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Paciente fica 40 dias em corredor de hospital da BA aguardando cirurgia

Mário Bittencourt

Do UOL, em Vitória da Conquista

26/07/2014 07h39Atualizada em 29/07/2014 17h51

Depois de ficar quarenta dias em uma maca no corredor do Hospital Geral de Vitória da Conquista, no interior da Bahia, o pintor José Henrique Oliveira, 18, finalmente deixou a unidade de saúde na terça-feira (22). Ele foi internado na unidade de saúde depois que quebrou a perna durante um acidente de trânsito. “Fiquei lá esperando pela cirurgia no fêmur por um mês e dez dias”, contou.

O tempo perdido por Oliveira na unidade de saúde poderia ter sido bem diferente se a UPA (Unidade de Pronto Atendimento) que está sendo construída ao lado do hospital já estivesse pronta.

Anunciada em 2012 pelo governador Jaques Wagner (PT), a obra serviria para desafogar o hospital, que faz 120 atendimentos por dias e sofre com superlotação e falta de leitos há pelo menos quatro anos. No entanto, ela está pelo menos seis meses atrasada --era para ter sido entregue entre o final do ano passado e o começo deste ano.

Em nota, o governo da Bahia afirmou que 82% da construção já foi feita e que o atraso ocorreu em função da implantação do Sistema de Monitoramento de Obras (Sismob), desenvolvido pelo Ministério da Saúde, que aumentou "o rigor na fiscalização de todas as obras em execução no país".

O Sismob serve para fiscalizar as obras de engenharia e infraestrutura de Unidades Básicas de Saúde, UPAs e Academias da Saúde financiadas com recurso federal. Questionado, o governo estadual, no entanto, não explicou porque o atraso foi de seis meses. 

Agora, a previsão é de que a unidade fique pronta em uma semana, até 31 de julho. A área, porém, não foi pintada, não tem piso, portas ou janela, e a área externa ainda está com chão de terra batida.

A UPA vai custar R$ 3,6 milhões e deve fazer cerca de 300 atendimentos diários.

Secretaria de Saúde da Bahia afirma que UPA não realiza "cirurgias de alta complexidade"

Por meio de nota oficial, a Sesab (Secretaria de Saúde da Bahia) negou a relação entre o atraso na entrega da UPA e o tempo de espera para a realização na cirurgia de Oliveira, isso porque a unidade de saúde em questão não realiza procedimentos como uma operação no fêmur.

"A Sesab informa que de acordo com a portaria do Ministério da Saúde 342/2013, no seu artigo 7º, inciso III estabelece, dentre outras atribuições da UPA: “prestar atendimento resolutivo e qualificado aos pacientes acometidos por quadros agudos ou agudizados de natureza clínica, e prestar primeiro atendimento aos casos de natureza cirúrgica e de trauma, estabilizando os pacientes e realizando a investigação diagnóstica inicial, de modo a definir, em todos os casos, a necessidade ou não de encaminhamento a serviços hospitalares de maior complexidade”. Fica claro no texto acima que uma UPA não tem por finalidade  realizar de cirurgias de alta complexidade citada na matéria".

Além disso, o informe da Sesab afirma que o tempo de espera para a realização de uma cirurgia não depende apenas da disponibilidade de equipe médica e espaço em centro cirúgico.

"As condições clínicas do paciente [...] são fatores fundamentais para determinar o tempo de espera de qualquer procedimento médico[...]. O paciente obrigatoriamente precisa reunir condições clínicas satisfatórias para realização de qualquer ato cirúrgico e não apenas da estrutura física e de profissionais".

Outras obras, mais atrasos

Terceira maior cidade da Bahia, com quase 340 mil habitantes, segundo o IBGE de 2013, Vitória da Conquista tem ainda mais duas UPAs e uma unidade básica de saúde que estão com o cronograma de obras atrasado.

Se estivessem funcionando, as UPAs poderiam realizar procedimentos de raio-X, eletrocardiografia, pediatria e exames e internação nos leitos de observação.

No bairro Patagônia, na zona sul da cidade, a UPA prometida em 2012 sequer foi adiante. O local onde ela funcionaria foi abandonado pela prefeitura, que, há um ano, devolveu ao dono o prédio de dois andares.

A situação é crítica também na obra da UPA no bairro Senhorinha Cairo (zona leste), onde há uma placa do Ministério da Saúde num terreno que parece baldio e sequer foi delimitado. A placa informa que a construção teria início em 17 de fevereiro de 2014, com prazo de um ano. O valor da obra é de R$ 2.668.365,30.

“Se ela já estivesse funcionando seria muito bom, porque o posto de saúde do bairro só faz atendimentos básicos, não faz exame. Para conseguir fazer um raio-x é um sacrifício”, conta o aposentado Almir dos Santos Pereira, 74.

As queixas se repetem no posto de saúde do bairro Morada dos Pássaros, também na zona sul, que atualmente está com as paredes deterioradas pelo tempo e com infiltrações. Em frente, está sendo construída, desde 20 de janeiro, uma unidade básica de saúde três vezes maior que deveria ter ficado pronta no dia 20 de julho.

Nesta terça-feira, apenas dois homens trabalhavam na obra, orçada em R$ 362.450.

As obras são do Ministério da Saúde e quem as executa é a prefeitura local. Questionado, o Ministério da Saúde se limitou a informar apenas que já liberou R$ 150 mil para a unidade básica da Morada dos Pássaros. Já a prefeitura de Vitória da Conquista foi procurada pelo UOL para explicar o motivo dos atrasos, mas não se manifestou.