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"Tenho medo de pegar dengue e morrer", desabafa aposentado

Ernesto Moreira, 60, já levou dois parentes mais jovens para o hospital com suspeita de dengue - Mirthyani Bezerra/UOL
Ernesto Moreira, 60, já levou dois parentes mais jovens para o hospital com suspeita de dengue Imagem: Mirthyani Bezerra/UOL

Mirthyani Bezerra

do UOL, em São Paulo

06/05/2015 19h58

Hoje foi a segunda vez em uma semana que o aposentado Ernesto Moreira, 60, esteve na emergência do Hospital Municipal Professor Dr. Waldomiro de Paula, em Itaquera, na zona leste de São Paulo. Mas ele não era o paciente. Pelo menos “não ainda”, segundo ele mesmo disse à reportagem do UOL.

 

Nas duas ocasiões, Moreira acompanhava familiares que buscavam atendimento por suspeita de dengue na unidade de saúde, que ganhou, nessa terça-feira (5), uma tenda para atendimento exclusivo de pessoas com a doença. “Minha nora começou a sentir muita dor no corpo, na cabeça, enjoo e falta de apetite. Faz uns três dias que ela está assim”, contou. O aposentado disse que “já tinha visto esse filme” há menos de uma semana, quando precisou levar o filho de 37 anos ao mesmo posto de emergência.

 

O aposentado brincou dizendo que, “se não pegou ainda, não pega mais”, se referindo à doença que já deixou “de cama” duas pessoas das sete que vivem na sua casa. Mas, já no fim da entrevista, confessou sentir medo. “A gente fala que não tem medo, mas dá medo sim. Estamos numa epidemia e a doença é perigosa. Tem perigo até de morrer”, desabafou.

 

O medo de Moreira não é sem razão. Segundo levantamento feito pelo jornal "Folha de S. Paulo" com informações de 130 dos 169 óbitos registrados no Estado de São Paulo, nove em cada dez mortos pela dengue eram pessoas com mais de 60 anos, ou seja, eles são 87% das vítimas da doença. “Lá em casa até cloro a gente coloca nos vasos das plantas, mas chega na casa do vizinho e ele não toma nenhuma providência. Se as pessoas tomassem providência, não aconteceria epidemia”, disse Moreira.

 

Com as idas ao hospital, ele contou que já aprendeu a lição. Se tiver dengue, precisa tomar bastante líquido e ficar de repouso. “Quando o meu filho estava com dengue, todo mundo em casa ficava em cima para ele tomar água. A mulher dele o fazia beber de todo jeito”, disse. Até a comparar os níveis de plaquetas no exame de sangue, Moreira aprendeu. “Se as plaquetas baixam, é sinal de alerta”, afirmou.

 

Tenda Itaquera

Tenda Itaquera - Mirthyani Bezerra/UOL - Mirthyani Bezerra/UOL
A Tenda Itaquera é a nona instalada pela Prefeitura de São Paulo para atendimento exclusivo de pacientes com suspeita de dengue
Imagem: Mirthyani Bezerra/UOL
A tenda do Hospital Municipal Waldomiro de Paula é a nona instalada pela Prefeitura de São Paulo para atendimento exclusivo de pacientes com suspeita de dengue. No seu primeiro dia de funcionamento, foram atendidas 170 pessoas, em uma média de atendimentos de 18 pacientes por hora, sendo 90% deles formados por adultos.

Os pacientes que estavam no começo da tarde desta quarta-feira (6) na tenda contaram que o atendimento direcionado encurtou o tempo de espera. “Na semana passada, cheguei com o meu filho aqui na emergência às 7h e só saímos às 15h. Hoje cheguei às 13h com a minha nora e o atendimento foi rápido. Estamos só esperando o resultado do exame de sangue”, contou Moreira.

Na área leste da cidade, segundo a Secretaria Municipal de Saúde, foram registrados até abril 2.454 casos confirmados da doença, o que corresponde a 11,8% do total de notificações da cidade.