problema
Geraldo Faria, urologista membro e ex-chefe do departamento de Andrologia e Medicina Sexual da Sociedade Brasileira de Urologia
Sintoma silencioso
Procurar o médico, no entanto, é a atitude mais sensata a se ter neste momento: a impotência pode ser um indicativo, um “sintoma” silencioso de males maiores.
Hoje os médicos a consideram um marcador precoce de problemas cardiovasculares
Valter Javaroni, urologista da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU)
Entre homens que têm disfunção leve, a probabilidade de ocorrer este tipo de mal é de 6,5%, contra 2,9% entre os que não apresentam falhas na ereção, aponta estudo, intitulado Projeto Avaliar, organizado por um grupo de pesquisadores brasileiros em parceria com uma indústria farmacêutica. Nos pacientes com grau de disfunção severa, um em cada cinco também tem doenças cardiovasculares. A pesquisa ouviu 71.503 pacientes homens com 18 anos ou mais entre 2002 e 2003, em 380 cidades brasileiras.
A relação existe porque o processo de ereção envolve essencialmente a circulação sanguínea. Quando o homem fica excitado, há dilatação das artérias do pênis, e os corpos cavernosos (par de estruturas parecidas com esponjas, que ficam no interior do pênis) se enchem de sangue. Esse mecanismo faz com que o órgão aumente de tamanho e fique rígido.
Cheio de sangue, ele acaba por comprimir e fechar as veias que ficam na periferia (e que seriam as responsáveis por levar o sangue para fora). Com o líquido aprisionado, a ereção é mantida.
Quando há problemas circulatórios, as veias ficam mais estreitas e bloqueadas pela gordura acumulada, impedindo que o sangue flua para o pênis de maneira normal. “Muitos pacientes que tiveram infarto do miocárdio ou derrame relatam ter tido falhas na ereção alguns anos antes da doença. Isso porque as artérias do pênis são muito finas e, portanto, acabam sendo as primeiras a entupir devido ao acúmulo gradativo de gordura”, completa Faria.
Por isso, os fatores de risco para impotência são os mesmos que para as doenças do coração: hipertensão, diabetes, obesidade, colesterol alto, tabagismo e sedentarismo.
Para o homem que já tem alguma dessas doenças instaladas, a ida ao médico pode impedir que a impotência atinja um grau elevado ou até mesmo que se desenvolva.
“Muitos homens deixam de fazer o tratamento para hipertensão, por exemplo, com receio que a medicação cause disfunção erétil. Mas a hipertensão em si é um fator de muito mais risco para se desenvolver este problema e é bem pior não tratá-la”, destaca Faria.
Quem tem diabetes deve ter, ainda, atenção redobrada. “Nestes indivíduos o depósito de gordura e o enrijecimento dos vasos sanguíneos começam cedo. Tudo isso associado a problemas nos nervos, que também são afetados pela doença. E os nervos têm de estar saudáveis para mandar a ordem de ereção ao pênis”, explica Javaroni.
Idosos na ativa
A chance de desenvolver disfunção erétil cresce com a idade. Segundo o Estudo da Vida Sexual do Brasileiro (EVSB), “comparados aos homens com idades entre 18 e 39 anos, aqueles com 60 a 69 têm 2,2 mais risco para disfunção erétil, enquanto para aqueles com 70 anos ou mais, a chance triplica”.
Mas isso não significa que um homem de 90 anos não possa ter uma vida sexualmente ativa e uma ereção natural. “Quanto mais idade, mais doenças associadas à perda de ereção podem surgir, o que pode impactar no desempenho do homem. Há mais casos de disfunção erétil aos 60 anos do que aos 50, mas não quer dizer que todos os homens com 60 anos ou mais terão algum problema”, diz Faria.
A menor – ou maior chance – de se desenvolver a disfunção erétil depende também de como o homem leva a sua vida e cuida da sua saúde.
Para prevenir a disfunção erétil orgânica, a melhor forma é cultivar bons hábitos de vida, como alimentação de qualidade, exercícios físicos regulares, consumo moderado de bebidas alcoólicas e evitar o uso de cigarros e droga
Diego Villas-Bôas da Rocha, psicólogo especialista em sexualidade humana, do Centro de Sexualidade Humana
Javaroni pede, ainda, que os homens não se conformem com a impotência. “Antes, um homem de 65 anos acreditava que ficar impotente era normal. Hoje, o homem pode chegar aos 90 tendo atividade. Mas quem quer se manter sexualmente ativo tem de sair da poltrona. É possível chegar aos 100 anos sem precisar de remédio. Mas o homem precisa procurar o médico e ver sua saúde, para prevenir os problemas futuros. E também tem de manter a cuca boa”, frisa.
Emoções em ordem
A impotência pode ter ainda causas psicológicas ou mistas (com componentes físicos e emocionais). Esta última ocorre quando há um fator orgânico impedindo a ereção completa e, devido a essas falhas, o indivíduo acaba por desenvolver um medo e ansiedade na hora do sexo, o que piora a situação e bloqueia ainda mais a ereção.
Entre os fatores psicológicos, a depressão se destaca. “A pessoa com um quadro depressivo maior não tem energia nem vontade para uma série de atividades rotineiras da vida, inclusive o sexo. Além disso, muitos dos antidepressivos comumente receitados têm como efeito colateral a diminuição da libido, podendo também causar impotência”, explica Rocha.
Segundo ele, outras causas de origem emocional incluem: a ansiedade, a insegurança, o medo do relacionamento, a autoimagem negativa, conflitos relacionados à religião, choques econômicos, problemas familiares, estresse, falta de privacidade, sentimento de menos valia, medo de contrair alguma DST e até falta de desejo pela parceira.
Diferentes graus
É importante salientar que falhar algumas vezes ao longo da vida é normal para qualquer homem, e não é sinal de doença ou de que se ficará impotente em algum momento. “Todo homem vai experimentar alguma falha em algum momento, seja por cansaço, ansiedade ou outros fatores psicológicos”, fala Faria.
O que vai caracterizar impotência ou não é a frequência com que essas falhas ocorrem.
Quando são falhas sucessivas ou dificuldade de ter ou manter a ereção repetidas vezes, por um longo período de tempo, vale investigar se a causa é emocional apenas ou também orgânica
Geraldo Faria
Diagnosticada a disfunção erétil, o médico avaliará qual o seu grau para indicar o melhor tratamento: leve (ou mínima), moderada e severa (ou completa). Na primeira, o homem ainda consegue realizar a penetração, mas não tem a ereção completa.
“Ele já se sente incomodado e percebe que não está com uma boa rigidez”, explica Faria. Neste grau, é importante manter a autoconfiança para não desenvolver um temor de falhar, o que pode dificultar ainda mais a ereção.
No segundo caso, o homem já começa a apresentar dificuldade de penetração e a menor rigidez leva a um número maior de falhas na hora da relação sexual. Já nos casos mais graves, quando a disfunção erétil é severa, o homem não consegue nem ereção. “Em geral, é consequência de obstrução das artérias por doença cardiovascular ou de lesão nos nervos por retirada de câncer de próstata”, explica Faria.
Tratamentos
Existem três tipos de tratamento para a disfunção erétil. A medicação via oral é sempre uma das primeiras opções prescritas pelos médicos, devido a sua eficácia.
Quando os remédios não funcionam ou o paciente não se adapta bem a eles, há a opção da medicação injetável. Antes da relação sexual o homem deve aplicar uma injeção no pênis contendo uma substância que o ajudará a ter a ereção.
Em último caso, quando os dois tratamentos anteriores não oferecem uma resposta adequada, os médicos indicam o implante de prótese peniana. Existem dois tipos:a primeira, uma prótese maleável (bastão de silicone com hasta metálica flexível) que é colocada dentro do corpo cavernoso – quando for ter a relação sexual, o homem deve dobrá-la para deixar o pênis ereto.
A segunda opção é a prótese inflável, bem mais complexa. O mesmo tipo de bastão é colocado dentro do corpo cavernoso, só que ao invés da haste de metal, ele fica vazio e ligado a uma pequena bomba implantada na região do escroto que, por sua vez, está conectada a um reservatório ao lado da bexiga, contendo soro fisiológico. Na hora da relação, o homem deve apertar a bombinha próxima ao escroto para que o reservatório seja acionado e o pênis se encha de soro fisiológico, reproduzindo a ereção.
Em geral, a prótese peniana é indicada quando a impotência é resultado da obstrução das artérias por doença cardiovascular ou quando há lesão nos nervos por retirada de câncer de próstata. Algumas vezes, durante essa operação, os nervos que comandam a ereção são afetados, o que pode deixar o indivíduo impotente.
No caso de disfunção erétil com fundo psicológico, a terapia sexual é a melhor opção. Ela pode ser feita individualmente ou junto com a parceira (o). “A terapia ajuda homens, mulheres e casais a refletirem, pensarem e viverem a sua sexualidade de forma mais plena e harmoniosa.
O terapeuta precisa ser empático para que seja constituída a aliança terapêutica. Isto é imprescindível para que o trabalho possa se desenvolver e atingir os objetivos desejados”, fala Rocha.Nos casos de disfunção erétil de causas mistas (orgânicas e psicológicas), o tratamento envolve tanto a medicação quanto a terapia.
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