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Cirurgia de Angelina para evitar câncer leva à menopausa e queda da libido

Angelina Jolie se submeteu a cirurgia de retirada de ovários e das trompas de Falópio - Getty Images
Angelina Jolie se submeteu a cirurgia de retirada de ovários e das trompas de Falópio Imagem: Getty Images

Camila Neumam

Do UOL, em São Paulo

24/03/2015 17h02

Uma rara mutação genética que aumenta o risco de ter câncer nos ovários fez a atriz Angelina Jolie retirá-los em uma cirurgia preventiva, mesmo sabendo que entrará na menopausa por causa disso. A bela atriz e símbolo sexual poderá perder a libido e suas curvas por deixar de produzir hormônios femininos produzidos nos ovários, de acordo com especialistas.

A cirurgia considerada radical não é a única forma de prevenir o câncer decorrente da mutação genética, segundo médicos consultados pelo UOL. Uma alimentação equilibrada, aliada a exercícios físicos e a um rigoroso acompanhamento médico, pode evitar o crescimento de tumores e a retirada das mamas e dos ovários e impedir a mutilação.

No entanto, a escolha da atriz é considerada compreensível por envolver um alto risco e pelo histórico familiar, já que a mãe e a tia de Angelina morreram de câncer.

Há 15 dias, a atriz retirou os ovários e as trompas de Falópio, dois anos depois de ter extirpado as mamas para evitar um risco de câncer nos seios. Ela contou detalhes da cirurgia em um artigo publicado nesta terça-feira (24) no jornal "The New York Times".

Um teste genético realizado pela atriz anos atrás apontou uma mutação no gene BRCA1, encontrado em todo ser humano, cuja função é impedir o surgimento de tumores através de reparos no DNA, mas que age de forma contrária quando danificado. A mutação do gene é associada ao maior risco de câncer de mama e ovários nas mulheres e de mama e de próstata nos homens.

O exame mostrou que ela corria um risco de até 87% de desenvolver câncer de mama e 50% de ter câncer de ovário devido à mutação. O teste é indicado para quem tem casos de câncer na família, mas é recomendável somente depois de alguns indícios, que podem ser detectados em exames de sangue ou de toque nas mamas.

Entenda o risco

A mutação do gene BRCA1 atinge somente 0,1% da população mundial, fazendo com que a grande maioria dos casos de câncer de mama e de ovários tenha outras causas e somente 5% a 10% sejam por causas genéticas. Como a alteração genética aumenta o risco, leva-se em conta a retirada dos seios e dos ovários em mulheres que já engravidaram.

“A retirada dos ovários, das trompas e das mamas é uma das condutas realizadas em pacientes de risco, mas não a única. Ela é radical e tem de ser feita em idade precoce, preferencialmente até os 40 anos, porque a mulher ainda produz hormônios nos ovários, o que aumenta a chance de câncer. Quanto mais idade, maior a chance de desenvolver a doença”, afirma Reynaldo Augusto Machado Júnior, ginecologista da Beneficência Portuguesa de São Paulo.

Angelina Jolie fez a última cirurgia aos 39 anos, conforme orientação de seu médico, que disse que a cirurgia preventiva deveria ser feita cerca de dez anos antes dos primeiros sinais de câncer de seus familiares. A mãe dela foi diagnosticada aos 49 anos.

“A retirada das trompas e dos ovários diminui 90% da possibilidade da mulher com o gene mutante ter a doença, mas não a extingue por completo”, afirma Machado Júnior. “Os 10% restantes levam em conta a possibilidade de tumores crescerem em tecidos que sobraram na mama após a cirurgia e de se reproduzirem no peritônio (tecido abdominal). As trompas são retiradas neste caso para evitar que ali cresçam tumores”, diz.

Menopausa e reposição hormonal

Outro agravante da retirada dos ovários é a menopausa precoce, já que despenca a produção dos hormônios estrógeno e progesterona, produzidos pelos ovários. Sem eles, a mulher começa a sentir os sintomas típicos da menopausa: ondas de calor, insônia, perda de massa óssea, ressecamento da vagina, depressão, dor nas relações sexuais e queda na libido, entre outros.

“Essa mulher vai ter complicações de uma menopausa precoce que envolve a queda dos hormônios. São sintomas incômodos que podem trazer sintomas depressivos, uma osteoporose desencadeada pela perda de massa óssea e queda na libido, porque o ovário também produz testosterona”, diz Machado Júnior.

Segundo o ginecologista Domingos Mantelli, a reposição hormonal pode ajudar a evitar os sintomas, mas por ter potencial cancerígeno também aumenta a chance de desenvolver outros tipos de câncer, especialmente no endométrio.

“A reposição hormonal envolve dosagens de hormônios femininos e o câncer está intimamente ligado à exposição ao estrogênio”, diz Mantelli.

Fazer reposição no caso de Angelina Jolie soa contraditório na opinião de Machado Júnior, justamente pelo risco de câncer que a técnica envolve.

“É muito questionável tirar o ovário para parar de produzir hormônio e dar hormônio a ela”, diz.

Tem como adiar a cirurgia?

Os casos mais comuns de câncer de ovários aparecem depois dos 50 anos, fator que pode ser levado em conta para o adiamento da cirurgia de remoção, segundo o ginecologista Domingos Mantelli.

“É uma decisão muito particular, mas eu acredito que a mulher pode lançar mão de outros artifícios para melhorar a qualidade de vida, já que é uma cirurgia muito radical. Você pode fazer acompanhamento com exames, hormônios, marcadores tumorais e, se detectar algo, ir para a cirurgia”, diz Mantelli.

Segundo o ginecologista, com acompanhamento feito a cada três meses, se for descoberto algum tumor, será ainda em fase inicial, garantindo enorme chance de cura. Ter uma alimentação equilibrada e fazer exercícios físicos diminuem o risco por ajudar no equilíbrio da imunidade. Já o tabagismo e o abuso do álcool atrapalham e devem ser evitados.